GLOBO REPÓRTER – 30/05/2008
Exma. Mídia:
Assistindo a reportagem das proezas de pessoas que com sorte, saíram do nada para uma vida abastada e sabendo que são poucos no universo de pessoas existentes, me veio à mente a facilidade com que a mídia encontrou para mostrar um lado bem sucedido de uma minoria brasileira.Sabemos todos nós que a maioria vivem umas realidades diferentes, que mesmo lutando com todas as forças não conseguiram chegar lá impedidos na maior parte por injustiças e decepções sofridas. Até hoje com 47 anos de vida, nunca vi nenhum desses milhões... Receber destaque em algum canal de TV com tamanho valor ser mostrado ou reportado com tanta ênfase em um programa tradicional e famoso como o Globo Repórter, e, escrevo porque pertenço à classe desses milhões detentores de uma história diferente da mostrada com destaque em Rede Nacional em 30/05/2008. Sendo assim fica uma pergunta ainda sem resposta, porquê? Será meu mundo outro? Creio que não, pois sei que minha história, que é igual a muitas que existem e representa muito para mim, não seja de interesse das grandes reportagens ou até mesmo de opiniões defendidas por “valores” detentoras e patenteadas por grandes conglomerados de comunicação que com reportagens como a divulgada sexta-feira à noite na mídia, se abastece e ao mesmo tempo se sustenta na publicidade de incentivo do consumismo desenfreado seja o produto qual for, alimentando a ilusão e fantasia das pessoas, sendo assim catastrófico para a sociedade no despertamento da busca e cobiça... Sem precedentes daquilo que muitas vezes não se pode alcançar. Escrevo não como um desabafo, mas uma opinião de um cidadão brasileiro que como tantos outros tem uma opinião a ser defendida, mesmo assistindo, outras opiniões formadas e defendidas com unhas e dentes.
Obrigado.
Saturday, May 31, 2008
Wednesday, May 28, 2008
Crise bilateral em discussão
Os vice-chanceleres da Colômbia e do Equador, Camilo Reyes e José Valencia, se reuniram ontem no Panamá para encontrar uma solução definitiva à crise bilateral. A tensão começou em 1º de março, quando tropas colombianas invadiram o território equatoriano, para atacar um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e mataram o guerrilheiro Raúl Reyes. Na semana passada, os chefes militares de ambos os países também se encontraram no Panamá, para decidir sobre o reestabelecimento da “cartilha se segurança” na fronteira.
Camilo Reyes e José Valencia já tinham conversado em 29 de abril (no Panamá) e em 13 de maio (em Lima), mas a crise persiste. Segundo o governo equatoriano, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, continua a acusar os vizinhos de serem cúmplices das Farc. As conversas iniciadas ontem também terão a participação de Víctor Rico, representante pessoal do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.
Folha de São Paulo McCain quer acordo nuclear com Rússia
McCain quer acordo nuclear com Rússia
DANIEL BERGAMASCO - DE NOVA YORK
O senador John McCain, virtual candidato republicano à Presidência dos EUA, se distanciou da política internacional unilateralista do presidente George W. Bush ao defender ontem em discurso que os Estados Unidos busquem "parcerias" globais para redução do arsenal de armas nucleares.
No pronunciamento em Denver, Colorado, McCain defendeu especialmente a negociação com a Rússia para redução de armas nucleares e também citou a abertura de diálogo com a China sobre o tema.
"A Rússia e os Estados Unidos não são mais inimigos mortais. Como nossos dois países possuem a esmagadora maioria de armas nucleares do mundo, nós temos uma responsabilidade especial de reduzir esse número", declarou, em uma clara ruptura com pronunciamentos anteriores em que foi muito mais duro com o antigo rival dos anos de Guerra Fria.
Em outro momento, o senador afirmou que os EUA devem ser "um modelo para os outros". "Isso significa não apenas perseguir nossos próprios interesses, mas reconhecer que compartilhamos interesses com povos ao redor do planeta", disse McCain, para quem a abertura diplomática se baseia no "grande e permanente poder da América de liderar".
Diferente de Bush
O pronunciamento de ontem foi o segundo no qual o senador do Arizona enfatizou sua visão sobre diálogo multilateral distinta da de Bush -que apóia sua candidatura e participou à noite de evento para levantar fundos para a campanha.
Na primeira vez em que pontuou diferenças, há algumas semanas, o candidato declarou que, como presidente, estaria disposto a fazer concessões para combater o aquecimento global. Bush, por sua vez, é pouco flexível sobre o tema, tendo retirado o país do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.
Já na política internacional sobre armas, Bush rompeu em 2002 o Tratado Antimísseis Balísticos (TAB), criado em 1972, no qual países concordavam em não construir sistemas de defesa antimísseis.
"O que McCain disse no discurso sobre armas nucleares soa muito mais próximo da política do [ex-presidente Richard] Nixon e de George Bush pai, que defendiam que os EUA deveriam ser um modelo e, assim, liderar o mundo. É um retorno à maneira de liderar do Partido Republicano", disse à Folha Matthew Bunn, especialista em política internacional e proliferação nuclear da Universidade Harvard.
"Já Bush filho não se importa em dar exemplo a ninguém e adotou uma política que o distancia do resto do mundo, como você pode ver por Guantánamo", afirmou, citando a prisão em base militar que os EUA mantêm em Cuba para suspeitos de terrorismo e onde prisioneiros denunciaram a prática de tortura.
Protesto
No salão da Universidade de Denver onde McCain fez o discurso, o candidato foi interrompido algumas vezes por manifestantes contra a Guerra do Iraque, cuja continuidade é apoiada pelo candidato. Em resposta, McCain repetiu: "Eu nunca me renderei no Iraque".
McCain ainda citou a Coréia do Norte e o Irã, com os quais "é preciso ser mais rígido" na verificação de armas nucleares, e voltou a refutar a proposta do rival democrata Barack Obama de dialogar com países "hostis".
Folha de São Paulo Documento bilateral teve três revisões
DA REDAÇÃO
No seu discurso de ontem, McCain afirmou que apóia um novo acordo de redução de armas com a Rússia para substituir o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês), que expira em 2009. O governo Bush tem se recusado a aceitar novos limites obrigatórios de redução dessas armas.
O Start, de 1991, visou a a redução do arsenal atômico das duas potências. Firmado meses antes do fim da União Soviética, foi visto como um pacto para encerrar a Guerra Fria.
O texto obrigava os dois lados a reduzirem em 35% seu estoque de armas nucleares de longo alcance, avaliado em 10 mil ogivas cada, em sete anos -a meta foi alcançada. O Start-2, que entrou em vigor em 1996, e o Start-3, de 1997, pretendem reduzir o estoque de ogivas para 2.000 de cada lado até 2012.
Segundo especialistas, os EUA dispõem hoje de pelo menos 5.300 ogivas operacionais e 5.000 em reserva. A Rússia teria 4.700 armas nucleares operacionais.
O Globo FAB muda 15% das rotas de helicópteros no Rio
Tiros contra aeronaves e aumento do tráfego aéreo são as causas; Aeronática estuda ainda outras alterações
Antônio Werneck, Fábio Vasconcellos e Taís Mendes
No ano passado, a Aeronáutica implantou no Rio novos corredores de circulação de helicópteros e alterou o desenho de algumas rotas, levando em conta a insegurança de pilotos e passageiros e também o aumento do volume de tráfico aéreo na Região Metropolitana. A informação foi revelada em nota pelo comando da Força Aérea Brasileira (FAB), admitindo que as alterações atingiram cerca de 15% do traçado, com o estabelecimento de novas altitudes, rumos e até novas rotas.
Ainda segundo a FAB, novas mudanças podem acontecer no espaço aéreo do Rio este ano. O assunto será discutido na reunião que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) realizará nos próximos meses, em data a ser definida. Na pauta de discussões, os "problemas relacionados com o movimento de aeronaves na região do Rio de Janeiro, a exemplo do que já aconteceu em São Paulo, em fevereiro deste ano", diz a nota. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou ontem a existência de registros na Gerência Regional (Ger 3) - como noticiou ontem O GLOBO - de helicópteros atingidos por balas quando sobrevoavam morros do subúrbio do Rio, em 2007.
Helicóptero foi atingido por bala na sexta-feira passada
Apesar das mudanças, um novo caso aconteceu na última sexta-feira: um helicóptero modelo esquilo AS 350 B, fabricado em 1986, foi atingido por uma bala de fuzil no tanque de combustível quando seguia, com seis pessoas, do Rio para Ibitipoca, em Minas Gerais. O incidente aconteceu por volta das 9h30m, na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, na Penha, a cerca de 500 pés de altitude (cerca de 160 metros a partir do ponto mais alto). A bala perfurou a fuselagem, atingiu o tanque de combustível e se alojou no banco a cerca de três centímetros de um dos passageiros.
Logo que percebeu que o aparelho havia sido atingido, o piloto entrou em contato com a torre de controle do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e foi autorizado a fazer um pouso de emergência. No helicóptero, além do piloto, não identificado, estavam o empresário Arthur Bahia; a mulher, a artista plástica Mucki Skowronski; o casal de empresários mineiros Renato e Cristina Machado; e a arquiteta Márcia Müller. Ninguém ficou ferido. A Polícia Civil abriu ontem à tarde inquérito para investigar o caso.
Governador recebeu e-mail da artista plástica
O governador Sérgio Cabral assegurou que vai continuar a enfrentar os criminosos, lembrando que os moradores do Complexo do Alemão também sofrem com a violência.
- Até conheço pessoalmente as pessoas que estavam no helicóptero e fiquei muito sentido. Imagino o pavor. Nosso objetivo é dar tranqüilidade à população, seja para quem anda de helicóptero, para quem anda a pé ou para quem mora nessas comunidades, os que mais sofrem. Recebi um e-mail da Mucki (referindo-se a artista plástica Mucki Skowronski, uma das passageiras) e ontem mesmo respondi. São meus amigos. Disse que sentia muito e que imaginava o terror que sentiram - afirmou o governador Sérgio Cabral.
Os vice-chanceleres da Colômbia e do Equador, Camilo Reyes e José Valencia, se reuniram ontem no Panamá para encontrar uma solução definitiva à crise bilateral. A tensão começou em 1º de março, quando tropas colombianas invadiram o território equatoriano, para atacar um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), e mataram o guerrilheiro Raúl Reyes. Na semana passada, os chefes militares de ambos os países também se encontraram no Panamá, para decidir sobre o reestabelecimento da “cartilha se segurança” na fronteira.
Camilo Reyes e José Valencia já tinham conversado em 29 de abril (no Panamá) e em 13 de maio (em Lima), mas a crise persiste. Segundo o governo equatoriano, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, continua a acusar os vizinhos de serem cúmplices das Farc. As conversas iniciadas ontem também terão a participação de Víctor Rico, representante pessoal do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.
Folha de São Paulo McCain quer acordo nuclear com Rússia
McCain quer acordo nuclear com Rússia
DANIEL BERGAMASCO - DE NOVA YORK
O senador John McCain, virtual candidato republicano à Presidência dos EUA, se distanciou da política internacional unilateralista do presidente George W. Bush ao defender ontem em discurso que os Estados Unidos busquem "parcerias" globais para redução do arsenal de armas nucleares.
No pronunciamento em Denver, Colorado, McCain defendeu especialmente a negociação com a Rússia para redução de armas nucleares e também citou a abertura de diálogo com a China sobre o tema.
"A Rússia e os Estados Unidos não são mais inimigos mortais. Como nossos dois países possuem a esmagadora maioria de armas nucleares do mundo, nós temos uma responsabilidade especial de reduzir esse número", declarou, em uma clara ruptura com pronunciamentos anteriores em que foi muito mais duro com o antigo rival dos anos de Guerra Fria.
Em outro momento, o senador afirmou que os EUA devem ser "um modelo para os outros". "Isso significa não apenas perseguir nossos próprios interesses, mas reconhecer que compartilhamos interesses com povos ao redor do planeta", disse McCain, para quem a abertura diplomática se baseia no "grande e permanente poder da América de liderar".
Diferente de Bush
O pronunciamento de ontem foi o segundo no qual o senador do Arizona enfatizou sua visão sobre diálogo multilateral distinta da de Bush -que apóia sua candidatura e participou à noite de evento para levantar fundos para a campanha.
Na primeira vez em que pontuou diferenças, há algumas semanas, o candidato declarou que, como presidente, estaria disposto a fazer concessões para combater o aquecimento global. Bush, por sua vez, é pouco flexível sobre o tema, tendo retirado o país do Protocolo de Kyoto, destinado a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa.
Já na política internacional sobre armas, Bush rompeu em 2002 o Tratado Antimísseis Balísticos (TAB), criado em 1972, no qual países concordavam em não construir sistemas de defesa antimísseis.
"O que McCain disse no discurso sobre armas nucleares soa muito mais próximo da política do [ex-presidente Richard] Nixon e de George Bush pai, que defendiam que os EUA deveriam ser um modelo e, assim, liderar o mundo. É um retorno à maneira de liderar do Partido Republicano", disse à Folha Matthew Bunn, especialista em política internacional e proliferação nuclear da Universidade Harvard.
"Já Bush filho não se importa em dar exemplo a ninguém e adotou uma política que o distancia do resto do mundo, como você pode ver por Guantánamo", afirmou, citando a prisão em base militar que os EUA mantêm em Cuba para suspeitos de terrorismo e onde prisioneiros denunciaram a prática de tortura.
Protesto
No salão da Universidade de Denver onde McCain fez o discurso, o candidato foi interrompido algumas vezes por manifestantes contra a Guerra do Iraque, cuja continuidade é apoiada pelo candidato. Em resposta, McCain repetiu: "Eu nunca me renderei no Iraque".
McCain ainda citou a Coréia do Norte e o Irã, com os quais "é preciso ser mais rígido" na verificação de armas nucleares, e voltou a refutar a proposta do rival democrata Barack Obama de dialogar com países "hostis".
Folha de São Paulo Documento bilateral teve três revisões
DA REDAÇÃO
No seu discurso de ontem, McCain afirmou que apóia um novo acordo de redução de armas com a Rússia para substituir o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (Start, na sigla em inglês), que expira em 2009. O governo Bush tem se recusado a aceitar novos limites obrigatórios de redução dessas armas.
O Start, de 1991, visou a a redução do arsenal atômico das duas potências. Firmado meses antes do fim da União Soviética, foi visto como um pacto para encerrar a Guerra Fria.
O texto obrigava os dois lados a reduzirem em 35% seu estoque de armas nucleares de longo alcance, avaliado em 10 mil ogivas cada, em sete anos -a meta foi alcançada. O Start-2, que entrou em vigor em 1996, e o Start-3, de 1997, pretendem reduzir o estoque de ogivas para 2.000 de cada lado até 2012.
Segundo especialistas, os EUA dispõem hoje de pelo menos 5.300 ogivas operacionais e 5.000 em reserva. A Rússia teria 4.700 armas nucleares operacionais.
O Globo FAB muda 15% das rotas de helicópteros no Rio
Tiros contra aeronaves e aumento do tráfego aéreo são as causas; Aeronática estuda ainda outras alterações
Antônio Werneck, Fábio Vasconcellos e Taís Mendes
No ano passado, a Aeronáutica implantou no Rio novos corredores de circulação de helicópteros e alterou o desenho de algumas rotas, levando em conta a insegurança de pilotos e passageiros e também o aumento do volume de tráfico aéreo na Região Metropolitana. A informação foi revelada em nota pelo comando da Força Aérea Brasileira (FAB), admitindo que as alterações atingiram cerca de 15% do traçado, com o estabelecimento de novas altitudes, rumos e até novas rotas.
Ainda segundo a FAB, novas mudanças podem acontecer no espaço aéreo do Rio este ano. O assunto será discutido na reunião que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) realizará nos próximos meses, em data a ser definida. Na pauta de discussões, os "problemas relacionados com o movimento de aeronaves na região do Rio de Janeiro, a exemplo do que já aconteceu em São Paulo, em fevereiro deste ano", diz a nota. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou ontem a existência de registros na Gerência Regional (Ger 3) - como noticiou ontem O GLOBO - de helicópteros atingidos por balas quando sobrevoavam morros do subúrbio do Rio, em 2007.
Helicóptero foi atingido por bala na sexta-feira passada
Apesar das mudanças, um novo caso aconteceu na última sexta-feira: um helicóptero modelo esquilo AS 350 B, fabricado em 1986, foi atingido por uma bala de fuzil no tanque de combustível quando seguia, com seis pessoas, do Rio para Ibitipoca, em Minas Gerais. O incidente aconteceu por volta das 9h30m, na Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, na Penha, a cerca de 500 pés de altitude (cerca de 160 metros a partir do ponto mais alto). A bala perfurou a fuselagem, atingiu o tanque de combustível e se alojou no banco a cerca de três centímetros de um dos passageiros.
Logo que percebeu que o aparelho havia sido atingido, o piloto entrou em contato com a torre de controle do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e foi autorizado a fazer um pouso de emergência. No helicóptero, além do piloto, não identificado, estavam o empresário Arthur Bahia; a mulher, a artista plástica Mucki Skowronski; o casal de empresários mineiros Renato e Cristina Machado; e a arquiteta Márcia Müller. Ninguém ficou ferido. A Polícia Civil abriu ontem à tarde inquérito para investigar o caso.
Governador recebeu e-mail da artista plástica
O governador Sérgio Cabral assegurou que vai continuar a enfrentar os criminosos, lembrando que os moradores do Complexo do Alemão também sofrem com a violência.
- Até conheço pessoalmente as pessoas que estavam no helicóptero e fiquei muito sentido. Imagino o pavor. Nosso objetivo é dar tranqüilidade à população, seja para quem anda de helicóptero, para quem anda a pé ou para quem mora nessas comunidades, os que mais sofrem. Recebi um e-mail da Mucki (referindo-se a artista plástica Mucki Skowronski, uma das passageiras) e ontem mesmo respondi. São meus amigos. Disse que sentia muito e que imaginava o terror que sentiram - afirmou o governador Sérgio Cabral.
Sunday, May 25, 2008
Lula afirma que instabilidade na América do Sul é um 'sinal de vida'
Para presidente, união regional mexerá com tabuleiro do mundo
BRASÍLIA. Ao abrir a solenidade de assinatura do tratado criando a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as instabilidades na região são um "sinal de vida" na América do Sul. Lula disse ainda que no continente "floresce a democracia". Sem se referir às turbulências nos países vizinhos, Lula destacou que todos os governantes da região foram eleitos em pleitos democráticos e com ampla participação popular.
- A instabilidade que alguns pretendem ver em nosso continente é sinal de vida, especialmente vida política. Não há democracia sem povo nas ruas, sem confronto de idéias e propostas. Mas há tampouco democracia sem regras e diálogo - disse o presidente.
Lula afirmou que a América do Sul, unida, "mexerá com o tabuleiro do mundo". Ele aproveitou para convidar os demais países da América Latina e do Caribe a entrarem para a Unasul.
- Nossos vizinhos latinos e caribenhos estão convidados a participar dessa união, que nasce também sob o signo da diversidade e do pluralismo - afirmou.
Lula critica protecionismo de países desenvolvidos .O presidente destacou que a região passa por uma excepcional fase de crescimento econômico e, não por acaso, tornou-se um dos principais pontos de investimentos do mundo.
- Estamos superando a inércia e as resistências que, ao longo de 200 anos de vida política independente, impediram que trilhássemos juntos o caminho da unidade. Tiraremos proveito da vastidão de nosso território, banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico e pelo Mar do Caribe. Valorizaremos a diversidade de nossos povos e de nossas culturas.
Lula voltou a criticar o protecionismo praticado pelos países desenvolvidos. Disse que o crescimento da indústria e da agricultura e o grande potencial energético na região incomodam.
- Não nos deixemos iludir pelos argumentos daqueles que, por interesses protecionistas ou motivações geopolíticas, sentem-se incomodados com nosso crescimento - destacou.
Já ciente de que não seria criado ontem o Conselho Sul-Americano de Defesa, Lula defendeu, mesmo assim, o novo foro, que será instituído dentro de 90 dias. Citando como exemplo a Minustah (força militar da ONU voltada à reconstrução e pacificação do Haiti), o presidente afirmou que as Forças Armadas brasileiras estão comprometidas com a construção da paz. Ele propôs uma nova reunião no segundo semestre, no Brasil, para que sejam detalhados os objetivos e o funcionamento do conselho.
- Devemos articular uma visão de defesa na região fundada em valores e princípios comuns, como o respeito à soberania, à autodeterminação, à integridade territorial dos Estados e à não-intervenção em assuntos internos.
Ele ressaltou que todas as decisões a serem tomadas pela Unasul terão de ser por consenso. Segundo Lula, pretende-se avançar rapidamente com projetos inovadores e de grande alcance em áreas prioritárias, como integração financeira e energética; melhora da infra-estrutura regional e das conexões rodoviárias e ferroviárias; estabelecimento de uma vigorosa agenda de cooperação em políticas sociais; e fortalecimento da cooperação educacional.
Lula destacou ainda a necessidade de trocas comerciais "justas e equilibradas", para que sejam corrigidas as assimetrias entre os países da região.
- Vamos desenvolver parcerias em setores estratégicos, como indústria aeronáutica, medicamentos e equipamentos militares - disse.
O Globo
Cúpula Sul-Americana- União enfraquecida
Lula não consegue aprovar a criação do Conselho de Defesa para região
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escapou ontem de uma desmoralização na reunião de chefes de Estado da América do Sul. Ele não conseguiu emplacar seu projeto de implementação de um Conselho Sul-Americano de Defesa e, por pouco, o tratado que cria a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) não foi assinado, devido à resistência do presidente do Equador, Rafael Correa, que considerou a estrutura da nova instituição excessivamente burocrática. Correa só mudou de idéia após obter garantia de que o documento será ajustado para dar mais agilidade ao processo de integração.
Para convencer Correa de que, sem a sua assinatura, o encontro se transformaria em um fiasco, Lula foi cedo ao hotel onde ele estava hospedado. Tomou café da manhã com Correa, o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales. Segundo fontes ligadas ao Palácio do Planalto, foi uma reunião tensa, que só foi solucionada com a intervenção direta de Chávez.
- O Equador assumiu a posição de assinar o tratado, com o compromisso de melhoramos o documento, que passará a ter uma estrutura mais ligeira. Com a grande quantidade de conselhos e a burocracia, não há como funcionar a integração - disse Correa ao GLOBO, momentos antes de embarcar para Quito.
Conselho de Defesa adiado por 90 dias
Quanto ao Conselho Sul-Americano de Defesa, a proposta foi adiada por 90 dias, devido à oposição da Colômbia. Protagonista da derrubada do novo foro - que, se dependesse do governo brasileiro, seria assinado mesmo sem a adesão dos colombianos - o presidente Álvaro Uribe deixou ontem claro que a idéia não sairá do papel enquanto persistir a simpatia e a interlocução de outros países da região com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Uribe voltou a exigir que o grupo seja classificado de "terrorista".
Esse posicionamento foi discutido por Uribe com Lula a portas fechadas. A mensagem foi que o Conselho de Defesa só poderá existir com garantias de que grupos terroristas não ameacem os países da região. O Brasil, porém, é contra classificar as Farc de terroristas, sob o argumento de que a definição deve partir das Nações Unidas. Na prática, isso significa que o projeto é natimorto, diante da falta de perspectiva de consenso nessa área.
- Não aceitamos integrar o Conselho, porque temos um problema de terrorismo muito grave, que gerou dificuldades políticas com países vizinhos de povos irmãos. O Conselho precisa oferecer garantias de que grupos terroristas não possam ofender a nenhum país - disse Uribe.
E acrescentou:
- O continente deve se atrever a qualificar como terroristas todos os grupos violentos que atentam contra a democracia.
Mas o passo mais importante que levou ao recuo em relação ao Conselho foi dado pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, logo na abertura do encontro. Ela propôs o adiamento por três meses e, ainda, a criação de um grupo de trabalho cujo objetivo é analisar melhor o tema, detalhar a proposta e consolidar sugestões encaminhadas pelas nações sul-americanas.
- Propus a criação de um grupo de trabalho para que, em 90 dias, seja revisada a proposta do presidente Lula tendo em vista as preocupações que tenham cada país em relação ao tema - explicou Bachelet.
Lula não admite fracasso da reunião
Para Lula, mesmo sem o Conselho de Defesa, não houve fracasso no encontro de ontem, tendo em vista que os 12 países concordaram com a criação da Unasul - que era o principal foco da reunião, convocada extraordinariamente para esse fim:
- Aquilo que parecia impossível aconteceu aos olhos dos descrentes. A América do Sul está mais integrada do que nunca, porque acabamos de aprovar por unanimidade o tratado da Unasul.
Sobre o Conselho de Defesa, Lula lembrou que está há seis anos no poder e que as decisões que envolvem mais de um país são amplamente discutidas antes de se concretizarem.
O Globo
Ligações perigosas com as Farc
Congressistas e estrangeiros são acusados de auxiliar guerrilha. Uribe troca farpas com Correa
Numa nova frente da crise política que envolve a Colômbia, o procurador-geral do país, Mario Iguarán, revelou ontem que foram encontrados indícios de envolvimento de congressistas de Colômbia, Equador e Venezuela, jornalistas e integrantes de ONGs com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Entre os acusados está a senadora Piedad Córdoba, que participou de negociações que libertaram reféns da guerrilha. O escândalo já é chamado na Colômbia de farcpolítica, numa alusão à parapolítica, que envolve aliados do governo e grupos paramilitares.
Fontes da polícia colombiana revelaram a jornais locais que a denúncia contra Piedad Córdoba indicaria que suas comunicações com as Farc foram muito além de gestões para a libertação de reféns. Ela teria trocado pelo menos 900 e-mails com as Farc. Dezenas, feitos com o pseudônimo Teodora de Bolívar, teriam sido trocados diretamente entre a senadora e o guerrilheiro Raúl Reyes. Ontem, 56 deles foram enviados a um tribunal para a abertura de investigação.
A senadora defendeu-se afirmando que o governo pretende jogar uma "cortina de fumaça" para desviar a atenção do escândalo da parapolítica, que já levou 40 parlamentares da base governista à prisão:
- Sou uma perseguida política. Estão fazendo de tudo para mostrar que estamos em pé de igualdade. Falaram com guerrilheiros desmobilizados para convencê-los a declarar que me viram em acampamentos da guerrilha.
O anúncio da investigação ocorreu enquanto os presidentes dos três países estavam em Brasília, na criação do Unasul. Não houve o confronto que alguns temiam, mas Álvaro Uribe (Colômbia) e Rafael Correa (Equador) passaram o dia se alfinetando. Enquanto o colombiano fortalecia o discurso de que as Farc são um grupo terrorista e deve ser combatido como ameaça à democracia na região, o equatoriano rebatia que a campanha "midiática" e do vizinho deixou as relações bilaterais em estado "crítico".
Uribe começou a manhã declarando que iria desmanchar uma "armadilha" das Farc, que estaria mascarada como uma ação humanitária: o pedido de desmilitarização da região de Florida. Segundo ele, a proposta iria abrir corredores de "relativa curta distância" entre pontos estratégicos, inclusive com saída ao Pacífico.
- Vamos mostrar que por trás de um aparente espírito humanitário está a vontade de reconquistar Caguán. Nós, colombianos, não vamos cair na enganação, na armadilha, que as Farc estão tentando "vender" - disse Uribe.
Não tardou muito e assessores de Correa improvisaram uma entrevista logo após o encontro principal da cúpula. Nela, o presidente ironizou a investigação de equatorianos na Colômbia:
- Que ousadia investigar equatorianos. Sugiro que também investiguem a narcopolítica e os paramilitares que invadem a Colômbia.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que as acusações de envolvimento do seu governo com as Farc são mentirosas:
- Isso foi um show de um agente da Interpol que já trabalhou no governo dos EUA. Ele violou as regras da Interpol, faz parte da estratégia imperialista. Fontes da Interpol dizem que não é possível garantir a origem da informação.
Ontem, o procurador-geral Iguarán solicitou que a Corte Suprema de Justiça investigue os congressistas, que têm foro privilegiado: além de Piedad, a senadora Gloria Inés Ramírez e o deputado Wilson Borja. Ele pediu também que o tribunal averigue os casos da deputada equatoriana María Augusta Calle, que foi diretora da Telesur em seu país; o também equatoriano Iván Larrea, irmão do ministro da Segurança Interna e Externa, Gustavo Larrea; o venezuelano Amílcar Figueroa, deputado do Parlamento Latino; o antropólogo americano James Jones; e a funcionária de ONG de direitos humanos Liliana Obando. Além destes, também serão investigados os jornalistas colombianos William Parra, da Telesur; Carlos Lozano, da revista "Voz"; o ex-candidato presidencial Álvaro Levya Durán; e o colunista Lázaro Viveros.
Grande parte da denúncia se baseia em informações dos computadores que Bogotá diz ter recuperado no acampamento onde foi morto o número dois das Farc, Raúl Reyes, no Equador.
- Em princípio, (a investigação será feita) pelo que foi encontrado nos computadores, correios (eletrônicos) por exemplo. Há referências que poderiam indicar algo que vai muito além de gestões com intenção de conseguir a paz - disse o procurador-geral.
Constituinte do Equador repudia investigação
O deputado Borja e a senadora Gloria Inés teriam trocado dezenas de e-mails com as Farc. Segundo fontes da investigação, o material indica que eles excederam sua condição política, parecendo assessorar a guerrilha.
Sobre os estrangeiros, Iguarán afirmou que seria possível processá-los na Colômbia por serem acusados de crimes como atentado à segurança nacional, e financiamento do terrorismo. A deputada equatoriana acusada, María Calle, liderou a votação de uma resolução ontem na Assembléia Constituinte, pedindo que o povo do país se mobilize contra "atitudes guerreiras" de Uribe.
Já Iván Larrea, irmão do ministro da Segurança equatoriano, acusou o governo Uribe de tentar prejudicar a relação entre os dois países.
- Isso está sendo feito para gerar uma caça às bruxas e provocar uma escalada do conflito entre os dois países - disse Iván Larrea.
O venezuelano Figueroa concordou:
- Uribe busca meter a Venezuela no conflito interno colombiano.
Jornalistas e funcionários de ONGs envolvidos confirmaram os e-mails com as Farc, mas seu objetivo seria de trabalho ou para ajudar na libertação de reféns.
O Globo
Obama quer nova aliança com América Latina
Em seu discurso mais enfático sobre o continente, senador critica Brasil mas aponta país como exemplo a seguir
NOVA YORK. O senador Barack Obama fez ontem o mais importante pronunciamento sobre sua política para a América Latina, em Miami, e o Brasil foi mencionado como "exemplo a ser seguido no continente". Obama propôs uma nova "aliança para o desenvolvimento" no continente e inverteu o velho ditado que diz que "tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para as Américas".
- Minha política para as Américas será orientada pelo princípio simples de que o que é bom para os povos das Américas é bom para os EUA - disse, citando em seguida como exemplo as favelas do Rio: - Isto significa que a medida do sucesso não será apenas a dos acordos entre governos, mas também dar esperança às crianças das favelas do Rio, segurança aos policiais da Cidade do México e respostas aos apelos dos prisioneiros políticos de Havana.
Críticas à produção de etanol e ao desmatamento
Na sua proposta de nova "aliança para o desenvolvimento"para o continente, Obama diz que o Brasil tem o maior potencial de produção de energia renovável da América Latina e também alguns dos desafios para enfrentar a degradação do meio ambiente. Ele acrescentou, porém, que a liderança brasileira na produção de etanol e o desenvolvimento do país não foram alcançados sem prejuízos para o meio-ambiente:
- A Floresta Amazônica, uma região de importância fundamental e estratégica para o combate ao aquecimento global, já perdeu 20% de sua mata para dar lugar a fazendas de soja, e ambientalistas do mundo inteiro alertam que o cultivo da cana pode causar ainda mais desmatamento.
Para ele, a solução é formar uma nova parceria entre EUA e Brasil, a fim de aumentar a produtividade:
- Farei um apelo ao povo americano para formar um time de engenheiros e cientistas para desenvolver soluções energéticas limpas em vários países. Este é o único papel importante que os EUA podem desempenhar. Podemos oferecer mais do que a tirania do petróleo. Podemos aprender com o progresso feito por um país como o Brasil e fazer das Américas um modelo para o mundo. Nós podemos oferecer liderança que sirva à prosperidade e à segurança comum para todo o continente.
O senador pretende engajar-se num esforço diplomático para promover a democracia e os valores americanos, imediatamente fornecer permissões de viagens e de remessas de dinheiro, mercadorias e de medicamentos para Cuba, criar uma parceria energética visando ao desenvolvimento sustentável, lançar um programa de combate à criminalidade e ao tráfico de drogas no continente e ter um assessor especial para a America Latina em seu Ministério.
Senador chama Chávez de demagogo e autoritário
Obama chamou Hugo Chávez de "demagogo" que faz uma "perigosa mistura de retórica antiamericana com governo autoritário", e acrescentou que o presidente da Venezuela "e seus aliados não são os únicos preenchendo o vazio" deixado pelos EUA na América Latina. Ele citou a aproximação do Irã com a Venezuela e o "banco binacional financiado pelo petróleo".
O senador acrescentou que sua política para Cuba será orientada por uma palavra, dita em espanhol: "libertad". E disse que, se o regime cubano "libertar todos os presos políticos e der passos na direção da democracia", está disposto a normalizar relações diplomáticas e encontrar-se com Raúl Castro:
- John McCain diz que eu quero me encontrar com Raúl Castro como se eu estivesse em busca de um encontro social. Minha diplomacia será orientada por uma palavra, libertad, e quero ter este encontro apenas se houver chance de avançar nos interesses dos EUA e na causa da liberdade dos cubanos.
Obama prometeu apoiar totalmente a luta do governo colombiano contra as Farc:
- Apoiaremos decididamente o esforço do governo colombiano de livrar suas fronteiras do reino do terror. Vamos investigar apoios aos grupos paramilitares que venham de governos vizinhos. E vamos expor aqueles que apóiam organizações paramilitares ao isolamento, à condenação internacional e, se necessário, a fortes sanções.
Obama quer usar o comércio e os bancos internacionais para erradicar a pobreza da América Latina até 2015 e cumprir as "Metas do Milênio":
- Vamos mobilizar o Bird, a OEA e o BID para financiar investimentos e alavancar projetos que protejam os recursos naturais do continente, a fauna e a flora, sobretudo nas regiões de floresta tropical. Vamos negociar com nossos maiores aliados no hemisfério - Brasil, México, Argentina e Chile - para abrir oportunidades e erradicar o perigo de uma corrida nuclear.
O Globo
Camponeses atacam mais dois brasiguaios
Fazendeiros conseguem escapar ilesos de grupo de 50 paraguaios fortemente armados
SÃO PAULO. Incentivados pela decisão do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, de expulsar os produtores rurais estrangeiros em situação ilegal naquele país, um grupo de cerca de 50 camponeses paraguaios atacou ontem dois fazendeiros brasileiros em terras paraguaias - os chamados brasiguaios - que estavam em suas propriedades, em Pirapey, a 150 quilômetros de Encarnación, capital do Departamento de Itapúa, no Paraguai, onde se concentra o foco de conflitos. Fortemente armados, os paraguaios atiraram contra Eugênio Fridich e Anselmo Kessler, fazendeiros gaúchos que vivem há duas décadas no país. Eles foram surpreendidos quando trabalhavam na lavoura de trigo. Na noite de quinta-feira, outro brasiguaio, Rogério Viltes, também conseguiu escapar de um ataque.
Camponeses estavam armados com rifles
Depois de disparar vários tiros contra os dois - que conseguiram fugir sem que fossem atingidos -, os sem- terra paraguaios destruíram o caminhão e o trator usados no plantio. Os camponeses chegaram a arrancar as rodas do caminhão, segundo autoridades policiais. Os ataques atingiram também policiais do Grupo de Operações Especiais, chamados para mediar o conflito naquela região.
- Eles ficam de tocaia esperando a gente chegar nas lavouras e atacam em bando - disse ontem um fazendeiro brasileiro que mora em Tomás Romero Pereira, no distrito de Itapúa.
O clima de tensão na região tem feito com que os fazendeiros brasileiros contratem milícias para proteger as suas propriedades na área de fronteira ameaçada pelos camponeses paraguaios. Como o GLOBO revelou anteontem, donos de terras estão pagando até R$40 por 12 horas de trabalho para seguranças particulares. Na propriedade de Eugênio Fridich, os policiais encontraram ontem, logo após os ataques, vários projéteis nos assentos do caminhão.
A área onde fica a lavoura é, na verdade, de propriedade da empresa paraguaia Pezeta S/A e arrendada ao fazendeiro brasileiro, onde ele planta trigo, milho e soja. Os ataques foram organizados pelos camponeses do assentamento 1º de Março.
- Eles utilizaram rifles, escopetas, revólveres e pistolas de distintos calibres. Os que não tinham arma de fogo, tinham machados e foices - disse ontem o suboficial da polícia paraguaia, Remigo Benítez.
A relação entre paraguaios e produtores rurais brasileiros ficou ainda mais estremecida depois que o presidente Nicanor Duarte anunciou nesta semana que colocará em prática a Lei de Faixa de Segurança, aprovada há dois anos. A partir dela, os produtores rurais estrangeiros que estão em situação ilegal naquele país serão expulsos.
A decisão reforçou o sentimento nacionalista que dominou a campanha presidencial nos últimos meses. Na época, os adversários do presidente eleito, Fernando Lugo, usavam como plataforma política a tese de que, se eleito, Lugo retiraria as terras dos brasileiros. Antes e depois de vencer as eleições, Lugo sempre negou tal intenção.
O Globo
Um defensor da ética na política
BRASÍLIA e MANAUS. Com pouco mais de um metro e meio de altura, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) tornava-se um gigante ao defender a ética na política. Nos últimos tempos, porém, já não disfarçava o desencanto com os rumos do corporativismo no Congresso e chegou a anunciar, da tribuna, a disposição de não se candidatar mais quando terminasse, em 2010, seu mandato - o segundo que exercia como senador. Péres morreu na manhã de ontem de infarto, aos 76 anos, em sua casa em Manaus. O corpo de Péres está sendo velado no Centro Cultural Palácio Rio Negro, no centro da capital do Amazonas. O enterro está marcado para as 16h em Manaus (17h em Brasília), no Cemitério São João Batista.
Durante a sua vida legislativa, Péres foi uma pedra no sapato de todos os parlamentares que enfrentaram problemas de decoro. Relatou, por exemplo, o processo de cassação do então senador Luiz Estêvão, o primeiro a ser aprovado na história da Casa, em 2000. Chegou a disputar a presidência do Senado contra o então poderoso Jáder Barbalho (PMDB-PA), que venceu a eleição, mas logo foi obrigado a renunciar ao mandato diante de denúncias de corrupção. No ano passado, durante os dois processos enfrentados pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sofreu ameaças veladas de retaliação por ter sido um dos primeiros senadores a defender publicamente o afastamento do colega do comando da Casa. Mas a cruzada de Péres pela moralidade nem sempre foi bem vista por seus colegas. Alguns adversários chegaram a chamá-lo de "falso vestal".
Mesmo desiludido, Péres não hesitou em cobrar satisfação de dois companheiros de partido: o atual ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em razão de denúncias de que estaria usando a pasta para favorecer aliados do PDT e da Força Sindical, e o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho, sob suspeita de envolvimento no desvio de verbas do BNDES. Foi voz isolada ao pedir que a cúpula do PDT tomasse uma posição e chegou a sugerir o afastamento de Paulinho até a conclusão da investigação.
A notícia da morte deixou consternados políticos de todos os partidos e até mesmo desafetos. Lupi divulgou nota referindo-se a Péres como "homem de uma envergadura moral ética singular, que sempre se destacou na defesa intransigente do Brasil". Lembrou, ainda, que no Congresso Péres "travou batalhas inesquecíveis, colocando sempre em primeiro plano seu amor e sua ferrenha defesa aos princípios básicos da ética política".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também divulgou nota solidarizando-se com a família Péres e destacando sua trajetória política na "defesa intransigente da democracia e da ética". Para Lula, Péres "sempre procurou guiar-se pelo que julgava ser o interesse público, mesmo nos momentos de divergências com o governo".
- Era um homem correto, extremamente correto e dedicado às causas de interesse do Brasil - disse o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.
O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), lembrou, num discurso emocionado, o apoio de Péres à luta pela recuperação da credibilidade do Legislativo.
- Ninguém como ele superou a defesa da democracia em seus pronunciamentos. Ele esteve sempre voltado para a defesa do Senado, das prerrogativas da Casa. Ele era um dos primeiros senadores que se levantavam na defesa deste Senado.
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), decretou luto oficial por três dias no estado. Para ele, Péres foi um marco na ética da política nacional.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lamentou em nota assinada por seu presidente, Mozart Valadares Pires: "Símbolo da independência política, Péres lutou pela democracia durante todo a sua carreira com uma postura ética irrepreensível que serve de exemplo para gerações atuais e futuras".
- Foi um homem público devotado às causas que abraçou, tanto em sua proeminente vida parlamentar como na sua vida de advogado. Deu ao Senado, ao Amazonas e ao Brasil o melhor de seu intelecto. Será uma sentida ausência em nosso plenário. Estou triste - disse o senador José Sarney (PMDB-AP).
De Budapeste, o senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), de quem Péres foi vice na chapa que disputou a Presidência da República em 2006, escreveu em nota: "Com o seu falecimento, morre também a moral da política brasileira".
- Ele era a consciência crítica de todos nós - resumiu o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
A ex-senadora do PSOL Heloísa Helena foi a primeira a chegar ao velório. Ela estava em Brasília e voltava para Alagoas. No aeroporto soube da morte do amigo e decidiu mudar o roteiro.
Um dos últimos políticos a conversar com Péres, na viagem de Brasília a Manaus na tarde de quinta-feira, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) contou que o encontro durou 40 minutos:
- Ele parecia e estava absolutamente bem.
Para Virgílio, Péres foi um dos melhores senadores que o Amazonas deu ao Brasil:
- Ele tinha um senso de justiça extraordinário, um homem com profundo conhecimento da política.
De acordo com a assessoria do senador, nos últimos três meses ele apresentou um leve quadro de hipertensão, mas nada que chegasse a preocupar seus médicos nem a si mesmo. O senador nunca precisou se submeter a qualquer cirurgia.
Jefferson Péres deixa Marlídice, com quem estava casado há 40 anos, e três filhos: Ronald, de 39 anos, advogado e procurador do Amazonas; Roger, de 34, administrador de empresas; e Rômulo, de 32, também advogado e procurador.
Péres será substituído por seu primeiro suplente, o também pedetista Jeferson Praia - que atualmente é secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Manaus.
O Globo
Brasil diz que situação não é grave
Marco Aurélio Garcia minimiza crise envolvendo brasileiros no Paraguai
BRASÍLIA. O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, minimizou ontem a situação envolvendo fazendeiros brasileiros que moram em locais na fronteira do Paraguai. Apesar do aumento da tensão na região, Marco Aurélio disse que o assunto não foi tratado na reunião de presidentes para a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), da qual participaram o atual presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, e o presidente eleito daquele país, Fernando Lugo.
Marco Aurélio disse que o assunto "não está na ordem do dia", mas afirmou que irá ao Paraguai em junho para analisar as demandas do país a partir de agora.
- Não consideramos que seja um problema de uma gravidade tal que exigisse uma medida imediata. Essas tensões não começaram hoje, é normal que venham à tona - disse Marco Aurélio, acrescentando, porém, que o Brasil está sempre atento.
Recrutamento de milícias pode criar mais problemas
Já o Itamaraty vem acompanhando a situação e acredita que a situação está sob controle. A posição é de que nenhum brasileiro será expulso do Paraguai e que as regras ficaram claras com o decreto que tratou das terras em faixas de fronteira. Brasileiros nessa situação só não vão poder vender ou repassar as terras para terceiros.
O problema é que os fazendeiros brasileiros estariam formando milícias para se proteger de eventuais expulsões e até de invasões de sem-terra paraguaios, o que poderá resultar em problemas com as autoridades paraguaias, já que as leis do país proíbem este tipo de prática.
O Globo
Milhares fogem de xenofobia na África do Sul
Estrangeiros são esfaqueados e incendiados. Direitistas ligados ao apartheid são acusados de fomentar ataques
JOANNESBURGO. Uma onda de xenofobia violenta contra imigrantes deixou pelo menos 42 mortos e 30 mil refugiados na África do Sul nas últimas duas semanas. Grupos direitistas ligados ao antigo regime do apartheid são apontados como mentores do movimento.
Milhares de africanos que migraram para a África do Sul em busca de uma vida melhor estão agora voltando para seus países, horrorizados com os ataques sanguinários que se espalharam pelas duas principais cidades do país, Joannesburgo e Cidade do Cabo, e suas redondezas.
Os imigrantes são acusados de trazer pobreza e desemprego a uma população frustrada com os lentos avanços econômico-sociais do país, 14 anos depois do fim do regime segregador. A alta do preço dos alimentos e a má distribuição de ajuda aos pobres contribuem para a situação. Lojas de estrangeiros estão sendo saqueadas e as vítimas, mortas a ferro e fogo.
Depois de 14 anos, Exército invade subúrbios
Uma mulher conta ter decidido voltar ao Zimbábue depois de ver uma gangue despejar gasolina num estrangeiro e jogá-lo dentro de sua loja, que fora incendiada momentos antes.
- Os berros ainda me assombram. Quando fecho os olhos para dormir eu ouço os gritos de socorro, mas ninguém o ajuda - diz ela. - Nunca vi tamanha barbárie.
Pela primeira vez desde o fim do regime segregador soldados do Exército tiveram que entrar nos subúrbios para estancar a violência.
A África do Sul tem quase cinco milhões de estrangeiros, ou 10% de sua população. A maior parte vem do Zimbábue (três milhões), Nigéria e Moçambique. Os ataques começaram há cerca de duas semanas em Alexandra, distrito de Joannesburgo, e se espalharam para dezenas de localidades do entorno da capital e da Cidade do Cabo.
O chefe da Agência de Segurança Nacional da África do Sul, Manala Manzini, acusou ontem direitistas ligados ao antigo regime do apartheid de espalhar a onda de ataques.
- Definitivamente há uma terceira mão envolvida. Existe um esforço deliberado, orquestrado e bem-planejado - disse. - Temos informação dando conta de que pessoas envolvidas na violência pré-eleitoral de 1994 (ano em que o apartheid terminou) são justamente as mesmas que restabeleceram contato com pessoas que elas usaram no passado.
Ônibus para o Zimbábue partem lotados
Antes, os ônibus com destino ao Zimbábue costumavam partir vazios. Poucos queriam voltar a um país com inflação de 160.000% e com as liberdades cerceadas pelo regime ditatorial de Robert Mugabe, que está no poder desde 1980 (o país está em meio a um processo eleitoral que pode tirá-lo do poder). Agora, saem cheios e os motoristas precisam deixar passageiros na rodoviária por falta de espaço.
- Vi três pessoas morrerem diante dos meus olhos. Um foi esquartejado, outro levou um tiro e o terceiro morreu a pauladas. Vou para casa. Pelo menos por um mês, até que as coisas se acalmem - diz Tinei Murimbechi, de 25 anos.
Segundo a ONU, há 125 mil pessoas registradas como refugiadas no país.
O Globo
Brasil pode se tornar um grande produtor, diz 'WSJ'
O jornal de finanças americano "Wall Street Journal" afirmou em sua edição de ontem que a nova descoberta de petróleo na Bacia de Santos, anunciada na quarta-feira pela Petrobras, "aumenta as especulações" sobre a ascensão do Brasil ao grupo dos grandes exportadores globais do produto. O diário acrescenta que as reservas do país também ajudarão a "aliviar as pressões sobre os crescentes preços do petróleo".
Segundo a reportagem, "a descoberta é a última em uma série de ações bem-sucedidas da estatal brasileira, aumentando as esperanças de que o Brasil se torne a mais recente grande novidade no segmento global de petróleo".
O novo campo fica próximo ao de Tupi, descoberto há dois anos e que se mantém como o maior desde 2000. O "WSJ" afirma que, apesar do otimismo, alguns analistas se mostram céticos, devido às dificuldades de extração de petróleo em águas profundas.
O jornal lembra ainda que a descoberta será especialmente bem-vinda pelos EUA, que terão no Brasil uma fonte alternativa de abastecimento no hemisfério. Atualmente, o país importa petróleo no hemisfério sobretudo da Venezuela.
O Globo
STF: índios aculturados podem receber punição
Presidente do Supremo pede que pena seja estendida a quem ajudou caiapós a agredir engenheiro da Eletrobrás
BRASÍLIA e BELÉM. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, afirmou ontem que os índios acusados de agredir o engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende, um deles com golpe de facão, podem ser punidos, caso se comprove que são aculturados. Segundo o ministro, esse tem sido o entendimento de vários tribunais. Mendes considera importante estender a punição a quem teria, de alguma forma, estimulado a ação dos indígenas.
O ministro disse que não poderia falar sobre o caso específico. Mas deixou claro que índios podem ser punidos se a polícia e o Ministério Público provarem que eles entendem as regras básicas do convívio entre não-índios:
- Os tribunais têm tido várias provocações sobre a imputabilidade ou não de indígenas que se envolvem nesses fatos típicos. E a resposta tem sido, na maioria das vezes, positiva, entendendo que, especialmente no caso de índios aculturados, capazes de entender a língua portuguesa, que eles são plenamente responsáveis do ponto de vista penal.
Na terça-feira, um grupo de índios caiapós atacou o engenheiro durante um debate em Altamira, no Pará, sobre o impacto da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte na região. Rezende foi agredido a socos e pontapés. Um dos índios desferiu um golpe de facão no engenheiro.
- É preciso que nós todos aprendamos a debater dentro de padrões civilizatórios mínimos. Discutir sem violentar. E se isso é estimulado, tanto pior. É preciso que se reprima também aquele que atiça, que estimula a prática atos de violência - disse Mendes.
Índios caiapós e de outras etnias que feriram Rezende ameaçaram ontem com novos conflitos caso o governo insista na construção de Belo Monte. Num abaixo-assinado intitulado "Documento dos Povos Indígenas da Bacia do Xingu", com mais de 300 assinaturas, entregue ao juiz federal substituto da Subseção de Altamira, Antonio Carlos Campelo, os índios advertem: "Ainda que haverá conflito entre o empreendedor e os povos indígenas caso os senhores não parem com essas obras. Aconteça o que acontecer, nós, povos indígenas, morreremos defendendo as nossas vidas, nossos patrimônios e nossas terras".
Os índios pediram ao juiz que envie o abaixo-assinado à Presidência da República.
Padre e coordenador do Cimi negam compra de facões
A Polícia Federal (PF), que investiga o caso, divulgou imagens do circuito interno de uma loja de materiais de construção em Altamira em que o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Xingu, José Cleanton Ribeiro, aparece comprando três facões em companhia de um índio, na véspera do ataque. Também aparece no vídeo o padre Andoni Ledesma, de Altamira.
O padre, coordenador da Pastoral de Comunicação da Prelazia do Xingu, e Ribeiro negaram, ontem, em depoimento ao delegado da PF Eduardo Jorge Ferreira que tenham adquirido os facões, chamados terçados, usados pelos índios na agressão ao engenheiro. O delegado não informou se houve indiciamentos, mas não descarta responsabilizar as entidades que organizaram o evento "Xingu Vivo para Sempre" pela agressão.
As 11 entidades à frente do seminário divulgaram ontem nota rejeitando a responsabilidade pelo incidente e afirmando que as declarações do delegado "revelam postura precipitada e equivocada, que destoa da realidade dos fatos".
A organização do evento esclareceu em nota que o Cimi, responsável pela infra-estrutura dos índios, comprou os facões a pedido dos caiapós porque as armas brancas são "acessórios imprescindíveis das suas indumentárias". "O atendimento ao pedido de liderança do povo caiapó, para a aquisição de três facões, que na cultura desse povo indígena caracterizam-se como instrumentos de trabalho e de defesa das índias, baseou-se no respeito à cultura e identidade desses povos", afirma a nota.
Também prestou depoimento Antônio Martins, dirigente do Movimento de Mulheres Trabalhadoras (MMT) de Altamira, que aparece nas filmagens. A nota fiscal da compra de cinco facões foi emitida em nome do MMT.
Dom Erwin Krautler, que comanda a Prelazia do Xingu, desafiou a PF a apresentar qualquer prova que relacione a entidade à compra dos facões. Em sua opinião, o ataque ao engenheiro foi um ato imprevisto:
- Foi a maneira decisiva de os índios se manifestarem acerca de uma questão vital para eles. Não se pode demonizar o incidente.
Ele disse ainda que o engenheiro, de certa forma, provocou os índios.
Para presidente, união regional mexerá com tabuleiro do mundo
BRASÍLIA. Ao abrir a solenidade de assinatura do tratado criando a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que as instabilidades na região são um "sinal de vida" na América do Sul. Lula disse ainda que no continente "floresce a democracia". Sem se referir às turbulências nos países vizinhos, Lula destacou que todos os governantes da região foram eleitos em pleitos democráticos e com ampla participação popular.
- A instabilidade que alguns pretendem ver em nosso continente é sinal de vida, especialmente vida política. Não há democracia sem povo nas ruas, sem confronto de idéias e propostas. Mas há tampouco democracia sem regras e diálogo - disse o presidente.
Lula afirmou que a América do Sul, unida, "mexerá com o tabuleiro do mundo". Ele aproveitou para convidar os demais países da América Latina e do Caribe a entrarem para a Unasul.
- Nossos vizinhos latinos e caribenhos estão convidados a participar dessa união, que nasce também sob o signo da diversidade e do pluralismo - afirmou.
Lula critica protecionismo de países desenvolvidos .O presidente destacou que a região passa por uma excepcional fase de crescimento econômico e, não por acaso, tornou-se um dos principais pontos de investimentos do mundo.
- Estamos superando a inércia e as resistências que, ao longo de 200 anos de vida política independente, impediram que trilhássemos juntos o caminho da unidade. Tiraremos proveito da vastidão de nosso território, banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico e pelo Mar do Caribe. Valorizaremos a diversidade de nossos povos e de nossas culturas.
Lula voltou a criticar o protecionismo praticado pelos países desenvolvidos. Disse que o crescimento da indústria e da agricultura e o grande potencial energético na região incomodam.
- Não nos deixemos iludir pelos argumentos daqueles que, por interesses protecionistas ou motivações geopolíticas, sentem-se incomodados com nosso crescimento - destacou.
Já ciente de que não seria criado ontem o Conselho Sul-Americano de Defesa, Lula defendeu, mesmo assim, o novo foro, que será instituído dentro de 90 dias. Citando como exemplo a Minustah (força militar da ONU voltada à reconstrução e pacificação do Haiti), o presidente afirmou que as Forças Armadas brasileiras estão comprometidas com a construção da paz. Ele propôs uma nova reunião no segundo semestre, no Brasil, para que sejam detalhados os objetivos e o funcionamento do conselho.
- Devemos articular uma visão de defesa na região fundada em valores e princípios comuns, como o respeito à soberania, à autodeterminação, à integridade territorial dos Estados e à não-intervenção em assuntos internos.
Ele ressaltou que todas as decisões a serem tomadas pela Unasul terão de ser por consenso. Segundo Lula, pretende-se avançar rapidamente com projetos inovadores e de grande alcance em áreas prioritárias, como integração financeira e energética; melhora da infra-estrutura regional e das conexões rodoviárias e ferroviárias; estabelecimento de uma vigorosa agenda de cooperação em políticas sociais; e fortalecimento da cooperação educacional.
Lula destacou ainda a necessidade de trocas comerciais "justas e equilibradas", para que sejam corrigidas as assimetrias entre os países da região.
- Vamos desenvolver parcerias em setores estratégicos, como indústria aeronáutica, medicamentos e equipamentos militares - disse.
O Globo
Cúpula Sul-Americana- União enfraquecida
Lula não consegue aprovar a criação do Conselho de Defesa para região
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escapou ontem de uma desmoralização na reunião de chefes de Estado da América do Sul. Ele não conseguiu emplacar seu projeto de implementação de um Conselho Sul-Americano de Defesa e, por pouco, o tratado que cria a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) não foi assinado, devido à resistência do presidente do Equador, Rafael Correa, que considerou a estrutura da nova instituição excessivamente burocrática. Correa só mudou de idéia após obter garantia de que o documento será ajustado para dar mais agilidade ao processo de integração.
Para convencer Correa de que, sem a sua assinatura, o encontro se transformaria em um fiasco, Lula foi cedo ao hotel onde ele estava hospedado. Tomou café da manhã com Correa, o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales. Segundo fontes ligadas ao Palácio do Planalto, foi uma reunião tensa, que só foi solucionada com a intervenção direta de Chávez.
- O Equador assumiu a posição de assinar o tratado, com o compromisso de melhoramos o documento, que passará a ter uma estrutura mais ligeira. Com a grande quantidade de conselhos e a burocracia, não há como funcionar a integração - disse Correa ao GLOBO, momentos antes de embarcar para Quito.
Conselho de Defesa adiado por 90 dias
Quanto ao Conselho Sul-Americano de Defesa, a proposta foi adiada por 90 dias, devido à oposição da Colômbia. Protagonista da derrubada do novo foro - que, se dependesse do governo brasileiro, seria assinado mesmo sem a adesão dos colombianos - o presidente Álvaro Uribe deixou ontem claro que a idéia não sairá do papel enquanto persistir a simpatia e a interlocução de outros países da região com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Uribe voltou a exigir que o grupo seja classificado de "terrorista".
Esse posicionamento foi discutido por Uribe com Lula a portas fechadas. A mensagem foi que o Conselho de Defesa só poderá existir com garantias de que grupos terroristas não ameacem os países da região. O Brasil, porém, é contra classificar as Farc de terroristas, sob o argumento de que a definição deve partir das Nações Unidas. Na prática, isso significa que o projeto é natimorto, diante da falta de perspectiva de consenso nessa área.
- Não aceitamos integrar o Conselho, porque temos um problema de terrorismo muito grave, que gerou dificuldades políticas com países vizinhos de povos irmãos. O Conselho precisa oferecer garantias de que grupos terroristas não possam ofender a nenhum país - disse Uribe.
E acrescentou:
- O continente deve se atrever a qualificar como terroristas todos os grupos violentos que atentam contra a democracia.
Mas o passo mais importante que levou ao recuo em relação ao Conselho foi dado pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, logo na abertura do encontro. Ela propôs o adiamento por três meses e, ainda, a criação de um grupo de trabalho cujo objetivo é analisar melhor o tema, detalhar a proposta e consolidar sugestões encaminhadas pelas nações sul-americanas.
- Propus a criação de um grupo de trabalho para que, em 90 dias, seja revisada a proposta do presidente Lula tendo em vista as preocupações que tenham cada país em relação ao tema - explicou Bachelet.
Lula não admite fracasso da reunião
Para Lula, mesmo sem o Conselho de Defesa, não houve fracasso no encontro de ontem, tendo em vista que os 12 países concordaram com a criação da Unasul - que era o principal foco da reunião, convocada extraordinariamente para esse fim:
- Aquilo que parecia impossível aconteceu aos olhos dos descrentes. A América do Sul está mais integrada do que nunca, porque acabamos de aprovar por unanimidade o tratado da Unasul.
Sobre o Conselho de Defesa, Lula lembrou que está há seis anos no poder e que as decisões que envolvem mais de um país são amplamente discutidas antes de se concretizarem.
O Globo
Ligações perigosas com as Farc
Congressistas e estrangeiros são acusados de auxiliar guerrilha. Uribe troca farpas com Correa
Numa nova frente da crise política que envolve a Colômbia, o procurador-geral do país, Mario Iguarán, revelou ontem que foram encontrados indícios de envolvimento de congressistas de Colômbia, Equador e Venezuela, jornalistas e integrantes de ONGs com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Entre os acusados está a senadora Piedad Córdoba, que participou de negociações que libertaram reféns da guerrilha. O escândalo já é chamado na Colômbia de farcpolítica, numa alusão à parapolítica, que envolve aliados do governo e grupos paramilitares.
Fontes da polícia colombiana revelaram a jornais locais que a denúncia contra Piedad Córdoba indicaria que suas comunicações com as Farc foram muito além de gestões para a libertação de reféns. Ela teria trocado pelo menos 900 e-mails com as Farc. Dezenas, feitos com o pseudônimo Teodora de Bolívar, teriam sido trocados diretamente entre a senadora e o guerrilheiro Raúl Reyes. Ontem, 56 deles foram enviados a um tribunal para a abertura de investigação.
A senadora defendeu-se afirmando que o governo pretende jogar uma "cortina de fumaça" para desviar a atenção do escândalo da parapolítica, que já levou 40 parlamentares da base governista à prisão:
- Sou uma perseguida política. Estão fazendo de tudo para mostrar que estamos em pé de igualdade. Falaram com guerrilheiros desmobilizados para convencê-los a declarar que me viram em acampamentos da guerrilha.
O anúncio da investigação ocorreu enquanto os presidentes dos três países estavam em Brasília, na criação do Unasul. Não houve o confronto que alguns temiam, mas Álvaro Uribe (Colômbia) e Rafael Correa (Equador) passaram o dia se alfinetando. Enquanto o colombiano fortalecia o discurso de que as Farc são um grupo terrorista e deve ser combatido como ameaça à democracia na região, o equatoriano rebatia que a campanha "midiática" e do vizinho deixou as relações bilaterais em estado "crítico".
Uribe começou a manhã declarando que iria desmanchar uma "armadilha" das Farc, que estaria mascarada como uma ação humanitária: o pedido de desmilitarização da região de Florida. Segundo ele, a proposta iria abrir corredores de "relativa curta distância" entre pontos estratégicos, inclusive com saída ao Pacífico.
- Vamos mostrar que por trás de um aparente espírito humanitário está a vontade de reconquistar Caguán. Nós, colombianos, não vamos cair na enganação, na armadilha, que as Farc estão tentando "vender" - disse Uribe.
Não tardou muito e assessores de Correa improvisaram uma entrevista logo após o encontro principal da cúpula. Nela, o presidente ironizou a investigação de equatorianos na Colômbia:
- Que ousadia investigar equatorianos. Sugiro que também investiguem a narcopolítica e os paramilitares que invadem a Colômbia.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que as acusações de envolvimento do seu governo com as Farc são mentirosas:
- Isso foi um show de um agente da Interpol que já trabalhou no governo dos EUA. Ele violou as regras da Interpol, faz parte da estratégia imperialista. Fontes da Interpol dizem que não é possível garantir a origem da informação.
Ontem, o procurador-geral Iguarán solicitou que a Corte Suprema de Justiça investigue os congressistas, que têm foro privilegiado: além de Piedad, a senadora Gloria Inés Ramírez e o deputado Wilson Borja. Ele pediu também que o tribunal averigue os casos da deputada equatoriana María Augusta Calle, que foi diretora da Telesur em seu país; o também equatoriano Iván Larrea, irmão do ministro da Segurança Interna e Externa, Gustavo Larrea; o venezuelano Amílcar Figueroa, deputado do Parlamento Latino; o antropólogo americano James Jones; e a funcionária de ONG de direitos humanos Liliana Obando. Além destes, também serão investigados os jornalistas colombianos William Parra, da Telesur; Carlos Lozano, da revista "Voz"; o ex-candidato presidencial Álvaro Levya Durán; e o colunista Lázaro Viveros.
Grande parte da denúncia se baseia em informações dos computadores que Bogotá diz ter recuperado no acampamento onde foi morto o número dois das Farc, Raúl Reyes, no Equador.
- Em princípio, (a investigação será feita) pelo que foi encontrado nos computadores, correios (eletrônicos) por exemplo. Há referências que poderiam indicar algo que vai muito além de gestões com intenção de conseguir a paz - disse o procurador-geral.
Constituinte do Equador repudia investigação
O deputado Borja e a senadora Gloria Inés teriam trocado dezenas de e-mails com as Farc. Segundo fontes da investigação, o material indica que eles excederam sua condição política, parecendo assessorar a guerrilha.
Sobre os estrangeiros, Iguarán afirmou que seria possível processá-los na Colômbia por serem acusados de crimes como atentado à segurança nacional, e financiamento do terrorismo. A deputada equatoriana acusada, María Calle, liderou a votação de uma resolução ontem na Assembléia Constituinte, pedindo que o povo do país se mobilize contra "atitudes guerreiras" de Uribe.
Já Iván Larrea, irmão do ministro da Segurança equatoriano, acusou o governo Uribe de tentar prejudicar a relação entre os dois países.
- Isso está sendo feito para gerar uma caça às bruxas e provocar uma escalada do conflito entre os dois países - disse Iván Larrea.
O venezuelano Figueroa concordou:
- Uribe busca meter a Venezuela no conflito interno colombiano.
Jornalistas e funcionários de ONGs envolvidos confirmaram os e-mails com as Farc, mas seu objetivo seria de trabalho ou para ajudar na libertação de reféns.
O Globo
Obama quer nova aliança com América Latina
Em seu discurso mais enfático sobre o continente, senador critica Brasil mas aponta país como exemplo a seguir
NOVA YORK. O senador Barack Obama fez ontem o mais importante pronunciamento sobre sua política para a América Latina, em Miami, e o Brasil foi mencionado como "exemplo a ser seguido no continente". Obama propôs uma nova "aliança para o desenvolvimento" no continente e inverteu o velho ditado que diz que "tudo que é bom para os Estados Unidos é bom para as Américas".
- Minha política para as Américas será orientada pelo princípio simples de que o que é bom para os povos das Américas é bom para os EUA - disse, citando em seguida como exemplo as favelas do Rio: - Isto significa que a medida do sucesso não será apenas a dos acordos entre governos, mas também dar esperança às crianças das favelas do Rio, segurança aos policiais da Cidade do México e respostas aos apelos dos prisioneiros políticos de Havana.
Críticas à produção de etanol e ao desmatamento
Na sua proposta de nova "aliança para o desenvolvimento"para o continente, Obama diz que o Brasil tem o maior potencial de produção de energia renovável da América Latina e também alguns dos desafios para enfrentar a degradação do meio ambiente. Ele acrescentou, porém, que a liderança brasileira na produção de etanol e o desenvolvimento do país não foram alcançados sem prejuízos para o meio-ambiente:
- A Floresta Amazônica, uma região de importância fundamental e estratégica para o combate ao aquecimento global, já perdeu 20% de sua mata para dar lugar a fazendas de soja, e ambientalistas do mundo inteiro alertam que o cultivo da cana pode causar ainda mais desmatamento.
Para ele, a solução é formar uma nova parceria entre EUA e Brasil, a fim de aumentar a produtividade:
- Farei um apelo ao povo americano para formar um time de engenheiros e cientistas para desenvolver soluções energéticas limpas em vários países. Este é o único papel importante que os EUA podem desempenhar. Podemos oferecer mais do que a tirania do petróleo. Podemos aprender com o progresso feito por um país como o Brasil e fazer das Américas um modelo para o mundo. Nós podemos oferecer liderança que sirva à prosperidade e à segurança comum para todo o continente.
O senador pretende engajar-se num esforço diplomático para promover a democracia e os valores americanos, imediatamente fornecer permissões de viagens e de remessas de dinheiro, mercadorias e de medicamentos para Cuba, criar uma parceria energética visando ao desenvolvimento sustentável, lançar um programa de combate à criminalidade e ao tráfico de drogas no continente e ter um assessor especial para a America Latina em seu Ministério.
Senador chama Chávez de demagogo e autoritário
Obama chamou Hugo Chávez de "demagogo" que faz uma "perigosa mistura de retórica antiamericana com governo autoritário", e acrescentou que o presidente da Venezuela "e seus aliados não são os únicos preenchendo o vazio" deixado pelos EUA na América Latina. Ele citou a aproximação do Irã com a Venezuela e o "banco binacional financiado pelo petróleo".
O senador acrescentou que sua política para Cuba será orientada por uma palavra, dita em espanhol: "libertad". E disse que, se o regime cubano "libertar todos os presos políticos e der passos na direção da democracia", está disposto a normalizar relações diplomáticas e encontrar-se com Raúl Castro:
- John McCain diz que eu quero me encontrar com Raúl Castro como se eu estivesse em busca de um encontro social. Minha diplomacia será orientada por uma palavra, libertad, e quero ter este encontro apenas se houver chance de avançar nos interesses dos EUA e na causa da liberdade dos cubanos.
Obama prometeu apoiar totalmente a luta do governo colombiano contra as Farc:
- Apoiaremos decididamente o esforço do governo colombiano de livrar suas fronteiras do reino do terror. Vamos investigar apoios aos grupos paramilitares que venham de governos vizinhos. E vamos expor aqueles que apóiam organizações paramilitares ao isolamento, à condenação internacional e, se necessário, a fortes sanções.
Obama quer usar o comércio e os bancos internacionais para erradicar a pobreza da América Latina até 2015 e cumprir as "Metas do Milênio":
- Vamos mobilizar o Bird, a OEA e o BID para financiar investimentos e alavancar projetos que protejam os recursos naturais do continente, a fauna e a flora, sobretudo nas regiões de floresta tropical. Vamos negociar com nossos maiores aliados no hemisfério - Brasil, México, Argentina e Chile - para abrir oportunidades e erradicar o perigo de uma corrida nuclear.
O Globo
Camponeses atacam mais dois brasiguaios
Fazendeiros conseguem escapar ilesos de grupo de 50 paraguaios fortemente armados
SÃO PAULO. Incentivados pela decisão do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, de expulsar os produtores rurais estrangeiros em situação ilegal naquele país, um grupo de cerca de 50 camponeses paraguaios atacou ontem dois fazendeiros brasileiros em terras paraguaias - os chamados brasiguaios - que estavam em suas propriedades, em Pirapey, a 150 quilômetros de Encarnación, capital do Departamento de Itapúa, no Paraguai, onde se concentra o foco de conflitos. Fortemente armados, os paraguaios atiraram contra Eugênio Fridich e Anselmo Kessler, fazendeiros gaúchos que vivem há duas décadas no país. Eles foram surpreendidos quando trabalhavam na lavoura de trigo. Na noite de quinta-feira, outro brasiguaio, Rogério Viltes, também conseguiu escapar de um ataque.
Camponeses estavam armados com rifles
Depois de disparar vários tiros contra os dois - que conseguiram fugir sem que fossem atingidos -, os sem- terra paraguaios destruíram o caminhão e o trator usados no plantio. Os camponeses chegaram a arrancar as rodas do caminhão, segundo autoridades policiais. Os ataques atingiram também policiais do Grupo de Operações Especiais, chamados para mediar o conflito naquela região.
- Eles ficam de tocaia esperando a gente chegar nas lavouras e atacam em bando - disse ontem um fazendeiro brasileiro que mora em Tomás Romero Pereira, no distrito de Itapúa.
O clima de tensão na região tem feito com que os fazendeiros brasileiros contratem milícias para proteger as suas propriedades na área de fronteira ameaçada pelos camponeses paraguaios. Como o GLOBO revelou anteontem, donos de terras estão pagando até R$40 por 12 horas de trabalho para seguranças particulares. Na propriedade de Eugênio Fridich, os policiais encontraram ontem, logo após os ataques, vários projéteis nos assentos do caminhão.
A área onde fica a lavoura é, na verdade, de propriedade da empresa paraguaia Pezeta S/A e arrendada ao fazendeiro brasileiro, onde ele planta trigo, milho e soja. Os ataques foram organizados pelos camponeses do assentamento 1º de Março.
- Eles utilizaram rifles, escopetas, revólveres e pistolas de distintos calibres. Os que não tinham arma de fogo, tinham machados e foices - disse ontem o suboficial da polícia paraguaia, Remigo Benítez.
A relação entre paraguaios e produtores rurais brasileiros ficou ainda mais estremecida depois que o presidente Nicanor Duarte anunciou nesta semana que colocará em prática a Lei de Faixa de Segurança, aprovada há dois anos. A partir dela, os produtores rurais estrangeiros que estão em situação ilegal naquele país serão expulsos.
A decisão reforçou o sentimento nacionalista que dominou a campanha presidencial nos últimos meses. Na época, os adversários do presidente eleito, Fernando Lugo, usavam como plataforma política a tese de que, se eleito, Lugo retiraria as terras dos brasileiros. Antes e depois de vencer as eleições, Lugo sempre negou tal intenção.
O Globo
Um defensor da ética na política
BRASÍLIA e MANAUS. Com pouco mais de um metro e meio de altura, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) tornava-se um gigante ao defender a ética na política. Nos últimos tempos, porém, já não disfarçava o desencanto com os rumos do corporativismo no Congresso e chegou a anunciar, da tribuna, a disposição de não se candidatar mais quando terminasse, em 2010, seu mandato - o segundo que exercia como senador. Péres morreu na manhã de ontem de infarto, aos 76 anos, em sua casa em Manaus. O corpo de Péres está sendo velado no Centro Cultural Palácio Rio Negro, no centro da capital do Amazonas. O enterro está marcado para as 16h em Manaus (17h em Brasília), no Cemitério São João Batista.
Durante a sua vida legislativa, Péres foi uma pedra no sapato de todos os parlamentares que enfrentaram problemas de decoro. Relatou, por exemplo, o processo de cassação do então senador Luiz Estêvão, o primeiro a ser aprovado na história da Casa, em 2000. Chegou a disputar a presidência do Senado contra o então poderoso Jáder Barbalho (PMDB-PA), que venceu a eleição, mas logo foi obrigado a renunciar ao mandato diante de denúncias de corrupção. No ano passado, durante os dois processos enfrentados pelo então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sofreu ameaças veladas de retaliação por ter sido um dos primeiros senadores a defender publicamente o afastamento do colega do comando da Casa. Mas a cruzada de Péres pela moralidade nem sempre foi bem vista por seus colegas. Alguns adversários chegaram a chamá-lo de "falso vestal".
Mesmo desiludido, Péres não hesitou em cobrar satisfação de dois companheiros de partido: o atual ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em razão de denúncias de que estaria usando a pasta para favorecer aliados do PDT e da Força Sindical, e o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), o Paulinho, sob suspeita de envolvimento no desvio de verbas do BNDES. Foi voz isolada ao pedir que a cúpula do PDT tomasse uma posição e chegou a sugerir o afastamento de Paulinho até a conclusão da investigação.
A notícia da morte deixou consternados políticos de todos os partidos e até mesmo desafetos. Lupi divulgou nota referindo-se a Péres como "homem de uma envergadura moral ética singular, que sempre se destacou na defesa intransigente do Brasil". Lembrou, ainda, que no Congresso Péres "travou batalhas inesquecíveis, colocando sempre em primeiro plano seu amor e sua ferrenha defesa aos princípios básicos da ética política".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também divulgou nota solidarizando-se com a família Péres e destacando sua trajetória política na "defesa intransigente da democracia e da ética". Para Lula, Péres "sempre procurou guiar-se pelo que julgava ser o interesse público, mesmo nos momentos de divergências com o governo".
- Era um homem correto, extremamente correto e dedicado às causas de interesse do Brasil - disse o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.
O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), lembrou, num discurso emocionado, o apoio de Péres à luta pela recuperação da credibilidade do Legislativo.
- Ninguém como ele superou a defesa da democracia em seus pronunciamentos. Ele esteve sempre voltado para a defesa do Senado, das prerrogativas da Casa. Ele era um dos primeiros senadores que se levantavam na defesa deste Senado.
O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), decretou luto oficial por três dias no estado. Para ele, Péres foi um marco na ética da política nacional.
A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lamentou em nota assinada por seu presidente, Mozart Valadares Pires: "Símbolo da independência política, Péres lutou pela democracia durante todo a sua carreira com uma postura ética irrepreensível que serve de exemplo para gerações atuais e futuras".
- Foi um homem público devotado às causas que abraçou, tanto em sua proeminente vida parlamentar como na sua vida de advogado. Deu ao Senado, ao Amazonas e ao Brasil o melhor de seu intelecto. Será uma sentida ausência em nosso plenário. Estou triste - disse o senador José Sarney (PMDB-AP).
De Budapeste, o senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), de quem Péres foi vice na chapa que disputou a Presidência da República em 2006, escreveu em nota: "Com o seu falecimento, morre também a moral da política brasileira".
- Ele era a consciência crítica de todos nós - resumiu o senador Pedro Simon (PMDB-RS).
A ex-senadora do PSOL Heloísa Helena foi a primeira a chegar ao velório. Ela estava em Brasília e voltava para Alagoas. No aeroporto soube da morte do amigo e decidiu mudar o roteiro.
Um dos últimos políticos a conversar com Péres, na viagem de Brasília a Manaus na tarde de quinta-feira, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) contou que o encontro durou 40 minutos:
- Ele parecia e estava absolutamente bem.
Para Virgílio, Péres foi um dos melhores senadores que o Amazonas deu ao Brasil:
- Ele tinha um senso de justiça extraordinário, um homem com profundo conhecimento da política.
De acordo com a assessoria do senador, nos últimos três meses ele apresentou um leve quadro de hipertensão, mas nada que chegasse a preocupar seus médicos nem a si mesmo. O senador nunca precisou se submeter a qualquer cirurgia.
Jefferson Péres deixa Marlídice, com quem estava casado há 40 anos, e três filhos: Ronald, de 39 anos, advogado e procurador do Amazonas; Roger, de 34, administrador de empresas; e Rômulo, de 32, também advogado e procurador.
Péres será substituído por seu primeiro suplente, o também pedetista Jeferson Praia - que atualmente é secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Manaus.
O Globo
Brasil diz que situação não é grave
Marco Aurélio Garcia minimiza crise envolvendo brasileiros no Paraguai
BRASÍLIA. O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência do Brasil, Marco Aurélio Garcia, minimizou ontem a situação envolvendo fazendeiros brasileiros que moram em locais na fronteira do Paraguai. Apesar do aumento da tensão na região, Marco Aurélio disse que o assunto não foi tratado na reunião de presidentes para a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), da qual participaram o atual presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, e o presidente eleito daquele país, Fernando Lugo.
Marco Aurélio disse que o assunto "não está na ordem do dia", mas afirmou que irá ao Paraguai em junho para analisar as demandas do país a partir de agora.
- Não consideramos que seja um problema de uma gravidade tal que exigisse uma medida imediata. Essas tensões não começaram hoje, é normal que venham à tona - disse Marco Aurélio, acrescentando, porém, que o Brasil está sempre atento.
Recrutamento de milícias pode criar mais problemas
Já o Itamaraty vem acompanhando a situação e acredita que a situação está sob controle. A posição é de que nenhum brasileiro será expulso do Paraguai e que as regras ficaram claras com o decreto que tratou das terras em faixas de fronteira. Brasileiros nessa situação só não vão poder vender ou repassar as terras para terceiros.
O problema é que os fazendeiros brasileiros estariam formando milícias para se proteger de eventuais expulsões e até de invasões de sem-terra paraguaios, o que poderá resultar em problemas com as autoridades paraguaias, já que as leis do país proíbem este tipo de prática.
O Globo
Milhares fogem de xenofobia na África do Sul
Estrangeiros são esfaqueados e incendiados. Direitistas ligados ao apartheid são acusados de fomentar ataques
JOANNESBURGO. Uma onda de xenofobia violenta contra imigrantes deixou pelo menos 42 mortos e 30 mil refugiados na África do Sul nas últimas duas semanas. Grupos direitistas ligados ao antigo regime do apartheid são apontados como mentores do movimento.
Milhares de africanos que migraram para a África do Sul em busca de uma vida melhor estão agora voltando para seus países, horrorizados com os ataques sanguinários que se espalharam pelas duas principais cidades do país, Joannesburgo e Cidade do Cabo, e suas redondezas.
Os imigrantes são acusados de trazer pobreza e desemprego a uma população frustrada com os lentos avanços econômico-sociais do país, 14 anos depois do fim do regime segregador. A alta do preço dos alimentos e a má distribuição de ajuda aos pobres contribuem para a situação. Lojas de estrangeiros estão sendo saqueadas e as vítimas, mortas a ferro e fogo.
Depois de 14 anos, Exército invade subúrbios
Uma mulher conta ter decidido voltar ao Zimbábue depois de ver uma gangue despejar gasolina num estrangeiro e jogá-lo dentro de sua loja, que fora incendiada momentos antes.
- Os berros ainda me assombram. Quando fecho os olhos para dormir eu ouço os gritos de socorro, mas ninguém o ajuda - diz ela. - Nunca vi tamanha barbárie.
Pela primeira vez desde o fim do regime segregador soldados do Exército tiveram que entrar nos subúrbios para estancar a violência.
A África do Sul tem quase cinco milhões de estrangeiros, ou 10% de sua população. A maior parte vem do Zimbábue (três milhões), Nigéria e Moçambique. Os ataques começaram há cerca de duas semanas em Alexandra, distrito de Joannesburgo, e se espalharam para dezenas de localidades do entorno da capital e da Cidade do Cabo.
O chefe da Agência de Segurança Nacional da África do Sul, Manala Manzini, acusou ontem direitistas ligados ao antigo regime do apartheid de espalhar a onda de ataques.
- Definitivamente há uma terceira mão envolvida. Existe um esforço deliberado, orquestrado e bem-planejado - disse. - Temos informação dando conta de que pessoas envolvidas na violência pré-eleitoral de 1994 (ano em que o apartheid terminou) são justamente as mesmas que restabeleceram contato com pessoas que elas usaram no passado.
Ônibus para o Zimbábue partem lotados
Antes, os ônibus com destino ao Zimbábue costumavam partir vazios. Poucos queriam voltar a um país com inflação de 160.000% e com as liberdades cerceadas pelo regime ditatorial de Robert Mugabe, que está no poder desde 1980 (o país está em meio a um processo eleitoral que pode tirá-lo do poder). Agora, saem cheios e os motoristas precisam deixar passageiros na rodoviária por falta de espaço.
- Vi três pessoas morrerem diante dos meus olhos. Um foi esquartejado, outro levou um tiro e o terceiro morreu a pauladas. Vou para casa. Pelo menos por um mês, até que as coisas se acalmem - diz Tinei Murimbechi, de 25 anos.
Segundo a ONU, há 125 mil pessoas registradas como refugiadas no país.
O Globo
Brasil pode se tornar um grande produtor, diz 'WSJ'
O jornal de finanças americano "Wall Street Journal" afirmou em sua edição de ontem que a nova descoberta de petróleo na Bacia de Santos, anunciada na quarta-feira pela Petrobras, "aumenta as especulações" sobre a ascensão do Brasil ao grupo dos grandes exportadores globais do produto. O diário acrescenta que as reservas do país também ajudarão a "aliviar as pressões sobre os crescentes preços do petróleo".
Segundo a reportagem, "a descoberta é a última em uma série de ações bem-sucedidas da estatal brasileira, aumentando as esperanças de que o Brasil se torne a mais recente grande novidade no segmento global de petróleo".
O novo campo fica próximo ao de Tupi, descoberto há dois anos e que se mantém como o maior desde 2000. O "WSJ" afirma que, apesar do otimismo, alguns analistas se mostram céticos, devido às dificuldades de extração de petróleo em águas profundas.
O jornal lembra ainda que a descoberta será especialmente bem-vinda pelos EUA, que terão no Brasil uma fonte alternativa de abastecimento no hemisfério. Atualmente, o país importa petróleo no hemisfério sobretudo da Venezuela.
O Globo
STF: índios aculturados podem receber punição
Presidente do Supremo pede que pena seja estendida a quem ajudou caiapós a agredir engenheiro da Eletrobrás
BRASÍLIA e BELÉM. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, afirmou ontem que os índios acusados de agredir o engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende, um deles com golpe de facão, podem ser punidos, caso se comprove que são aculturados. Segundo o ministro, esse tem sido o entendimento de vários tribunais. Mendes considera importante estender a punição a quem teria, de alguma forma, estimulado a ação dos indígenas.
O ministro disse que não poderia falar sobre o caso específico. Mas deixou claro que índios podem ser punidos se a polícia e o Ministério Público provarem que eles entendem as regras básicas do convívio entre não-índios:
- Os tribunais têm tido várias provocações sobre a imputabilidade ou não de indígenas que se envolvem nesses fatos típicos. E a resposta tem sido, na maioria das vezes, positiva, entendendo que, especialmente no caso de índios aculturados, capazes de entender a língua portuguesa, que eles são plenamente responsáveis do ponto de vista penal.
Na terça-feira, um grupo de índios caiapós atacou o engenheiro durante um debate em Altamira, no Pará, sobre o impacto da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte na região. Rezende foi agredido a socos e pontapés. Um dos índios desferiu um golpe de facão no engenheiro.
- É preciso que nós todos aprendamos a debater dentro de padrões civilizatórios mínimos. Discutir sem violentar. E se isso é estimulado, tanto pior. É preciso que se reprima também aquele que atiça, que estimula a prática atos de violência - disse Mendes.
Índios caiapós e de outras etnias que feriram Rezende ameaçaram ontem com novos conflitos caso o governo insista na construção de Belo Monte. Num abaixo-assinado intitulado "Documento dos Povos Indígenas da Bacia do Xingu", com mais de 300 assinaturas, entregue ao juiz federal substituto da Subseção de Altamira, Antonio Carlos Campelo, os índios advertem: "Ainda que haverá conflito entre o empreendedor e os povos indígenas caso os senhores não parem com essas obras. Aconteça o que acontecer, nós, povos indígenas, morreremos defendendo as nossas vidas, nossos patrimônios e nossas terras".
Os índios pediram ao juiz que envie o abaixo-assinado à Presidência da República.
Padre e coordenador do Cimi negam compra de facões
A Polícia Federal (PF), que investiga o caso, divulgou imagens do circuito interno de uma loja de materiais de construção em Altamira em que o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no Xingu, José Cleanton Ribeiro, aparece comprando três facões em companhia de um índio, na véspera do ataque. Também aparece no vídeo o padre Andoni Ledesma, de Altamira.
O padre, coordenador da Pastoral de Comunicação da Prelazia do Xingu, e Ribeiro negaram, ontem, em depoimento ao delegado da PF Eduardo Jorge Ferreira que tenham adquirido os facões, chamados terçados, usados pelos índios na agressão ao engenheiro. O delegado não informou se houve indiciamentos, mas não descarta responsabilizar as entidades que organizaram o evento "Xingu Vivo para Sempre" pela agressão.
As 11 entidades à frente do seminário divulgaram ontem nota rejeitando a responsabilidade pelo incidente e afirmando que as declarações do delegado "revelam postura precipitada e equivocada, que destoa da realidade dos fatos".
A organização do evento esclareceu em nota que o Cimi, responsável pela infra-estrutura dos índios, comprou os facões a pedido dos caiapós porque as armas brancas são "acessórios imprescindíveis das suas indumentárias". "O atendimento ao pedido de liderança do povo caiapó, para a aquisição de três facões, que na cultura desse povo indígena caracterizam-se como instrumentos de trabalho e de defesa das índias, baseou-se no respeito à cultura e identidade desses povos", afirma a nota.
Também prestou depoimento Antônio Martins, dirigente do Movimento de Mulheres Trabalhadoras (MMT) de Altamira, que aparece nas filmagens. A nota fiscal da compra de cinco facões foi emitida em nome do MMT.
Dom Erwin Krautler, que comanda a Prelazia do Xingu, desafiou a PF a apresentar qualquer prova que relacione a entidade à compra dos facões. Em sua opinião, o ataque ao engenheiro foi um ato imprevisto:
- Foi a maneira decisiva de os índios se manifestarem acerca de uma questão vital para eles. Não se pode demonizar o incidente.
Ele disse ainda que o engenheiro, de certa forma, provocou os índios.
Thursday, May 22, 2008
Temporão recorre ao Exército
Ministro anuncia que pedirá ajuda às Forças Armadas para levar médicos a 200 municípios na fronteira do país. Ao todo, mil cidades brasileiras não têm nenhum profissional da área à disposição
Da Redação
Os habitantes dos rincões do Brasil que contam apenas com benzedeiras e ervas medicinais para curar seus males podem ter, finalmente, o direito constitucional de saúde garantido. O Ministério da Saúde quer levar médicos para cerca de 200 municípios na fronteira do Brasil onde não existem profissionais da área. Para suprir a falta do principal responsável pela promoção da saúde da população, o ministro José Gomes Temporão quer recorrer ao Exército e à Marinha. Mas o Conselho Federal de Medicina (CFM) lembra que o déficit de médicos não é por falta de pessoal, mas pela falta de uma política de promoção do segmento.
“No total, temos mil municípios sem médicos”, observou ontem Temporão, que promete para junho a finalização de uma proposta em discussão no governo para resolver a deficiência na área. Temporão disse que a Saúde está negociando com o Ministério da Defesa para que as Forças Armadas fiquem encarregadas de dar assistência médica a 20% das cidades que não dispõem de médicos. “Principalmente as que ficam nas fronteiras, mediante um repasse de recursos. Temos de chegar a essas pessoas de alguma forma”, ressalta.
O Ministério da Defesa já atua no atendimento a comunidades distantes. Em regiões da Amazônia onde só se chega de barco ou avião, por exemplo, a Força Nacional Terrestre monta hospitais de campanha e realiza atendimentos médicos. Já a Marinha atua por meio de embarcações de assistência hospitalar. Na semana passada, o navio Oswaldo Cruz concluiu atendimento a 20 comunidades ribeirinhas do Vale do Javari. Segundo informações do Comando do 9º Distrito Naval da Marinha, em Manaus, foram realizados 4,7 mil procedimentos de saúde como atendimentos médicos, odontológicos, de enfermagem e vacinação.
Déficit
A declaração do ministro foi feita no dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um estudo constatando que a falta de médicos chega a 4,3 milhões no mundo. Segundo o levantamento, um dos principais problemas seria a falta de investimentos dos países em desenvolvimento. Segundo o ministro Temporão, está em estudo a criação de uma nova carreira no sistema público para atrair médicos para essas regiões mais remotas.
“É só fazer concurso público com perspectivas profissionais que vai ter médico nos rincões do país”, dispara o integrante do Conselho Federal de Medicina (CFM) Geraldo Guedes, coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS do conselho. “Carreira de estado como juiz e promotor vai para essas regiões porque tem perspectiva de ir para locais melhores depois de cumprir um tempo de serviço. As Forças Armadas vão cobrir um espaço onde o Estado se omitiu. Falta políticas de incentivo e o governo sabe disso”, diz.
Segundo Guedes, o CFM entregou ao Ministério da Saúde no ano passado uma análise da situação do atendimento médico no país. “Constatamos uma situação de falência da área. Além da fronteira, falta profissional de saúde na periferia das grandes cidades. Em março deste ano mandamos carta para o presidente Lula. De que adianta médico sem estrutura para trabalhar com dignidade”, ressalta. Dados do conselho mostram que o Brasil conta com 319 mil médicos. “Temos uma boa relação de médicos por número de habitantes no país. O problema está na distribuição geográfica da categoria porque o mercado é o único instrumento de distribuição de profissionais hoje”, explica Guedes. Estima-se que 75% dos 186 milhões de habitantes do país recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS). “São 140 milhões de pessoas que dependem de atendimento médico da prevenção à alta complexidade, já que apenas 40 milhões de brasileiros têm plano de saúde”, destaca o médico.
Folha de São Paulo TURISMO
Velha prisão foi transformada em três museus
Além de instalações da Marinha, a Argentina reforçou o povoado de Ushuaia com a construção de uma prisão -os prisioneiros foram encarregados das obras civis- que funcionou entre 1902 e 1947.
Ela era reservada a prisioneiros perigosos. Mas há versões de que o cantor Carlos Gardel (1890-1935), antes de iniciar a carreira artística, tenha sido um pensionista forçado das instalações.
A prisão virou hoje três museus, ao lado de um pequeno e interessante Museu da Marinha.
O primeiro é sobre a vida na colônia penal. E os dois outros, espaços para exposições de artes plásticas. (JBN)
Folha de São Paulo BRASIL
Minc diz que devastação cresceu e põe culpa em MT
O mais recente estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento na Amazônia responsabilizará o Estado de Mato Grosso por mais de 60% das ocorrências, disse Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente.
Os detalhes do estudo serão conhecidos na semana que vem, afirmou Minc, que esteve reunido no Rio com a cúpula do Inpe. Mesmo sem se aprofundar no assunto, o novo ministro usou as conclusões do instituto para criticar o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), que o atacara na véspera.
"Segunda-feira agora, o Inpe vai divulgar uma nova estatística de desmatamento de terra. (...) Vai ser um dado ruim, vai ser um dado de aumento. E, para variar, mais de 60% em qual Estado? Quem sabe? Mato Grosso", disse Minc, na entrevista concedida na Secretaria do Ambiente do Estado do Rio.
O ministro sugeriu a Blairo que passe a atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O governador Blairo Maggi é um homem público. Como todo homem público, tem que assumir responsabilidades. (...) Não quero impor nada a ninguém. Pelo contrário, estou chegando agora. (...) O presidente Lula disse OK [à proposta da guarda ambiental]. A partir de agora o Blairo não deve brigar comigo, deve brigar com o presidente", disse Minc, que toma posse na terça.
O novo ministro voltou a defender mais rapidez nos licenciamentos, em resposta ao futuro presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, que disse à Folha não ver motivos para agilizar a emissão das licenças. Segundo Minc, Messias Franco aceitou o cargo "nesses termos". O ideal, segundo ele, é que 10% do tempo dos funcionários do Ibama encarregados de licenciamento seja dedicado à análise da "burocracia", para "focar 90% no que interessa".
Para o ministro, "há dois caminhos para resolver bem a questão do agronegócio". Um é o que chama de zoneamento econômico-ecológico, que interessa "ao pessoal mais avançado do agronegócio" porque "dá uma regra clara: aqui pode, aqui não". O outro é "um setor que é atrasadíssimo, que está convertendo a Amazônia em pasto". Reiterou ser contra energia nuclear e a construção de Angra 3, mas como o governo já decidiu por ela, acatará a decisão sem questionamentos.
O Globo O PAÍS
Brasil quer criar Conselho de Defesa
Proposta será debatida em reunião de países sul-americanos amanhã
BRASÍLIA. Com o argumento de que é sempre mais fácil resolver os problemas conversando de forma pacífica, com base no diálogo construtivo, o governo brasileiro trabalha para que, na reunião de presidentes da América do Sul, que acontecerá amanhã, em Brasília, seja criado o Conselho de Defesa Sul-Americano. A proposta foi levada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, aos países da região e, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a expectativa é que a idéia receba a adesão das nações sul-americanas:
- Estamos confiantes. Isso só será benéfico para todos. Permitirá a discussão de temas e o esclarecimento de situações equívocas - disse Amorim, após participar de uma audiência pública no Senado. - Esperamos a adesão de todos.
Os chefes de Estado que estarão reunidos em Brasília vão assinar o tratado constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O Conselho de Defesa, explicou o ministro das Relações Exteriores, deverá ser criado em um ato à parte.
Algumas questões deverão ser discutidas, como a crise desencadeada pela incursão de tropas colombianas no Equador - quando foram mortos dezenas de guerrilheiros, entre eles o segundo homem das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes - e a necessidade de cooperação entre os exércitos dos países amazônicos, para preservar a Floresta Amazônica e proteger os povos que nela vivem.
O objetivo é promover uma articulação de políticas regionais de defesa, a organização de exercícios conjuntos e a harmonização de forças de paz. Outra diretriz consiste em uma aproximação entre as indústrias, o que poderia resultar na produção e exportação conjunta de armamento, veículos e equipamentos em geral da indústria bélica. O assunto foi tratado ontem por Jobim e o presidente Lula.
Fontes do Ministério da Defesa disseram que há respaldo para a criação do conselho de todos os países sul-americanos, "uns mais entusiastas que outros", caso da Colômbia, que ainda está analisando o tema. Uma das alternativas para agradar os colombianos é escolher Bogotá como sede do conselho.
Brasil informou aos EUA sobre proposta do conselho
As explicações sobre o Conselho de Defesa foram dadas ao governo dos Estados Unidos. Fontes da área diplomática comentaram que a Casa Branca estaria convencida de que a investida brasileira tem como alvo a cooperação, a amizade, a resposta mais rápida aos desastres naturais, as missões de país e o combate ao narcotráfico.
O Globo O PAÍS
Pressão mantém reajustes de servidores
Governo manda projeto de lei ao Congresso, mas não retira MPs da pauta
BRASÍLIA. Pressionado de um lado pelo Congresso - que reclama do excesso de medidas provisórias - e de outro pela equipe econômica - que diz não ter folga de caixa para novas despesas -, o governo encontrou uma saída intermediária para manter o reajuste salarial dos servidores públicos, principalmente dos militares. O Planalto resolveu mandar ainda ontem um projeto de lei para o Congresso, com urgência urgentíssima, abrindo crédito extraordinário de R$7,6 bilhões, para custear o reajuste. No entanto, as medidas provisórias que tratam dos dois assuntos não serão retiradas, como sugeriam os líderes do governo na noite de terça-feira. Só depois que o Congresso aprovar o projeto, será revogada a medida provisória do crédito extraordinário.
A retirada da medida provisória do crédito extraordinário, negociada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), com os líderes partidários, foi rechaçada pelos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Nelson Jobim (Defesa). Anteontem à noite, Jobim teve um diálogo ríspido com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que apoiou a iniciativa de Jucá. Jobim não quer contratempos que inviabilizem o aumento dos militares.
- Durante a noite, recebi um telefonema do ministro Nelson Jobim dizendo que a medida provisória e seus efeitos já estavam em vigor. Portanto, ela continua vigendo. Com o envio do projeto de lei, o que está acontecendo não sofrerá solução de continuidade, porque tem a proteção da MP - afirmou Múcio.
Num primeiro momento, Jucá sugeriu a substituição das duas MPs por projeto de lei. Depois, propôs que somente a medida provisória do crédito extraordinário fosse retirada, mas Paulo Bernardo argumentou que, se isso fosse feito, não haveria dinheiro para bancar os reajustes. O projeto de lei vai tramitar em regime de urgência constitucional - terá 45 dias para ser votado na Câmara e no Senado.
- Nós mandamos o crédito porque o volume de receita que está no Orçamento não é suficiente (para custear o aumento salarial). Se eu retirar o crédito, não tem dinheiro no Orçamento para dar o reajuste - afirmou Paulo Bernardo, fazendo prevalecer a proposta de manter as duas MPs tramitando até a votação do projeto de lei.
O reajuste beneficiará 17 categorias de servidores federais - 800 mil pessoas - e os militares das Forças Armadas. O aumento dos servidores civis vai custar R$3,4 bilhões. Os percentuais de aumento dos civis são variados: na Polícia Federal, por exemplo, o menor é de 11,05% e o maior, 101,97%. Nas carreiras da Previdência, Saúde e Trabalho chega a 137%. O impacto do aumento dos militares, entre 35,31% e 137,83%, é de R$4,2 bilhões. Os reajustes serão parcelados em três anos.
O Globo O PAÍS
A 'casca de banana atômica'
O licenciamento ambiental da usina de Angra 3 virou, nas palavras de Carlos Minc, "uma casca de banana atômica". Ontem, ele foi obrigado a deixar o histórico de opositor à energia nuclear e adotou um discurso político, de quem discorda mas precisa aceitar as condições impostas pelo governo. Minc disse acreditar que "o Brasil é a terra do sol, dos ventos e da biomassa". Mas deixou claro que não pretende se desgastar com o governo federal por isso.
- Sou conhecido por ser adversário do uso da energia nuclear, como o Fernando Gabeira, a Marina Silva e vários outros. Só que sou do governo. Quando o assunto foi votado no Conselho Nacional de Energia, a ex-ministra votou contra e foi voto vencido. Se estivesse lá, votaria como ela - disse Minc. - Até espero que a maior parte das nossas bandeiras sejam aprovadas pelo governo. Mas não tenho a pretensão de ser um cara mimado, que quer impor sua posição em todos os casos. O licenciamento será tratado com o rigor da lei e das compensações ambientais. (T.B.)
O Globo O PAÍS
Mais indústrias na floresta
Mangabeira expõe planos para Amazônia e é aclamado por ruralistas
Evandro Éboli
BRASÍLIA. O ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, saiu da Câmara ontem elogiado por representantes da bancada ruralista depois de expor seus planos para a Amazônia. No mesmo dia em que o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu que o desmatamento voltou a crescer, Mangabeira disse ser preciso vincular a floresta à indústria, instalando na Amazônia empresas que transformem os produtos florestais. Para alegria de parlamentares ligados ao agronegócio e a madeireiros, ele defendeu a instalação de indústrias na região e a flexibilização do direito de propriedade privada.
Mangabeira, coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), ressaltou que não se pode ver a região como um santuário intocável sem o desenvolvimento de ações produtivas, e defendeu alternativas "ambientalmente seguras e economicamente viáveis":
- O que a população da Amazônia mais quer é oportunidade de emprego. É preciso criar meios práticos para efetivar essa aspiração.
"Faltaram visão econômica e segurança jurídica"
Também disse que, se a população da região, os pequenos produtores e os extrativistas não tiverem oportunidades e instrumentos econômicos, "serão levados mesmo a desmatar". O ministro afirmou, em audiência na Comissão da Amazônia, que as duas principais atividades econômicas na região são a produção da Zona Franca de Manaus e a mineração no Pará.
- São atividades econômicas que têm pouco a ver com a floresta.
O ministro citou várias vezes a necessidade de se fazer o zoneamento econômico e ecológico da Amazônia, um levantamento cartográfico que irá não apenas identificar os diversos biomas da Amazônia, mas apontar a exploração econômica mais adequada para cada região.
- Há muito tempo se fala nesse zoneamento. Fala-se muito e faz-se muito menos. Faltaram visão econômica e segurança jurídica.
Mangabeira disse que é preciso resolver o problema fundiário da Amazônia, onde proprietários de terra não têm a titulação da área. Ele disse que esse fator gera insegurança jurídica:
- É preciso uma revisão do arcabouço jurídico. Nenhum país continental resolveu isso sem simplificar o direito de propriedade. É necessário sair da situação de posse insegura para a posse segura da terra.
O ministro elogiou recente decisão do governo de dispensar licitação para transferência de terras para particulares, mas considerou esta medida ainda insuficiente.
- É preciso mais. Tem que se permitir a quem goza da posse da terra que goze também das prerrogativas da propriedade.
Mangabeira defendeu o pagamento de uma remuneração específica para pequenos produtores e extrativistas, segundo ele uma espécie de compensação mensal pela vigilância da terra.
A audiência não chegou ao fim. O ministro tinha um compromisso e teve que se retirar, o que irritou alguns parlamentares.
- É uma deselegância isso. Nós também temos compromissos e os deixamos de lado para comparecer aqui e não só para ouvir, mas também para falar - protestou Márcio Junqueira (DEM-RR), ligado ao líder arrozeiro Paulo César Quartiero.
"É bom saber que o senhor tem outra visão", comemora ruralista
O ministro pediu desculpas e comprometeu-se a retornar.
Deputados ligados a fazendeiros e madeireiros, como Giovanni Queiroz (PDT-PA), parabenizaram o ministro:
- O Ministério do Meio Ambiente tem sido omisso e acomodado. Que bom saber que o senhor tem outra visão e pretende tirar a Amazônia do estrangulamento econômico que vive.
- O fundamentalismo está sendo substituído pela inteligência - disse Nilson Pinto (PSDB-PA).
O Globo O PAÍS
POLÍTICA AMBIENTAL
Minc: desmatamento aumentou
Tulio Brandão e Anselmo Carvalho Pinto
Em resposta a Maggi, ministro diz que Mato Grosso é maior responsável por avanço da devastação
- Na próxima segunda, o Inpe vai divulgar dados estatísticos de desmatamento em tempo real. Vai ser um dado ruim, de aumento. E, para variar, mais de 60% em que estado? Em Mato Grosso - disse o ministro.
De acordo com a assessoria do Inpe, o sistema Deter, divulgado mensalmente, é sujeito a imprecisões por não ter resolução suficiente para identificar desmatamentos menores que 25 hectares e sofrer com a influência das nuvens. Nem toda área de corte de árvores é identificada. Segundo o instituto, a possibilidade de observação em Mato Grosso aumentou muito de março para abril, já que apenas 14% da área daquele estado esteve sob nuvens no mês anterior.
O levantamento de desmatamento mensal é feito pelo Inpe desde maio de 2004, com dados do sensor Modis, do satélite Terra/Aqua, e do Sensor WFI do satélite CBERS, de resolução de 250 metros. Segundo o instituto, há uma possibilidade remota de os dados completos do mês de abril serem divulgados amanhã.
Governo de MT estranha dados
No último levantamento do Deter divulgado pelo Inpe, relativo a março, mais da metade dos pontos de desmatamento identificados na Amazônia já estavam em Mato Grosso - 27 de 52. Minc disse ontem, durante entrevista de apresentação da nova secretária do Ambiente do Rio, Marilene Ramos, que Maggi terá que assumir responsabilidades com o presidente Lula. O presidente já teria autorizado Minc a solicitar aos governadores o uso da PM no combate a crimes ambientais.
- Estou chegando agora, não quero criar polêmica. Eu conversei inicialmente sobre o Exército. O ministro Tarso Genro (Justiça) sugeriu o outro caminho (da PM), explicou que era mais simples. Levamos a questão ao Lula, que deu o OK. A partir de agora, o Blairo não deve brigar comigo, e sim com o presidente Lula, que já bateu o martelo - afirmou o novo ministro.
O governo de Mato Grosso reagiu à declaração de Minc sobre o aumento do desmatamento. O secretário-adjunto de Qualidade Ambiental, Salatiel Alves de Araújo, estranhou a divulgação dos dados pelo novo ministro:
- Essas informações são estranhas. Estão totalmente desconexas com a metodologia utilizada pelo Inpe. Estamos averiguando para saber que números novos são esses.
Segundo Araújo, o Inpe não tabulou o desmate dos primeiros meses de 2007, o que impediria comparação com o mesmo período em 2008:
- Ele (Minc) fala em aumento nos primeiros cinco meses do ano, mas maio nem terminou. É estranho.
O governo de Mato Grosso insiste que, ao contrário do que tem sido informado, o desmatamento no estado diminuiu nos últimos cinco anos. Em seu favor, usa os números do Inpe consolidados pelo Prodes, de monitoramento da Amazônia por satélite. Segundo o Prodes, a área devastada no estado caiu de 11.814 km² entre 2003 e 2004 para 2.476 km² entre 2006 e 2007. Os dados são de agosto a agosto.
O secretário também contesta a divulgação pelo ministério de dados do Deter, como dados consolidados:
- O Deter serve para mostrar indícios de desmatamento. O Prodes é o número final, com o qual dá para fazer comparações entre um ano e outro.
O Globo ECONOMIA
YES, NÓS TEMOS ENERGIA
Descobertas a toque de caixa
Ramona Ordoñez e Juliana Rangel
Petrobras anuncia mais óleo no pré-sal em corrida contra o tempo para garantir blocos
APetrobras anunciou ontem mais uma descoberta em águas ultraprofundas na Bacia de Santos, abaixo da camada de sal, numa área batizada de Bem-te-vi. Foi o sexto anúncio desde o ano passado. Segundo uma fonte da estatal, a companhia corre contra o tempo: com só três sondas capazes de perfurar em grande profundidade, precisa confirmar a existência de petróleo ou gás nos sete blocos no pré-sal de Santos antes do vencimento dos contratos de concessão que tem com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). A maioria vence até outubro. Os blocos têm de ser devolvidos à ANP, se não houver descobertas até lá.
Em consórcio no qual é operadora e sócia da Shell e da portuguesa Galp Energia, a Petrobras descobriu petróleo de boa qualidade, em um poço no bloco BMS-8, a 250 km da costa de São Paulo e a uma profundidade total de 6.773 metros. A estatal não divulgou estimativas de reservas.
Segundo a fonte, a Petrobras identifica indícios de petróleo e desloca a sonda para outro bloco, ganhando mais prazo para apresentar à ANP seu plano de avaliação. Um dos fatores importantes na descoberta de ontem é que o petróleo está a mais de 6 mil metros, contra os 5 mil de Tupi, Júpiter e Carioca - quanto a este, o presidente da ANP, Haroldo Lima, declarou mês passado que as reservas seriam de 33 bilhões de barris, o que foi desmentido pela Petrobras.
- Descemos a uma profundidade maior e a estrutura de petróleo continua, é bem extensa - disse a fonte.
Descobertas podem formar único campo
Já se descobriram indícios também no BMS-21 (Caramba) e no BMS-10 (Parati). Uma das sondas está indo para a área Yara, no BMS-11, onde fica Tupi. Outra está em Carioca, e a terceira vai para o BMS-24, onde fica Júpiter. No BMS-22, operado pela Exxon em consórcio com a Petrobras, ainda não foram feitas descobertas.
Cogita-se que todas as áreas do pré-sal de Santos formam um único campo, com até 50 bilhões de barris de óleo recuperável. Segundo o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da Coppe/UFRJ, acreditava-se que o maior campo do mundo - Gawar, na Arábia Saudita - fossem vários campos em separado e, depois, constatou-se que era um só.
- Como se trata de uma área contígua a Tupi, qualquer coisa que seja descoberta no entorno vai deixar o mercado animado - diz o analista Felipe Cunha, da Brascan.
As ações preferenciais da Petrobras (PN, sem direito a voto) fecharam a R$52,51, com alta de 1,64%. As ações ordinárias (ON) subiram 1,3%, para R$62,30. Em sete dias, as ações PN avançaram 13,41% e as ON, 12,53%.
A expectativa do anúncio da descoberta, feita após o fechamento do mercado no Brasil, impulsionou as ações de parceiras da Petrobras no exterior. Em Nova York, as ações da Shell avançaram 2,51%, enquanto as ADRs da Petrobras, 1,46%. Em Portugal, as ações da Galp Energia subiram 3,9%. Anteontem, o presidente-executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, afirmara, ao anunciar lucros acima do esperado, que os desdobramentos das perfurações em Bem-te-vi seriam anunciados em breve.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem que a Petrobras seja "o motor do desenvolvimento brasileiro", comprando máquinas e insumos do mercado nacional.
- A Petrobras vai crescer muito, e eu quero que os navios, as plataformas e as sondas sejam todos produzidos aqui, gerando mais empregos e mais renda - disse Lula, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), segundo participantes.
Durante o dia, a Petrobras chegou a superar a General Electric (GE) como quinta maior empresa do mundo, com valor de mercado de US$313,8 bilhões. A GE caiu 2,3% em Nova York, o que reduziu seu valor para US$308,9 bilhões. Mas no fechamento da Bovespa, a estatal voltou a US$307,8 bilhões.
O Globo ECONOMIA
BB negocia compra do banco paulista Nossa Caixa
Objetivo da instituição é liderar mercado em São Paulo, onde ocupa o 4º lugar. Analista estima operação em pelo menos R$9 bi
Aguinaldo Novo, Henrique Gomes Batista e Geralda D
BRASÍLIA e SÃO PAULO. Buscando desbancar a concorrência no mercado paulista - no qual, apesar de líder nacional, amarga a quarta posição -, o Banco do Brasil (BB) anunciou ontem à noite que iniciou negociações para a compra da Nossa Caixa. O banco, controlado pelo governo de São Paulo, tem ativos de R$47,431 bilhões - que renderam lucro líquido de R$114,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, 31% a mais do que no mesmo período de 2007 - e 5,7 milhões de clientes. A operação depende de aval da Assembléia Legislativa de São Paulo.
A Nossa Caixa é vista no mercado como "a grande jóia" entre os bancos estaduais. Seu principal trunfo são as receitas provenientes da administração da folha de pagamento do governo paulista, cujo direito foi comprado em 2007 por R$2 bilhões.
O presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, estima que o BB teria de gastar na operação entre 3 e 3,5 vezes o patrimônio líquido da Nossa Caixa (R$2,9 bilhões), o que corresponderia a pelo menos R$9 bilhões.
A intenção do negócio, sem prazo para conclusão, foi informada em fato relevante enviado à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
- Essa postura faz parte de uma estratégia adotada desde o ano passado, com as negociações para a incorporação do Besc (banco estadual catarinense) e do BRB (do governo do Distrito Federal). Mas também tivemos outras ações, como abertura de uma diretoria de cartão de crédito, que nos possibilita oferecê-los aos não-clientes, criação do financiamento imobiliário e reforço em nossa presença no financiamento de veículos - afirmou Antonio Lima Neto, presidente do BB.
Segundo ele, a aquisição levaria o BB a disputar a liderança do mercado paulista:
- O estado é a arena bancária mais competitiva do país.
Na semana passada, o BB anunciou que absorverá o Banco Popular, subsidiária criada em 2003 para atender a baixa renda e que nunca obteve lucros.
Segundo Lima Neto, as tratativas iniciais foram técnicas e sem conversas diretas com o governador José Serra (PSDB).
O Globo O MUNDO
Líbano: acordo põe fim a crise
Hezbollah terá poder de veto em decisões do governo e lei eleitoral será modificada
TEL AVIV. Após seis dias de diálogo em Doha, no Qatar, representantes do governo libanês e da oposição, liderada pelo grupo xiita Hezbollah, chegaram a um acordo para pôr fim a 18 meses de crise que deixaram o Líbano à beira de uma guerra civil. Numa negociação mediada pela Liga Árabe, o documento final prevê reformas eleitorais e a nomeação de um novo presidentes, além de dar poder de veto à oposição. O acordo é considerado por analistas uma vitória do Hezbollah após uma violenta demonstração de força que paralisou o país há duas semanas.
O Parlamento libanês convocou uma sessão para domingo para nomear o comandante do Exército, o general Michel Suleiman, presidente, cargo vago há seis meses. A coalizão de maioria sunita que sustenta o premier, Fuad Siniora, formará um governo de união nacional.
Coalizão no poder terá 14 dos 30 ministros, oposição 11
O documento determina que a coalizão 14 de Março vai manter 14 das 30 pastas do Gabinete e o poder de escolher o premier. A oposição fica com 11 ministros, e outros três serão escolhidos pelo presidente. O acordo também prevê a discussão de novas leis eleitorais que garantam maior representatividade aos 18 grupos étnicos e religiosos do Líbano nas próximas eleições, ano que vem. Em troca, os opositores garantiram que não vão recorrer às armas em caso de novas divergências políticas.
Irã e Síria, que apóiam o Hezbollah, elogiaram o acordo. Mas analistas temem que as concessões feitas ao grupo podem afetar a credibilidade do 14 de Março, e ainda há ceticismo quanto à estabilidade do país. Há poucos dias, o líder do partido Mustaqbal, Saad Hariri, garantiu aos libaneses não estar disposto a revogar as medidas tomadas contra o grupo radical. Ontem, horas após a assinatura da resolução, Hariri comemorou, afirmando que o entendimento era uma vitória que colocaria o Líbano numa nova era.
O país está sem presidente desde novembro de 2007, quando Emile Lahoud, pró-Síria, deixou o cargo. A crise se agravou há duas semanas, quando o governo anunciou medidas para investigar o Hezbollah. O grupo respondeu com protestos que se transformaram em confrontos entre milícias governistas e oposicionistas em diversos pontos do Líbano. Pelo menos 65 pessoas morreram. (R.M.)
Ministro anuncia que pedirá ajuda às Forças Armadas para levar médicos a 200 municípios na fronteira do país. Ao todo, mil cidades brasileiras não têm nenhum profissional da área à disposição
Da Redação
Os habitantes dos rincões do Brasil que contam apenas com benzedeiras e ervas medicinais para curar seus males podem ter, finalmente, o direito constitucional de saúde garantido. O Ministério da Saúde quer levar médicos para cerca de 200 municípios na fronteira do Brasil onde não existem profissionais da área. Para suprir a falta do principal responsável pela promoção da saúde da população, o ministro José Gomes Temporão quer recorrer ao Exército e à Marinha. Mas o Conselho Federal de Medicina (CFM) lembra que o déficit de médicos não é por falta de pessoal, mas pela falta de uma política de promoção do segmento.
“No total, temos mil municípios sem médicos”, observou ontem Temporão, que promete para junho a finalização de uma proposta em discussão no governo para resolver a deficiência na área. Temporão disse que a Saúde está negociando com o Ministério da Defesa para que as Forças Armadas fiquem encarregadas de dar assistência médica a 20% das cidades que não dispõem de médicos. “Principalmente as que ficam nas fronteiras, mediante um repasse de recursos. Temos de chegar a essas pessoas de alguma forma”, ressalta.
O Ministério da Defesa já atua no atendimento a comunidades distantes. Em regiões da Amazônia onde só se chega de barco ou avião, por exemplo, a Força Nacional Terrestre monta hospitais de campanha e realiza atendimentos médicos. Já a Marinha atua por meio de embarcações de assistência hospitalar. Na semana passada, o navio Oswaldo Cruz concluiu atendimento a 20 comunidades ribeirinhas do Vale do Javari. Segundo informações do Comando do 9º Distrito Naval da Marinha, em Manaus, foram realizados 4,7 mil procedimentos de saúde como atendimentos médicos, odontológicos, de enfermagem e vacinação.
Déficit
A declaração do ministro foi feita no dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um estudo constatando que a falta de médicos chega a 4,3 milhões no mundo. Segundo o levantamento, um dos principais problemas seria a falta de investimentos dos países em desenvolvimento. Segundo o ministro Temporão, está em estudo a criação de uma nova carreira no sistema público para atrair médicos para essas regiões mais remotas.
“É só fazer concurso público com perspectivas profissionais que vai ter médico nos rincões do país”, dispara o integrante do Conselho Federal de Medicina (CFM) Geraldo Guedes, coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS do conselho. “Carreira de estado como juiz e promotor vai para essas regiões porque tem perspectiva de ir para locais melhores depois de cumprir um tempo de serviço. As Forças Armadas vão cobrir um espaço onde o Estado se omitiu. Falta políticas de incentivo e o governo sabe disso”, diz.
Segundo Guedes, o CFM entregou ao Ministério da Saúde no ano passado uma análise da situação do atendimento médico no país. “Constatamos uma situação de falência da área. Além da fronteira, falta profissional de saúde na periferia das grandes cidades. Em março deste ano mandamos carta para o presidente Lula. De que adianta médico sem estrutura para trabalhar com dignidade”, ressalta. Dados do conselho mostram que o Brasil conta com 319 mil médicos. “Temos uma boa relação de médicos por número de habitantes no país. O problema está na distribuição geográfica da categoria porque o mercado é o único instrumento de distribuição de profissionais hoje”, explica Guedes. Estima-se que 75% dos 186 milhões de habitantes do país recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS). “São 140 milhões de pessoas que dependem de atendimento médico da prevenção à alta complexidade, já que apenas 40 milhões de brasileiros têm plano de saúde”, destaca o médico.
Folha de São Paulo TURISMO
Velha prisão foi transformada em três museus
Além de instalações da Marinha, a Argentina reforçou o povoado de Ushuaia com a construção de uma prisão -os prisioneiros foram encarregados das obras civis- que funcionou entre 1902 e 1947.
Ela era reservada a prisioneiros perigosos. Mas há versões de que o cantor Carlos Gardel (1890-1935), antes de iniciar a carreira artística, tenha sido um pensionista forçado das instalações.
A prisão virou hoje três museus, ao lado de um pequeno e interessante Museu da Marinha.
O primeiro é sobre a vida na colônia penal. E os dois outros, espaços para exposições de artes plásticas. (JBN)
Folha de São Paulo BRASIL
Minc diz que devastação cresceu e põe culpa em MT
O mais recente estudo do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) sobre desmatamento na Amazônia responsabilizará o Estado de Mato Grosso por mais de 60% das ocorrências, disse Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente.
Os detalhes do estudo serão conhecidos na semana que vem, afirmou Minc, que esteve reunido no Rio com a cúpula do Inpe. Mesmo sem se aprofundar no assunto, o novo ministro usou as conclusões do instituto para criticar o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), que o atacara na véspera.
"Segunda-feira agora, o Inpe vai divulgar uma nova estatística de desmatamento de terra. (...) Vai ser um dado ruim, vai ser um dado de aumento. E, para variar, mais de 60% em qual Estado? Quem sabe? Mato Grosso", disse Minc, na entrevista concedida na Secretaria do Ambiente do Estado do Rio.
O ministro sugeriu a Blairo que passe a atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O governador Blairo Maggi é um homem público. Como todo homem público, tem que assumir responsabilidades. (...) Não quero impor nada a ninguém. Pelo contrário, estou chegando agora. (...) O presidente Lula disse OK [à proposta da guarda ambiental]. A partir de agora o Blairo não deve brigar comigo, deve brigar com o presidente", disse Minc, que toma posse na terça.
O novo ministro voltou a defender mais rapidez nos licenciamentos, em resposta ao futuro presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, que disse à Folha não ver motivos para agilizar a emissão das licenças. Segundo Minc, Messias Franco aceitou o cargo "nesses termos". O ideal, segundo ele, é que 10% do tempo dos funcionários do Ibama encarregados de licenciamento seja dedicado à análise da "burocracia", para "focar 90% no que interessa".
Para o ministro, "há dois caminhos para resolver bem a questão do agronegócio". Um é o que chama de zoneamento econômico-ecológico, que interessa "ao pessoal mais avançado do agronegócio" porque "dá uma regra clara: aqui pode, aqui não". O outro é "um setor que é atrasadíssimo, que está convertendo a Amazônia em pasto". Reiterou ser contra energia nuclear e a construção de Angra 3, mas como o governo já decidiu por ela, acatará a decisão sem questionamentos.
O Globo O PAÍS
Brasil quer criar Conselho de Defesa
Proposta será debatida em reunião de países sul-americanos amanhã
BRASÍLIA. Com o argumento de que é sempre mais fácil resolver os problemas conversando de forma pacífica, com base no diálogo construtivo, o governo brasileiro trabalha para que, na reunião de presidentes da América do Sul, que acontecerá amanhã, em Brasília, seja criado o Conselho de Defesa Sul-Americano. A proposta foi levada pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, aos países da região e, segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a expectativa é que a idéia receba a adesão das nações sul-americanas:
- Estamos confiantes. Isso só será benéfico para todos. Permitirá a discussão de temas e o esclarecimento de situações equívocas - disse Amorim, após participar de uma audiência pública no Senado. - Esperamos a adesão de todos.
Os chefes de Estado que estarão reunidos em Brasília vão assinar o tratado constitutivo da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O Conselho de Defesa, explicou o ministro das Relações Exteriores, deverá ser criado em um ato à parte.
Algumas questões deverão ser discutidas, como a crise desencadeada pela incursão de tropas colombianas no Equador - quando foram mortos dezenas de guerrilheiros, entre eles o segundo homem das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes - e a necessidade de cooperação entre os exércitos dos países amazônicos, para preservar a Floresta Amazônica e proteger os povos que nela vivem.
O objetivo é promover uma articulação de políticas regionais de defesa, a organização de exercícios conjuntos e a harmonização de forças de paz. Outra diretriz consiste em uma aproximação entre as indústrias, o que poderia resultar na produção e exportação conjunta de armamento, veículos e equipamentos em geral da indústria bélica. O assunto foi tratado ontem por Jobim e o presidente Lula.
Fontes do Ministério da Defesa disseram que há respaldo para a criação do conselho de todos os países sul-americanos, "uns mais entusiastas que outros", caso da Colômbia, que ainda está analisando o tema. Uma das alternativas para agradar os colombianos é escolher Bogotá como sede do conselho.
Brasil informou aos EUA sobre proposta do conselho
As explicações sobre o Conselho de Defesa foram dadas ao governo dos Estados Unidos. Fontes da área diplomática comentaram que a Casa Branca estaria convencida de que a investida brasileira tem como alvo a cooperação, a amizade, a resposta mais rápida aos desastres naturais, as missões de país e o combate ao narcotráfico.
O Globo O PAÍS
Pressão mantém reajustes de servidores
Governo manda projeto de lei ao Congresso, mas não retira MPs da pauta
BRASÍLIA. Pressionado de um lado pelo Congresso - que reclama do excesso de medidas provisórias - e de outro pela equipe econômica - que diz não ter folga de caixa para novas despesas -, o governo encontrou uma saída intermediária para manter o reajuste salarial dos servidores públicos, principalmente dos militares. O Planalto resolveu mandar ainda ontem um projeto de lei para o Congresso, com urgência urgentíssima, abrindo crédito extraordinário de R$7,6 bilhões, para custear o reajuste. No entanto, as medidas provisórias que tratam dos dois assuntos não serão retiradas, como sugeriam os líderes do governo na noite de terça-feira. Só depois que o Congresso aprovar o projeto, será revogada a medida provisória do crédito extraordinário.
A retirada da medida provisória do crédito extraordinário, negociada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), com os líderes partidários, foi rechaçada pelos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Nelson Jobim (Defesa). Anteontem à noite, Jobim teve um diálogo ríspido com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, que apoiou a iniciativa de Jucá. Jobim não quer contratempos que inviabilizem o aumento dos militares.
- Durante a noite, recebi um telefonema do ministro Nelson Jobim dizendo que a medida provisória e seus efeitos já estavam em vigor. Portanto, ela continua vigendo. Com o envio do projeto de lei, o que está acontecendo não sofrerá solução de continuidade, porque tem a proteção da MP - afirmou Múcio.
Num primeiro momento, Jucá sugeriu a substituição das duas MPs por projeto de lei. Depois, propôs que somente a medida provisória do crédito extraordinário fosse retirada, mas Paulo Bernardo argumentou que, se isso fosse feito, não haveria dinheiro para bancar os reajustes. O projeto de lei vai tramitar em regime de urgência constitucional - terá 45 dias para ser votado na Câmara e no Senado.
- Nós mandamos o crédito porque o volume de receita que está no Orçamento não é suficiente (para custear o aumento salarial). Se eu retirar o crédito, não tem dinheiro no Orçamento para dar o reajuste - afirmou Paulo Bernardo, fazendo prevalecer a proposta de manter as duas MPs tramitando até a votação do projeto de lei.
O reajuste beneficiará 17 categorias de servidores federais - 800 mil pessoas - e os militares das Forças Armadas. O aumento dos servidores civis vai custar R$3,4 bilhões. Os percentuais de aumento dos civis são variados: na Polícia Federal, por exemplo, o menor é de 11,05% e o maior, 101,97%. Nas carreiras da Previdência, Saúde e Trabalho chega a 137%. O impacto do aumento dos militares, entre 35,31% e 137,83%, é de R$4,2 bilhões. Os reajustes serão parcelados em três anos.
O Globo O PAÍS
A 'casca de banana atômica'
O licenciamento ambiental da usina de Angra 3 virou, nas palavras de Carlos Minc, "uma casca de banana atômica". Ontem, ele foi obrigado a deixar o histórico de opositor à energia nuclear e adotou um discurso político, de quem discorda mas precisa aceitar as condições impostas pelo governo. Minc disse acreditar que "o Brasil é a terra do sol, dos ventos e da biomassa". Mas deixou claro que não pretende se desgastar com o governo federal por isso.
- Sou conhecido por ser adversário do uso da energia nuclear, como o Fernando Gabeira, a Marina Silva e vários outros. Só que sou do governo. Quando o assunto foi votado no Conselho Nacional de Energia, a ex-ministra votou contra e foi voto vencido. Se estivesse lá, votaria como ela - disse Minc. - Até espero que a maior parte das nossas bandeiras sejam aprovadas pelo governo. Mas não tenho a pretensão de ser um cara mimado, que quer impor sua posição em todos os casos. O licenciamento será tratado com o rigor da lei e das compensações ambientais. (T.B.)
O Globo O PAÍS
Mais indústrias na floresta
Mangabeira expõe planos para Amazônia e é aclamado por ruralistas
Evandro Éboli
BRASÍLIA. O ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, saiu da Câmara ontem elogiado por representantes da bancada ruralista depois de expor seus planos para a Amazônia. No mesmo dia em que o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu que o desmatamento voltou a crescer, Mangabeira disse ser preciso vincular a floresta à indústria, instalando na Amazônia empresas que transformem os produtos florestais. Para alegria de parlamentares ligados ao agronegócio e a madeireiros, ele defendeu a instalação de indústrias na região e a flexibilização do direito de propriedade privada.
Mangabeira, coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS), ressaltou que não se pode ver a região como um santuário intocável sem o desenvolvimento de ações produtivas, e defendeu alternativas "ambientalmente seguras e economicamente viáveis":
- O que a população da Amazônia mais quer é oportunidade de emprego. É preciso criar meios práticos para efetivar essa aspiração.
"Faltaram visão econômica e segurança jurídica"
Também disse que, se a população da região, os pequenos produtores e os extrativistas não tiverem oportunidades e instrumentos econômicos, "serão levados mesmo a desmatar". O ministro afirmou, em audiência na Comissão da Amazônia, que as duas principais atividades econômicas na região são a produção da Zona Franca de Manaus e a mineração no Pará.
- São atividades econômicas que têm pouco a ver com a floresta.
O ministro citou várias vezes a necessidade de se fazer o zoneamento econômico e ecológico da Amazônia, um levantamento cartográfico que irá não apenas identificar os diversos biomas da Amazônia, mas apontar a exploração econômica mais adequada para cada região.
- Há muito tempo se fala nesse zoneamento. Fala-se muito e faz-se muito menos. Faltaram visão econômica e segurança jurídica.
Mangabeira disse que é preciso resolver o problema fundiário da Amazônia, onde proprietários de terra não têm a titulação da área. Ele disse que esse fator gera insegurança jurídica:
- É preciso uma revisão do arcabouço jurídico. Nenhum país continental resolveu isso sem simplificar o direito de propriedade. É necessário sair da situação de posse insegura para a posse segura da terra.
O ministro elogiou recente decisão do governo de dispensar licitação para transferência de terras para particulares, mas considerou esta medida ainda insuficiente.
- É preciso mais. Tem que se permitir a quem goza da posse da terra que goze também das prerrogativas da propriedade.
Mangabeira defendeu o pagamento de uma remuneração específica para pequenos produtores e extrativistas, segundo ele uma espécie de compensação mensal pela vigilância da terra.
A audiência não chegou ao fim. O ministro tinha um compromisso e teve que se retirar, o que irritou alguns parlamentares.
- É uma deselegância isso. Nós também temos compromissos e os deixamos de lado para comparecer aqui e não só para ouvir, mas também para falar - protestou Márcio Junqueira (DEM-RR), ligado ao líder arrozeiro Paulo César Quartiero.
"É bom saber que o senhor tem outra visão", comemora ruralista
O ministro pediu desculpas e comprometeu-se a retornar.
Deputados ligados a fazendeiros e madeireiros, como Giovanni Queiroz (PDT-PA), parabenizaram o ministro:
- O Ministério do Meio Ambiente tem sido omisso e acomodado. Que bom saber que o senhor tem outra visão e pretende tirar a Amazônia do estrangulamento econômico que vive.
- O fundamentalismo está sendo substituído pela inteligência - disse Nilson Pinto (PSDB-PA).
O Globo O PAÍS
POLÍTICA AMBIENTAL
Minc: desmatamento aumentou
Tulio Brandão e Anselmo Carvalho Pinto
Em resposta a Maggi, ministro diz que Mato Grosso é maior responsável por avanço da devastação
- Na próxima segunda, o Inpe vai divulgar dados estatísticos de desmatamento em tempo real. Vai ser um dado ruim, de aumento. E, para variar, mais de 60% em que estado? Em Mato Grosso - disse o ministro.
De acordo com a assessoria do Inpe, o sistema Deter, divulgado mensalmente, é sujeito a imprecisões por não ter resolução suficiente para identificar desmatamentos menores que 25 hectares e sofrer com a influência das nuvens. Nem toda área de corte de árvores é identificada. Segundo o instituto, a possibilidade de observação em Mato Grosso aumentou muito de março para abril, já que apenas 14% da área daquele estado esteve sob nuvens no mês anterior.
O levantamento de desmatamento mensal é feito pelo Inpe desde maio de 2004, com dados do sensor Modis, do satélite Terra/Aqua, e do Sensor WFI do satélite CBERS, de resolução de 250 metros. Segundo o instituto, há uma possibilidade remota de os dados completos do mês de abril serem divulgados amanhã.
Governo de MT estranha dados
No último levantamento do Deter divulgado pelo Inpe, relativo a março, mais da metade dos pontos de desmatamento identificados na Amazônia já estavam em Mato Grosso - 27 de 52. Minc disse ontem, durante entrevista de apresentação da nova secretária do Ambiente do Rio, Marilene Ramos, que Maggi terá que assumir responsabilidades com o presidente Lula. O presidente já teria autorizado Minc a solicitar aos governadores o uso da PM no combate a crimes ambientais.
- Estou chegando agora, não quero criar polêmica. Eu conversei inicialmente sobre o Exército. O ministro Tarso Genro (Justiça) sugeriu o outro caminho (da PM), explicou que era mais simples. Levamos a questão ao Lula, que deu o OK. A partir de agora, o Blairo não deve brigar comigo, e sim com o presidente Lula, que já bateu o martelo - afirmou o novo ministro.
O governo de Mato Grosso reagiu à declaração de Minc sobre o aumento do desmatamento. O secretário-adjunto de Qualidade Ambiental, Salatiel Alves de Araújo, estranhou a divulgação dos dados pelo novo ministro:
- Essas informações são estranhas. Estão totalmente desconexas com a metodologia utilizada pelo Inpe. Estamos averiguando para saber que números novos são esses.
Segundo Araújo, o Inpe não tabulou o desmate dos primeiros meses de 2007, o que impediria comparação com o mesmo período em 2008:
- Ele (Minc) fala em aumento nos primeiros cinco meses do ano, mas maio nem terminou. É estranho.
O governo de Mato Grosso insiste que, ao contrário do que tem sido informado, o desmatamento no estado diminuiu nos últimos cinco anos. Em seu favor, usa os números do Inpe consolidados pelo Prodes, de monitoramento da Amazônia por satélite. Segundo o Prodes, a área devastada no estado caiu de 11.814 km² entre 2003 e 2004 para 2.476 km² entre 2006 e 2007. Os dados são de agosto a agosto.
O secretário também contesta a divulgação pelo ministério de dados do Deter, como dados consolidados:
- O Deter serve para mostrar indícios de desmatamento. O Prodes é o número final, com o qual dá para fazer comparações entre um ano e outro.
O Globo ECONOMIA
YES, NÓS TEMOS ENERGIA
Descobertas a toque de caixa
Ramona Ordoñez e Juliana Rangel
Petrobras anuncia mais óleo no pré-sal em corrida contra o tempo para garantir blocos
APetrobras anunciou ontem mais uma descoberta em águas ultraprofundas na Bacia de Santos, abaixo da camada de sal, numa área batizada de Bem-te-vi. Foi o sexto anúncio desde o ano passado. Segundo uma fonte da estatal, a companhia corre contra o tempo: com só três sondas capazes de perfurar em grande profundidade, precisa confirmar a existência de petróleo ou gás nos sete blocos no pré-sal de Santos antes do vencimento dos contratos de concessão que tem com a Agência Nacional do Petróleo (ANP). A maioria vence até outubro. Os blocos têm de ser devolvidos à ANP, se não houver descobertas até lá.
Em consórcio no qual é operadora e sócia da Shell e da portuguesa Galp Energia, a Petrobras descobriu petróleo de boa qualidade, em um poço no bloco BMS-8, a 250 km da costa de São Paulo e a uma profundidade total de 6.773 metros. A estatal não divulgou estimativas de reservas.
Segundo a fonte, a Petrobras identifica indícios de petróleo e desloca a sonda para outro bloco, ganhando mais prazo para apresentar à ANP seu plano de avaliação. Um dos fatores importantes na descoberta de ontem é que o petróleo está a mais de 6 mil metros, contra os 5 mil de Tupi, Júpiter e Carioca - quanto a este, o presidente da ANP, Haroldo Lima, declarou mês passado que as reservas seriam de 33 bilhões de barris, o que foi desmentido pela Petrobras.
- Descemos a uma profundidade maior e a estrutura de petróleo continua, é bem extensa - disse a fonte.
Descobertas podem formar único campo
Já se descobriram indícios também no BMS-21 (Caramba) e no BMS-10 (Parati). Uma das sondas está indo para a área Yara, no BMS-11, onde fica Tupi. Outra está em Carioca, e a terceira vai para o BMS-24, onde fica Júpiter. No BMS-22, operado pela Exxon em consórcio com a Petrobras, ainda não foram feitas descobertas.
Cogita-se que todas as áreas do pré-sal de Santos formam um único campo, com até 50 bilhões de barris de óleo recuperável. Segundo o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da Coppe/UFRJ, acreditava-se que o maior campo do mundo - Gawar, na Arábia Saudita - fossem vários campos em separado e, depois, constatou-se que era um só.
- Como se trata de uma área contígua a Tupi, qualquer coisa que seja descoberta no entorno vai deixar o mercado animado - diz o analista Felipe Cunha, da Brascan.
As ações preferenciais da Petrobras (PN, sem direito a voto) fecharam a R$52,51, com alta de 1,64%. As ações ordinárias (ON) subiram 1,3%, para R$62,30. Em sete dias, as ações PN avançaram 13,41% e as ON, 12,53%.
A expectativa do anúncio da descoberta, feita após o fechamento do mercado no Brasil, impulsionou as ações de parceiras da Petrobras no exterior. Em Nova York, as ações da Shell avançaram 2,51%, enquanto as ADRs da Petrobras, 1,46%. Em Portugal, as ações da Galp Energia subiram 3,9%. Anteontem, o presidente-executivo da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, afirmara, ao anunciar lucros acima do esperado, que os desdobramentos das perfurações em Bem-te-vi seriam anunciados em breve.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou ontem que a Petrobras seja "o motor do desenvolvimento brasileiro", comprando máquinas e insumos do mercado nacional.
- A Petrobras vai crescer muito, e eu quero que os navios, as plataformas e as sondas sejam todos produzidos aqui, gerando mais empregos e mais renda - disse Lula, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), segundo participantes.
Durante o dia, a Petrobras chegou a superar a General Electric (GE) como quinta maior empresa do mundo, com valor de mercado de US$313,8 bilhões. A GE caiu 2,3% em Nova York, o que reduziu seu valor para US$308,9 bilhões. Mas no fechamento da Bovespa, a estatal voltou a US$307,8 bilhões.
O Globo ECONOMIA
BB negocia compra do banco paulista Nossa Caixa
Objetivo da instituição é liderar mercado em São Paulo, onde ocupa o 4º lugar. Analista estima operação em pelo menos R$9 bi
Aguinaldo Novo, Henrique Gomes Batista e Geralda D
BRASÍLIA e SÃO PAULO. Buscando desbancar a concorrência no mercado paulista - no qual, apesar de líder nacional, amarga a quarta posição -, o Banco do Brasil (BB) anunciou ontem à noite que iniciou negociações para a compra da Nossa Caixa. O banco, controlado pelo governo de São Paulo, tem ativos de R$47,431 bilhões - que renderam lucro líquido de R$114,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, 31% a mais do que no mesmo período de 2007 - e 5,7 milhões de clientes. A operação depende de aval da Assembléia Legislativa de São Paulo.
A Nossa Caixa é vista no mercado como "a grande jóia" entre os bancos estaduais. Seu principal trunfo são as receitas provenientes da administração da folha de pagamento do governo paulista, cujo direito foi comprado em 2007 por R$2 bilhões.
O presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues, estima que o BB teria de gastar na operação entre 3 e 3,5 vezes o patrimônio líquido da Nossa Caixa (R$2,9 bilhões), o que corresponderia a pelo menos R$9 bilhões.
A intenção do negócio, sem prazo para conclusão, foi informada em fato relevante enviado à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
- Essa postura faz parte de uma estratégia adotada desde o ano passado, com as negociações para a incorporação do Besc (banco estadual catarinense) e do BRB (do governo do Distrito Federal). Mas também tivemos outras ações, como abertura de uma diretoria de cartão de crédito, que nos possibilita oferecê-los aos não-clientes, criação do financiamento imobiliário e reforço em nossa presença no financiamento de veículos - afirmou Antonio Lima Neto, presidente do BB.
Segundo ele, a aquisição levaria o BB a disputar a liderança do mercado paulista:
- O estado é a arena bancária mais competitiva do país.
Na semana passada, o BB anunciou que absorverá o Banco Popular, subsidiária criada em 2003 para atender a baixa renda e que nunca obteve lucros.
Segundo Lima Neto, as tratativas iniciais foram técnicas e sem conversas diretas com o governador José Serra (PSDB).
O Globo O MUNDO
Líbano: acordo põe fim a crise
Hezbollah terá poder de veto em decisões do governo e lei eleitoral será modificada
TEL AVIV. Após seis dias de diálogo em Doha, no Qatar, representantes do governo libanês e da oposição, liderada pelo grupo xiita Hezbollah, chegaram a um acordo para pôr fim a 18 meses de crise que deixaram o Líbano à beira de uma guerra civil. Numa negociação mediada pela Liga Árabe, o documento final prevê reformas eleitorais e a nomeação de um novo presidentes, além de dar poder de veto à oposição. O acordo é considerado por analistas uma vitória do Hezbollah após uma violenta demonstração de força que paralisou o país há duas semanas.
O Parlamento libanês convocou uma sessão para domingo para nomear o comandante do Exército, o general Michel Suleiman, presidente, cargo vago há seis meses. A coalizão de maioria sunita que sustenta o premier, Fuad Siniora, formará um governo de união nacional.
Coalizão no poder terá 14 dos 30 ministros, oposição 11
O documento determina que a coalizão 14 de Março vai manter 14 das 30 pastas do Gabinete e o poder de escolher o premier. A oposição fica com 11 ministros, e outros três serão escolhidos pelo presidente. O acordo também prevê a discussão de novas leis eleitorais que garantam maior representatividade aos 18 grupos étnicos e religiosos do Líbano nas próximas eleições, ano que vem. Em troca, os opositores garantiram que não vão recorrer às armas em caso de novas divergências políticas.
Irã e Síria, que apóiam o Hezbollah, elogiaram o acordo. Mas analistas temem que as concessões feitas ao grupo podem afetar a credibilidade do 14 de Março, e ainda há ceticismo quanto à estabilidade do país. Há poucos dias, o líder do partido Mustaqbal, Saad Hariri, garantiu aos libaneses não estar disposto a revogar as medidas tomadas contra o grupo radical. Ontem, horas após a assinatura da resolução, Hariri comemorou, afirmando que o entendimento era uma vitória que colocaria o Líbano numa nova era.
O país está sem presidente desde novembro de 2007, quando Emile Lahoud, pró-Síria, deixou o cargo. A crise se agravou há duas semanas, quando o governo anunciou medidas para investigar o Hezbollah. O grupo respondeu com protestos que se transformaram em confrontos entre milícias governistas e oposicionistas em diversos pontos do Líbano. Pelo menos 65 pessoas morreram. (R.M.)
Monday, May 12, 2008
Europa e América Latina atacam fome e aquecimento
Mais de 40 chefes de Estado se reúnem na capital peruana para acertar mecanismos de apoio a desenvolvimento com face social e ambiental
Silvio Queiroz
Pelo menos 47 chefes de Estado e governo haviam confirmado presença, até a última sexta-feira, na quinta reunião de cúpula entre a União Européia e os países da América Latina e Caribe, que se realizará em Lima entre a próxima terça-feira e o sábado. Combate à pobreza e desenvolvimento sustentável, que contemple inclusão social, segurança energética e preservação do meio ambiente, são os temas oficiais da agenda. Na ante-sala do encontro, porém, as duas regiões deixam entrever diferenças significativas de abordagem para preocupações consensuais, e expectativas de maior compromisso da contraparte, especialmente nas relações comerciais e no delicado tema da imigração.
“São temas do maior interesse do Brasil, e nos quais temos muita autoridade para nos dirigirmos à UE, já que somos pioneiros tanto nas iniciativas de combate à fome quanto no desenvolvimento de energias limpas”, disse um diplomata brasileiro envolvido diretamente na preparação da cúpula. O governo Lula tem a expectativa de aprimorar “a coordenação de posições” entre as duas regiões sobre ambos os assuntos, e vai cobrar dos europeus mais ênfase na transferência de tecnologia para ações capazes de contemplar tanto as preocupações sociais quanto as ambientais. Nesse terreno, o país oferecerá propostas de cooperação triangular em benefício dos países mais pobres da região, especialmente o Haiti, atingido em cheio pela alta dos preços dos alimentos. Em troca, espera da Europa que aporte mecanismos financeiros.
Um dos focos potenciais de dificuldades, desde o esboço da declaração conjunta que os chefes de Estado e governo assinarão na sexta-feira, está o endurecimento da legislação sobre imigração em vários países europeus. O texto deverá conter uma referência à “observância dos direitos humanos dos imigrantes”, mesmo os que apresentam situação irregular. “A gente pensa em um tratamento mais digno para os latino-americanos na Europa”, disse essa fonte do Itamaraty. “No Brasil, nenhum estrangeiro irregular é considerado criminoso, e não compreendemos que alguém vá para a prisão por não apresentar documentação suficiente.” Pelo lado europeu, em uma videoconferência com a imprensa latino-americana, durante a semana passada, a comissária européia para Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, enfatizou que a UE quer “compartilhar responsabilidades” com a América Latina no combate à imigração ilegal, ao tráfico de pessoas e outros crimes associados.
Comércio
À margem da cúpula, serão realizadas em Lima reuniões entre a UE e o Mercosul — tanto em nível de chanceleres quanto de presidentes e premiês — para explorar caminhos que permitam avançar para um acordo birregional de livre comércio. Na videoconferência de imprensa, o comissário de Comércio, Peter Mandelson, reafirmou que o bloco europeu atrela esse processo à conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, travada pela disputa entre países ricos e em desenvolvimento sobre subsídios agrícolas. “O Mercosul está pronto para negociar, e a UE tem sinalizado informalmente a disposição de seguir em frente a despeito do andamento de Doha”, disse o diplomata brasileiro.
Parceria assimétrica
160 bilhões
de euros é o montante anual do comércio entre a UE e os países da América Latina e Caribe, que exportam comodities e importam bens industrializados
5%
é a participação latino-americana nas importações européias, enquanto a Europa representa 14% do mercado externo para a América Latina
400 bilhões
de euros é o estoque de investimentos da UE na região, o que representa 12% do total de investimentos externos diretos do bloco
Diário de Natal Cisne Branco chega para visitações
Na manhã de hoje o navio-veleiro Cisne Branco atraca novamente em Natal. O navio da Marinha do Brasil ficará aberto a visitação pública de amanhã até quarta-feira, entre às 14h e 18h, no Porto de Natal. A tripulação é composta por 11 oficiais e 49 praças, com o atual Comandante sendo o Capitão-de-Mar-e—Guerra Flávio Soares Ferreira.
O Cisne Branco representa o país em grandes eventos náuticos, tanto no Brasil quanto no exterior, e é similar a uma réplica das galeras do século XIX. Além disso, o navio também tem o intuito de fomentar a mentalidade marítima, as tradições navais e contribuir para a formação dos oficiais da Marinha do Brasil.
O navio foi construído em Amsterdã, na Holanda, no ano de 1998 e incorporado à Marinha do Brasil em março de 2000. Sua primeira viagem pela Marinha teve início às margens do Rio Tejo, em Portugal, no dia 09 de março, exatamente 500 anos após a partida de Pedro Álvares Cabral para o descobrimento do Brasil.
O projeto do Cisne Branco inspira-se nos desenhos dos últimos “Clippers” construídos no final do século XIX. A construção do navio ocorreu em tempo recorde, um ano e três meses, com o principal propósito de permitir ao Brasil participar com um navio de propulsão à vela, da histórica travessia em comemoração aos 500 anos de descobrimento do país, em 22 de abril de 2000.
O nome do navio é decorrente de um verso da música Cisne Branco, canção símbolo da Marinha do Brasil, também chamada Canção do Marinheiro. Este é o terceiro navio da Marinha do Brasil a ser batizado com esse nome.
Veleiro-escola
O veleiro Concórdia atracou no Porto de Natal às 9h de ontem, trazendo estudantes americanos e canadenses. Com bandeira de Barbados, o veleiro viaja ao redor do mundo levando estudantes em um programa de 10 meses, que além de apender sobre técnicas de marinhagem, conhecem um pouco da realidade dos países que visitam.
O navio vem da ilha de Santa Helena, no Reino Unido, e parte para Belém do Pará na próxima quarta-feira. Estão a bordo 39 estudantes, cinco professores e dez tripulantes. Um dos estudantes é John Ogle, natural da cidade de Calgary, no Canadá, que contou estar viajando desde o dia 1º de setembro de 2007 e já passou por cidades da América, Europa e África.
Para o estudante, de 19 anos de idade, o programa mudou totalmente sua visão de mundo e quando voltar para a Universidade, ele pretende cursar economia ou comércio exterior. ‘‘Gostei muito da África e depois de ter estado lá passei a ter vontade de ajudar organizações de cidades que conheci’’, afirma John.
A cada dois anos, o navio Concórdia visita os continentes Africano, Europeu e Americano, sempre fazendo parte do programa educacional.
Jornal do Brasil O que se passa nesta cabeça...
Em entrevista exclusiva, Beltrame avisa que não vai conseguir acabar com violência
André Balocco
O cenário, na chegada, é um tanto quanto sombrio. Em meio à desordem urbana que salta aos olhos misturando camelôs, prostitutas, menores infratores e policiais, a Central do Brasil surge imponente. Lá dentro está um dos homens mais poderosos do Estado: José Mariano Beltrame. Como todo bom gaúcho, este sulista, nascido em Santa Maria, não dispensa o chimarrão: basta uma rápida passada de olhos por sua mesa de madeira de lei que lá estão a cuia, a bomba e a erva, escondidos sob a bolsa verde com os dizeres ‘Chimarrão, símbolo de solidariedade’.
– Adoro a erva – diz, sem esconder o característico sotaque carregado de quem nasceu no Rio Grande.
Um pouco mais à esquerda, no impecável gabinete, está a miniatura de um caveirão, blindado muito utilizado pela Polícia Militar para penetrar nas favelas dominadas pelo poder paralelo. Foi neste cenário que o Jornal do Brasil entrevistou, com exclusividade, aquele que é um dos mais importantes pilares da política do governo Cabral.
Vencendo a desconfiança
De um início nervoso por conta da expectativa de mais um bombardeio de críticas, a conversa passou a fluir com naturalidade. Talvez a primeira pergunta tenha sido determinante para que a cordialidade se estabelecesse:
– Antes de tudo, secretário, gostaria de saber se o senhor é candidato a algum cargo na próxima eleição – perguntei.
A resposta veio rápida como os estragos que a polícia vem fazendo no crime organizado, segundo os números apresentados pelo Instituto de Segurança Pública.
– De maneira alguma. Não tenho qualquer pretensão política – avisou.
Daí para a frente o tempo passou mais rápido do que se imaginava. Em pouco mais de 70 minutos de conversa, interrompida apenas uma vez para que passasse ao governador Sérgio Cabral detalhes da operação policial no Leme, que terminou com dois presos na quarta-feira, o homem que apostou na política de confronto com o tráfico se abriu. O orgulho pelo aumento de apreensão de armas pesadas e drogas, desde que assumiu a secretaria, em janeiro do ano passado, está estampado no rosto do policial federal formado na turma de 1981 que, revela, sente saudade do front.
– Era muito bom ir para o combate – conta.
Na conversa, foram vários os assuntos. Descriminalização das drogas, uso de tecnologia militar pelo tráfico para reconstruir armamentos, a importância da inteligência no combate ao crime, a oportunidade histórica que o Estado tem para começar a recuperar o déficit social através do PAC nas favelas, o reconhecimento de que os policiais militares do Rio recebem um salário parco... Mas as revelações não param por aqui. Beltrame conta ainda que vai receber 500 fuzis FAL da Marinha brasileira, que 300 câmeras inteligentes, herança dos Jogos Pan-Americanos, estão encaixotadas em algum ponto da cidade por conta da burocracia, faz críticas à constante troca de secretários nacionais de segurança em Brasília e revela, com incrível segurança: a violência não vai acabar na sua administração.
– A polícia, hoje, enxuga gelo. Temos de estar sempre fazendo um trabalho de contenção para evitar a expansão da criminalidade. Por isso as obras do PAC são tão importantes para complementar este trabalho.
Então, vamos ao que interessa. A seguir, na página ao lado, a entrevista na íntegra que revela o que pensa José Mariano Beltrame, ou simplesmente Beltrame, sobre os problemas que afligem a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um Rio que ele adotou como seu e aprendeu a amar.
Fala, Beltrame
Novos fuzis
A Marinha está nos cedendo 500 fuzis em lotes intercalados. A PM e a Polícia Civil necessitam deste armamento. Recebemos fuzis FAL 762 revisados, com mil carregadores e 100 vão para a Polícia Civil. Temos bons fuzis apreendidos, como o AK-47 (arma russa), mas há dificuldade para adquirir munição. É uma arma boa, leve, que mais se adapta aqui, mas tem a burocracia.
Armas com civis
A posse deve ser para quem tem necessidade de utilizá-la e isso recai no uso militar. Portanto, para o cidadão, não é bom ter uma.
Tráfico e Exército
O que posso dizer é que determinados equipamentos e explosivos apreendidos, além de armas, têm sido feitos por pessoas com conhecimento em manutenção e recuperação de armamento. E esta técnica não está disponível no mercado. Isso nos concorre a achar que há participação no tráfico. No Pavãozinho, semana passada, apreendemos explosivos que poderiam ser detonados à distância, por controle remoto. Isso não é coisa de amador, não se aprende na esquina.
Menores no crime
É uma situação que nos preocupa, o menor que não tem perspectiva. Ele não tem colégio em tempo integral, uma boa orientação e o que circunda a área onde mora, muitas vezes, não é positivo. Há ainda a família desagregada... Então ele acaba sendo uma presa fácil para o tráfico. Se ele ficar numa laje recebendo R$ 20, no fim do mês vai ganhar mais do que o pai ou a mãe. Esta falta de perspectiva é um problema crucial.
Violência sem fim
Acho que sem dúvida nenhuma a polícia acaba fazendo um trabalho de ‘enxugar gelo’. Ela transparece esta sensação, mas é preciso entender que hoje estamos procurando evitar que isto se alastre. Se pararmos de ‘enxugar gelo’, isto vai crescer muito. Tenho convicção de que a violência não vai terminar na minha gestão nem na do próximo secretário. É um processo de recuperação de cultura, de geração de emprego, de renda.
PAC contra o crime
Acho que o Rio tem historicamente uma grande possibilidade, que é o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania). Podem dizer ‘não, são planos audaciosos, não vai dar certo‘, mas o caminho é este porque recuperam a cidadania. Isto é para, no mínimo, 10 anos. Não há solução a curto prazo.
Política de segurança
Temos informações de que o tráfico hoje passa por dificuldade financeira e de articulação. Os soldados do tráfico já estão pensando duas vezes antes de se exporem guardando um paiol ou fazendo a segurança da droga. Antes, o fuzil era uma arma difícil de aparecer como apreendida. A metralhadora .30, por exemplo: em seis meses pegamos 12, enquanto nos últimos quatro anos foram só duas, se não me engano.
O uso da Inteligência
Não vamos entrar nas favelas sem objetivo, tipo pegar 100 policiais e entrar lá, porque pode acontecer o banho de sangue. Então, depois das ações de inteligência, vamos em busca das pessoas já sabendo onde elas estão e o que têm. Isto aconteceu no Leme. Muitos perguntam: porque o senhor não faz uma operação em tal lugar? Eu digo: não faço nada sem informação concreta porque ela permite que eu planeje, que diminuia a possibilidade de um fato ruim acontecer. O trabalho de inteligência estava desarticulado quando chegamos e hoje estamos muito afinados. A PF nos dá um apoio bom também. Posso dizer que a integração entre as polícias começa com a inteligência.
Inércia do Estado
Este problema da violência, hoje, está complexo porque existia uma inércia do Estado por 30 anos. Por isto o tráfico adquiriu esta gordura criminosa, por inépcia e inércia do Estado. Chegamos numa encruzilhada. Temos de decidir isto.
Liberação das drogas
No campo das idéias não vejo problema algum nas pessoas discutirem isto. Agora, para mim, isto é crime e como tal tenho como obrigação de atuar. Acho que temos de fazer a seguinte reflexão: qualquer atividade econômica humana tem fases, isto é estatística. Para comer arroz nós temos a plantação, a distribuição...A droga é a mesma coisa. Eu te pergunto o seguinte: se eu tirar o consumidor desta cadeia, estou mexendo neste mercado, contribuindo para terminar? Isso é lógico. Sou contra a descriminalização.
Marcha da Maconha
Acho que como manifestação, sim, mas tem de saber discernir entre apologia e manifestação. Liberar sem saber como vai ser a manifestação...Apologia não dá para se liberar. Agora discutir, isto é outra coisa. É temerária a caminhada porque em Recife, onde foi liberado, por exemplo, apareceu gente até fumando. Então, por prevenção, é melhor que não se faça.
Dependência química
Se o Estado quiser descriminalizar a droga, tem de preparar seu sistema de saúde para recuperar o drogado, porque ele mesmo diz que o drogado é um doente. Vamos descriminalizar a droga? Vamos, mas e depois? Não podemos nos iludir: a mesma pessoa que clama por segurança nas ruas pode ser a mesma que vai para dentro da delegacia ou que faz passeata pela descriminalização. Temos menores que cheiram cola, que fumam maconha porque não aguentam mais ver os pais batendo nas mães, o pai estuprar a irmãzinha, não aguentam mais apanhar. Têm pessoas que cheiram cola e fumam maconha porque têm de dormir ali perto da Rodoviária, debaixo do viaduto, assim como há pessoas que vão fumar maconha numa situação muito mais privilegiada social e economicamente do que eles. Quem vai levar a pior? Entre uma pessoa de classe alta que fuma maconha e uma pessoa dessa, quem está sujeito a virar um trapo humano? Falam da descriminalização da droga mas eu quero ver alguém acender um cigarro de maconha diante do centro financeiro de Amsterdam. Quem fuma maconha lá é discriminado. Tem muita água para passar debaixo desta ponte para se chegar a um entendimento, mas acho que uma reflexão no campo das idéias prolifera a discussão. Porém, hoje, no mínimo, é temerário descriminalizar a droga em função deste disparate que temos na sociedade brasileira.
Perícia técnica
Estamos indo muito bem neste caminho. Os pilares na transição eram polícia científica, inteligência, gestão e corregedoria. Com relação à polícia técnica estamos muito bem. Dentro de dois meses teremos um Instituto Médico Legal (IML) novo, com equipamentos importados. E estamos reestruturando o Instituto Carlos Éboli em termos de equipamentos e vidraria. Estou licitando e comprando um equipamento novo e promovendo a visita dos nossos peritos que trabalham no IML e no ICCE aos respectivos institutos em São Paulo. Gastamos em torno de R$ 3 milhões no IML. Já no ICCE o valor é bem menor. São coisas mais leves e por isso com um custo bem mais barato para nós.
Máfia no IML
Conheço o senhor Daniel Ponte (vice-diretor do IML do Rio que denunciou no Congresso a existência de uma máfia no instituto). Já o atendi e o recomendei que procurasse o serviço de proteção à testemunha. Uma coisa é saber sobre fatos e outra é ter provas. Eu não posso trabalhar com "me disseram, me extorquiram". A minha visão aqui não é mais prender. Precisamos fazer provas porque é a Justiça que extirpará estas pessoas.
Novo IML
O IML vai funcionar 24 horas com controle de entrada e saída de pessoas, material e cadáveres. Vai ser um controle eletrônico e muito bem feito. E teremos ainda câmeras filmando o movimento.
Legado do Pan
O material de inteligência está funcionando a 100%. São softwares de cruzamento de dados e informações, um banco de dados de inquérito e processos judiciais. As grande operações que se vê por aí vêm desta inteligência. Planejamos antes do Pan que este equipamento viesse de acordo com a nossa necessidade para depois dos Jogos. Temos uma sala de centro de crise onde herdamos todo o equipamento para ainda montar no terceiro andar.
Burocracia
Ganhar, nós ganhamos os equipamentos, o problema é que ficou uma comissão para fazer a passagem, mas mudou o secretário Nacional de Segurança e mudou a comissão. Já estamos no terceiro desde que assumi! Agora é que nós começamos a nos reunir. Dia 14 teremos a segunda reunião. Temos um número substancial de câmeras para espalhar pela cidade e ligar com os batalhões de suas respectivas áreas. São em torno de 300 que vão se espalhar. Mas não sei ainda quando teremos elas funcionando, pois aí vem o serviço público. Vou recebê-las e depois licitar a instalação delas. Aí vem uma empresa que se sente prejudicada, entra na Justiça, consegue uma liminar. É complicado.
Salários da PM
O policial militar ganha pouco, muito pouco. O governo vai acenar com um aumento mas enquanto isto não acontece, estamos dando salário indireto. O RioCard, a construção dos ambulatórios para a PM na Zona Oeste, a bolsa Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, ação conjunta para capacitar a força policial). Com ela o policial pode se habilitar num curso pela internet e auferir mais R$ 400 mensais. E a Faetec vai fazer cursos de computação nos batalhões.
Corrupção
A corrupção existe e é inegável, mas estamos trabalhando incessantemente no sentido de provar. Temos uma gama grande de denúncias, mas a denúncia é aquela: "fulano me pediu x, me pediu y". Isso só serve para acenar de que a gente vá em cima. Para você ter uma idéia já ultrapassamos aqui, só em 2007, o número de 200 policiais excluídos da PM sumariamente. Agora, o que a gente precisa é de prova.
Milícias
Eu sei onde tem a milícia, mas não adianta ir lá e encontrar um policial armado a paisana. Ele está lá, e daí? Está na folga, está lá, a mãe mora ali, a namorada, um parente. Não posso bater na porta da comunidade e perguntar: ’você paga 10 reais para este pessoa?‘ Se tivesse isto no papel, tudo bem. Então é ônus nosso produzir as provas e agir como fizemos para desarticular aquela milícia (do vereador Jerominho e do deputado estadual Natalino Guimarães), que eu entendo como a mais bem estruturada. É complicado, mas lutamos muito para construir provas com qualidade. E o que tem qualidade demanda tempo.
O Estado de São Paulo Rios amazônicos: naufrágios e uma infinidade de armadilhas flutuantes
Barcos superlotados contribuem para tragédias como a do Comandante Salles, que matou mais de 50 pessoas
José Maria Tomazela
Tragédias como o naufrágio do Comandante Salles 2008, que deixou há uma semana mais de 50 mortos - 46 corpos haviam sido resgatados e pelo menos 10 continuavam desaparecidos até anteontem -, podem voltar a acontecer. Parte da frota que transporta de 30 milhões a 50 milhões de passageiros por ano é composta por verdadeiras armadilhas flutuantes.
São barcos de madeira malconservados e sem equipamentos básicos de navegação, como rádio, que levam cargas e pessoas em excesso. Calcula-se que pelo menos 5 mil sejam piratas, sem registro nas capitanias fluviais da Marinha. Construídos de forma artesanal, muitos não têm estrutura para enfrentar turbulências dos rios e clima amazônicos, sujeitos a tempestades tropicais e mudanças repentinas de vazão. “São como caixas de fósforo numa enxurrada”, resume o comandante do Pelotão de Policiamento Fluvial da Polícia Militar, subtenente Fonseca Paes. É o caso do Comandante Salles, posto para navegar sem ter passado por inspeção. O Estado percorreu, entre quinta e sexta-feira, mais de 100 quilômetros dos Rios Solimões, Negro e Amazonas, a maior parte em barcos dos bombeiros e da PM de Manaus.
Já na partida, no porto da Manaus Moderna, irregularidades eram flagrantes. O navio Ana Maria V estava com tanto peso que a linha d’água ultrapassava o limite de segurança para navegação. Era um barco alto, de madeira, pronto para seguir viagem de sete horas até Orimixá. Empilhada, a carga de bebidas, sacaria e caixas de papelão tomava todo o porão e o convés inferior. Passageiros viajariam na parte superior. “Com uma carga dessas, há risco potencial de tombamento”, disse o subtenente. A carga estava desamarrada e só foi presa na presença do policial. “Veja só, foram comprar o rolo de corda agora.” O conferente Manoel Pinto de Azevedo garantiu que estava “tudo dentro do limite”. Ele mostrou a relação de passageiros que seria entregue à Capitania Fluvial da Marinha. Apesar do fluxo intenso de cargas e passageiros lotando dezenas de barcos, não havia ninguém para conferir planilhas. Em outro barco, a aposentada Maria José Machado, de 56 anos, ajeitava-se nas redes com seis netos pequenos para encarar 15 horas até Urucará. Ela tinha feito a viagem duas vezes e a achava segura, mas ficou assustada com o naufrágio. “A gente entrega na mão de Deus.”
O dono Tito Nogueira de Souza mostrou bóias e coletes salva-vidas “até de sobra”. O problema é a lona plástica que protege as laterais do barco e, em caso de naufrágio, funciona como parede intransponível a quem tenta se salvar. “É para proteger do vento e da chuva”, afirmou.
Outro problema: portas dos camarotes abrem para fora e, em caso de naufrágio, passageiros não conseguem abri-las pela pressão da água. Segundo o comandante, muitos barcos saem com lotação completa do porto, mas param no caminho para pegar mais passageiros. “O pessoal acena do barranco e o barco ou encosta ou reduz a velocidade para ser alcançado pela rabeta (pequena embarcação a motor).” Ele apontou dezenas de pontos de parada entre Manaus e Manacapuru.
No Rio Solimões, outro flagrante de abuso: o barco Suely Gomes transportava pessoas no convés superior. “É totalmente proibido. Um balanço mais forte joga as pessoas para fora e ali não tem bóias e coletes.” Outro barco menor, o Silas, passou com 12 a bordo, todos sem salva-vidas. Uma rabeta com duas crianças era conduzida por um garoto de, no máximo, 15 anos. Havia lanchas da Marinha patrulhando a região, mas os barcos usam furos e paranás, braços de rio, como rotas alternativas para escapar da vigilância. Num deles, o movimento intenso de embarcações incomoda as 50 famílias da Vila Nova, município de Iranduba. O pescador Manoel Veríssimo Rodrigues, de 53 anos, conta que o “banzeiro” - ondas provocadas pelos barcos - balança e estraga o telhado da casa flutuante que divide com a mulher Isabel, seis filhos e uma netinha. “Das 3 às 5 da manhã é muito barco e a casa não pára de balançar.” O movimento se repete das 15 às 22 horas, engrossado pelas balsas boiadeiras que retiram gado das margens alagadas do rio para levar à terra firme. “Os barcos que trazem as crianças da escola quase viram.” Segundo o subtenente, embarcações maiores são obrigadas a reduzir a marcha ao passar em áreas de tráfego de barcos menores, como vilas de pesca. “Ninguém obedece.”
Na noite de quinta-feira, a lancha dos bombeiros cruzou com barcos que trafegavam sem iluminação. Piloto experiente, Paes conta que o Solimões é perigoso: águas avançam sobre as margens e arrancam, além de porções de terra que a tornam barrentas, troncos e capim. Nas partes mais profundas, que chegam a 60 metros, são comuns redemoinhos como o que teria contribuído para o naufrágio do Comandante Salles 2008. Ventos repentinos e tempestades ajudam a desestabilizar as embarcações. A lancha da PM foi uma das vítimas: a manobra rápida do subtenente não conseguiu evitar um tronco que partiu a ponta da hélice, próximo do encontro com as águas do Rio Negro. O tenente Andrey Barbosa Costa, mergulhador dos bombeiros, que participou das buscas dos náufragos, disse que o Solimões é perigoso até para bons nadadores. “Não se vê nada e a corrente pode arrastar para fora do ponto de busca.”
A presidente da Associação dos Armadores do Transporte de Cargas e Passageiros (Atrac), Alessandra Martins, disse que o naufrágio foi uma tragédia anunciada. Segundo ela, há tempos a entidade denuncia as precárias condições do setor por falta de legislação e investimentos públicos. A Atrac anunciou uma greve para a próxima quarta-feira em razão de falta de segurança e do alto custo de combustível. “Nenhum barco vai sair de Manaus”, prometeu.
O Estado de São Paulo Em três anos, mais de 150 mortos em acidentes na região
Dono do barco costuma viajar com a tripulação: “Se reclama do excesso de passageiro, perde o serviço”
José Maria Tomazela
Em pouco mais de três anos, desde 2005, foram registrados 133 acidentes nos rios da Amazônia Ocidental, com um número de mortes superior a 150, incluído o naufrágio do Comandante Salles 2008, no domingo passado. Foram 158 abalroamentos - colisões laterais entre barcos grandes e menores -, 21 colisões frontais e 59 naufrágios. Mortes em naufrágios podem chegar a 130, se somados os desaparecidos no Solimões.
Essa região da Amazônia compreende Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre. Este ano já registra o recorde de 83 mortes, segundo números da Capitania Fluvial de Manaus. Em janeiro, o barco Almirante Monteiro afundou, após colidir com uma barcaça petrolífera, matando 16 pessoas. Em 2007, morreram 18 pessoas, 12 em naufrágios; em 2006, foram 17, 9 em naufrágios, e em 2005, 35 mortes.
O naufrágio do Comandante Salles, com 46 mortes confirmadas e 10 pessoas desaparecidas, pode superar o número de vítimas fatais desde 1999, quando o Ana Maria VIII naufragou, matando 52.
O capitão Paulo Brito da Silva, da Capitania, lembra que a malha fluvial de 22 mil quilômetros são as rodovias da Amazônia, usadas por 35 mil embarcações - 40 mil se consideradas as clandestinas. “A dificuldade é a mesma de controlar a frota de veículos em outras regiões, como no Sudeste”, comparou.
A Capitania dispõe de 550 homens para fiscalizar os rios, o que dá uma área de quase 10 mil km² por militar. Para Silva, o problema não está na falta de pessoal ou equipamentos, mas em aspectos culturais. “O passageiro e alguns donos de barcos, gente que convive com o rio desde o berço, não se dão conta dos riscos.” Ele disse que o piloto é obrigado, sob pena de multa e cassação do registro, a respeitar limites de carga e passageiros. O dono do barco fica sujeito a multa de R$ 40 a R$ 3,2 mil. “Não tem como fiscalizar todos os barcos.” Muitas embarcações carregam e partem sem utilizar as balsas de embarque e desembarque da Capitania para escapar de taxas e fiscalização. “Aqui, cada barranco vira um porto”, diz.
Sobre as condições dos barcos, o capitão lembra que os projetos de construção precisam ser assinados por um engenheiro naval e acompanhados pela Capitania. “Normalmente, o processo é inverso: fazem o barco e querem que seja aprovado.” Como o serviço de transporte fluvial não é regulamentado, as empresas têm pouco interesse em investir no setor.
Silva conta que geralmente o dono do barco viaja com a tripulação, o que tira a autonomia do comandante. “Se reclama do excesso de passageiro, perde o serviço.” A Capitania iniciou programa de segurança com distribuição de livretos e campanha em rádio e televisão. Também criou um telefone para receber denúncias.
O inquérito que apura as causas do naufrágio do Comandante Salles 2008 não foi concluído. Silva diz que entre as causas podem estar excesso de carga, tripulação não habilitada e condições da embarcação, sem registro.
O Globo UMA EXPANSÃO SILENCIOSA PELO CONTINENTE
Acossada em seu país, guerrilha colombiana monta rede de organizações de apoio no resto da América
BOGOTÁ. Bernardo é um economista argentino, de não mais que 50 anos, e, entre 1990 e 1996, foi assessor externo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Depois de fazer uma pequena fortuna, acaba de enviar seu filho mais velho aos Estados Unidos para fazer um curso de piloto.
Já o colombiano Héctor Orlando Martínez Quinto chegou em 2000 à Costa Rica e se casou com uma jovem, o que lhe permitiu obter o visto de residência e ingressar no mundo das frotas pesqueiras, em associação com outro colombiano, Huberth González Rivas, também casado com uma costa-riquenha.
Essas poderiam ser histórias ordinárias de emigrantes latino-americanos, a não ser pelo fato de Bernardo e Héctor Orlando serem dois dos agentes usados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para levar adiante uma nova e silenciosa batalha: expandir-se ideológica, logística e financeiramente pela América Latina.
Membros das Farc se passam por refugiados
Bernardo, dizem fontes do Exército colombiano e das próprias Farc que hoje colaboram com a Justiça, foi o encarregado de penetrar em países do Cone Sul, enquanto Héctor Orlando - autor do massacre de Bojayá (Chocó), em maio de 2002 - se meteu no negócio da pesca na Costa Rica para utilizá-lo como base de troca de cocaína por armas. É a conclusão a que chegou o Ministério de Segurança da Costa Rica.
- A estratégia consiste em enviar a esses países quadros com o disfarce de refugiados, que, uma vez instalados, tornam-se intocáveis e iniciam a ofensiva - assegura um oficial colombiano.
Na Argentina, foram recebidos nos últimos cinco anos 80 refugiados políticos colombianos. Mas quando se indaga sobre seu passado e suas atividades, a resposta oficial do governo é que, ainda que entre eles haja vários membros das Farc, trata-se unicamente de perseguidos ou desmobilizados.
O mesmo padrão se repetiria no Equador, no México e no Brasil. Essa estratégia internacional da guerrilha começou a se gestar em 2002, quando Alvaro Uribe chegou ao poder na Colômbia, com um duro discurso contra as Farc e com as Forças Armadas fortalecidas.
- Por causa da pressão militar, as Farc se viram obrigadas a renunciar à campanha de seqüestros e às grandes ações, com que chegaram a penetrar inclusive em Cali, a terceira cidade mais importante da Colômbia - diz um membro da inteligência militar colombiana.
Naquela época, o Secretariado das Farc optou por iniciar a penetração no resto do continente, que já tivera duas fases, embora pouco produtivas. A primeira, nos anos 80, fracassou por inexperiência. E a segunda foi detida pelo retrocesso do socialismo a nível mundial.
Mas essa terceira fase, coordenada pelos membros do Secretariado Raúl Reyes e Iván Márquez, rendeu frutos. As Farc conseguiram armar uma rede de mais de 400 organizações legais, clandestinas e semiclandestinas que respaldam sua causa, da Argentina até os EUA. Sua ponta de lança foi a Coordenadora Continental Bolivariana (CCB). Não é gratuito que, três dias antes da morte de Reyes, o Segundo Congresso da CCB, reunido em Quito (Equador), tenha aprovado uma resolução de apoio à batalha internacional das Farc para serem tiradas da lista de organizações terroristas e reconhecidas como grupo beligerante.
Na rede de organizações articulada pelas Farc há desde movimentos de revolucionários puros até ONGs defensoras dos direitos humanos, passando por partidos políticos legalmente estabelecidos. A inclusão na categoria de legal ou ilegal decorre do tipo de atividades que desempenham. Se o apoio é apenas ideológico, não há laços. Mas se passa a ser, transformam-se imediatamente em alvo das autoridades. E isso é o que começou a ocorrer com muitas organizações em toda a América Latina. Por exemplo, o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), no Peru, dá respaldo aberto ao discurso das Farc, por ter como coincidência ideológica um acirrado antiimperialismo. Mas, desde 2006, também há indícios de que membros do grupo peruano tenham recebido treinamento militar da guerrilha. A polícia local tem evidências de que as Farc usam a cidade de Iquitos para recrutamento de milicianos e recuperação de feridos, obtenção de armas e tráfico de drogas.
Próximo objetivo é penetrar nos Estados Unidos
Esse limite entre o apoio ideológico e logístico (incluindo-se o tráfico de drogas e armas) e a condição de refugiados por parte daqueles que promovem essas organizações é o que preocupa as autoridades da Colômbia e de outros países da região. Na Cidade do México, por exemplo, chama a atenção que alguns membros das redes bolivarianas têm interesses numa casa de câmbio e em duas empresas.
E no Equador há agentes de ligação, além de o país abrigar acampamentos da guerrilha. Também na Venezuela e na Colômbia, grupos de jovens aglutinados na Cruzada Latino-americana e no Grupo Anarquista foram treinados para manejar explosivos e armas. No Chile, a liderança do trabalho pró-Farc cabe a um refugiado conhecido como Roque, que conseguiu que o Partido Comunista enviasse membros à Colômbia para receberem instrução militar.
No entanto, tudo indica que o principal esforço das Farc esteja encaminhado a estabelecer algum tipo de conexão nos EUA. A inteligência colombiana assegura que as Farc já abriram ali duas bases de trabalho ideológico: uma ONG ambientalista e um centro de estudos. Com todo esse panorama, funcionários da inteligência do governo colombiano admitem que, embora as Farc estejam encurraladas na Colômbia, podem reclamar seu fortalecimento no exterior como seu grande triunfo nos últimos cinco anos.
O Globo UMA EXPANSÃO SILENCIOSA PELO CONTINENTE
Membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
A maioria sob a condição de refugiados - estão formando desde 2002 núcleos ideológicos, logísticos e financeiros fortes em pelo menos sete países. O Peru serve como provedor de milicianos, armas e drogas; o Equador é um bastião financeiro e refúgio; já Venezuela, Costa Rica e México são locais de lavagem de dinheiro do narcotráfico e apoio ideológico; o Brasil entra na rota das drogas e do fornecimento de armas e a Argentina, como alvo de penetração; os Estados Unidos são o próximo objetivo.
O Grupo de Diários América (GDA), que reúne alguns dos principais jornais do continente e do qual o GLOBO faz parte, juntou esforços para traçar o mapa dessa expansão.
Mais de 40 chefes de Estado se reúnem na capital peruana para acertar mecanismos de apoio a desenvolvimento com face social e ambiental
Silvio Queiroz
Pelo menos 47 chefes de Estado e governo haviam confirmado presença, até a última sexta-feira, na quinta reunião de cúpula entre a União Européia e os países da América Latina e Caribe, que se realizará em Lima entre a próxima terça-feira e o sábado. Combate à pobreza e desenvolvimento sustentável, que contemple inclusão social, segurança energética e preservação do meio ambiente, são os temas oficiais da agenda. Na ante-sala do encontro, porém, as duas regiões deixam entrever diferenças significativas de abordagem para preocupações consensuais, e expectativas de maior compromisso da contraparte, especialmente nas relações comerciais e no delicado tema da imigração.
“São temas do maior interesse do Brasil, e nos quais temos muita autoridade para nos dirigirmos à UE, já que somos pioneiros tanto nas iniciativas de combate à fome quanto no desenvolvimento de energias limpas”, disse um diplomata brasileiro envolvido diretamente na preparação da cúpula. O governo Lula tem a expectativa de aprimorar “a coordenação de posições” entre as duas regiões sobre ambos os assuntos, e vai cobrar dos europeus mais ênfase na transferência de tecnologia para ações capazes de contemplar tanto as preocupações sociais quanto as ambientais. Nesse terreno, o país oferecerá propostas de cooperação triangular em benefício dos países mais pobres da região, especialmente o Haiti, atingido em cheio pela alta dos preços dos alimentos. Em troca, espera da Europa que aporte mecanismos financeiros.
Um dos focos potenciais de dificuldades, desde o esboço da declaração conjunta que os chefes de Estado e governo assinarão na sexta-feira, está o endurecimento da legislação sobre imigração em vários países europeus. O texto deverá conter uma referência à “observância dos direitos humanos dos imigrantes”, mesmo os que apresentam situação irregular. “A gente pensa em um tratamento mais digno para os latino-americanos na Europa”, disse essa fonte do Itamaraty. “No Brasil, nenhum estrangeiro irregular é considerado criminoso, e não compreendemos que alguém vá para a prisão por não apresentar documentação suficiente.” Pelo lado europeu, em uma videoconferência com a imprensa latino-americana, durante a semana passada, a comissária européia para Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, enfatizou que a UE quer “compartilhar responsabilidades” com a América Latina no combate à imigração ilegal, ao tráfico de pessoas e outros crimes associados.
Comércio
À margem da cúpula, serão realizadas em Lima reuniões entre a UE e o Mercosul — tanto em nível de chanceleres quanto de presidentes e premiês — para explorar caminhos que permitam avançar para um acordo birregional de livre comércio. Na videoconferência de imprensa, o comissário de Comércio, Peter Mandelson, reafirmou que o bloco europeu atrela esse processo à conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio, travada pela disputa entre países ricos e em desenvolvimento sobre subsídios agrícolas. “O Mercosul está pronto para negociar, e a UE tem sinalizado informalmente a disposição de seguir em frente a despeito do andamento de Doha”, disse o diplomata brasileiro.
Parceria assimétrica
160 bilhões
de euros é o montante anual do comércio entre a UE e os países da América Latina e Caribe, que exportam comodities e importam bens industrializados
5%
é a participação latino-americana nas importações européias, enquanto a Europa representa 14% do mercado externo para a América Latina
400 bilhões
de euros é o estoque de investimentos da UE na região, o que representa 12% do total de investimentos externos diretos do bloco
Diário de Natal Cisne Branco chega para visitações
Na manhã de hoje o navio-veleiro Cisne Branco atraca novamente em Natal. O navio da Marinha do Brasil ficará aberto a visitação pública de amanhã até quarta-feira, entre às 14h e 18h, no Porto de Natal. A tripulação é composta por 11 oficiais e 49 praças, com o atual Comandante sendo o Capitão-de-Mar-e—Guerra Flávio Soares Ferreira.
O Cisne Branco representa o país em grandes eventos náuticos, tanto no Brasil quanto no exterior, e é similar a uma réplica das galeras do século XIX. Além disso, o navio também tem o intuito de fomentar a mentalidade marítima, as tradições navais e contribuir para a formação dos oficiais da Marinha do Brasil.
O navio foi construído em Amsterdã, na Holanda, no ano de 1998 e incorporado à Marinha do Brasil em março de 2000. Sua primeira viagem pela Marinha teve início às margens do Rio Tejo, em Portugal, no dia 09 de março, exatamente 500 anos após a partida de Pedro Álvares Cabral para o descobrimento do Brasil.
O projeto do Cisne Branco inspira-se nos desenhos dos últimos “Clippers” construídos no final do século XIX. A construção do navio ocorreu em tempo recorde, um ano e três meses, com o principal propósito de permitir ao Brasil participar com um navio de propulsão à vela, da histórica travessia em comemoração aos 500 anos de descobrimento do país, em 22 de abril de 2000.
O nome do navio é decorrente de um verso da música Cisne Branco, canção símbolo da Marinha do Brasil, também chamada Canção do Marinheiro. Este é o terceiro navio da Marinha do Brasil a ser batizado com esse nome.
Veleiro-escola
O veleiro Concórdia atracou no Porto de Natal às 9h de ontem, trazendo estudantes americanos e canadenses. Com bandeira de Barbados, o veleiro viaja ao redor do mundo levando estudantes em um programa de 10 meses, que além de apender sobre técnicas de marinhagem, conhecem um pouco da realidade dos países que visitam.
O navio vem da ilha de Santa Helena, no Reino Unido, e parte para Belém do Pará na próxima quarta-feira. Estão a bordo 39 estudantes, cinco professores e dez tripulantes. Um dos estudantes é John Ogle, natural da cidade de Calgary, no Canadá, que contou estar viajando desde o dia 1º de setembro de 2007 e já passou por cidades da América, Europa e África.
Para o estudante, de 19 anos de idade, o programa mudou totalmente sua visão de mundo e quando voltar para a Universidade, ele pretende cursar economia ou comércio exterior. ‘‘Gostei muito da África e depois de ter estado lá passei a ter vontade de ajudar organizações de cidades que conheci’’, afirma John.
A cada dois anos, o navio Concórdia visita os continentes Africano, Europeu e Americano, sempre fazendo parte do programa educacional.
Jornal do Brasil O que se passa nesta cabeça...
Em entrevista exclusiva, Beltrame avisa que não vai conseguir acabar com violência
André Balocco
O cenário, na chegada, é um tanto quanto sombrio. Em meio à desordem urbana que salta aos olhos misturando camelôs, prostitutas, menores infratores e policiais, a Central do Brasil surge imponente. Lá dentro está um dos homens mais poderosos do Estado: José Mariano Beltrame. Como todo bom gaúcho, este sulista, nascido em Santa Maria, não dispensa o chimarrão: basta uma rápida passada de olhos por sua mesa de madeira de lei que lá estão a cuia, a bomba e a erva, escondidos sob a bolsa verde com os dizeres ‘Chimarrão, símbolo de solidariedade’.
– Adoro a erva – diz, sem esconder o característico sotaque carregado de quem nasceu no Rio Grande.
Um pouco mais à esquerda, no impecável gabinete, está a miniatura de um caveirão, blindado muito utilizado pela Polícia Militar para penetrar nas favelas dominadas pelo poder paralelo. Foi neste cenário que o Jornal do Brasil entrevistou, com exclusividade, aquele que é um dos mais importantes pilares da política do governo Cabral.
Vencendo a desconfiança
De um início nervoso por conta da expectativa de mais um bombardeio de críticas, a conversa passou a fluir com naturalidade. Talvez a primeira pergunta tenha sido determinante para que a cordialidade se estabelecesse:
– Antes de tudo, secretário, gostaria de saber se o senhor é candidato a algum cargo na próxima eleição – perguntei.
A resposta veio rápida como os estragos que a polícia vem fazendo no crime organizado, segundo os números apresentados pelo Instituto de Segurança Pública.
– De maneira alguma. Não tenho qualquer pretensão política – avisou.
Daí para a frente o tempo passou mais rápido do que se imaginava. Em pouco mais de 70 minutos de conversa, interrompida apenas uma vez para que passasse ao governador Sérgio Cabral detalhes da operação policial no Leme, que terminou com dois presos na quarta-feira, o homem que apostou na política de confronto com o tráfico se abriu. O orgulho pelo aumento de apreensão de armas pesadas e drogas, desde que assumiu a secretaria, em janeiro do ano passado, está estampado no rosto do policial federal formado na turma de 1981 que, revela, sente saudade do front.
– Era muito bom ir para o combate – conta.
Na conversa, foram vários os assuntos. Descriminalização das drogas, uso de tecnologia militar pelo tráfico para reconstruir armamentos, a importância da inteligência no combate ao crime, a oportunidade histórica que o Estado tem para começar a recuperar o déficit social através do PAC nas favelas, o reconhecimento de que os policiais militares do Rio recebem um salário parco... Mas as revelações não param por aqui. Beltrame conta ainda que vai receber 500 fuzis FAL da Marinha brasileira, que 300 câmeras inteligentes, herança dos Jogos Pan-Americanos, estão encaixotadas em algum ponto da cidade por conta da burocracia, faz críticas à constante troca de secretários nacionais de segurança em Brasília e revela, com incrível segurança: a violência não vai acabar na sua administração.
– A polícia, hoje, enxuga gelo. Temos de estar sempre fazendo um trabalho de contenção para evitar a expansão da criminalidade. Por isso as obras do PAC são tão importantes para complementar este trabalho.
Então, vamos ao que interessa. A seguir, na página ao lado, a entrevista na íntegra que revela o que pensa José Mariano Beltrame, ou simplesmente Beltrame, sobre os problemas que afligem a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Um Rio que ele adotou como seu e aprendeu a amar.
Fala, Beltrame
Novos fuzis
A Marinha está nos cedendo 500 fuzis em lotes intercalados. A PM e a Polícia Civil necessitam deste armamento. Recebemos fuzis FAL 762 revisados, com mil carregadores e 100 vão para a Polícia Civil. Temos bons fuzis apreendidos, como o AK-47 (arma russa), mas há dificuldade para adquirir munição. É uma arma boa, leve, que mais se adapta aqui, mas tem a burocracia.
Armas com civis
A posse deve ser para quem tem necessidade de utilizá-la e isso recai no uso militar. Portanto, para o cidadão, não é bom ter uma.
Tráfico e Exército
O que posso dizer é que determinados equipamentos e explosivos apreendidos, além de armas, têm sido feitos por pessoas com conhecimento em manutenção e recuperação de armamento. E esta técnica não está disponível no mercado. Isso nos concorre a achar que há participação no tráfico. No Pavãozinho, semana passada, apreendemos explosivos que poderiam ser detonados à distância, por controle remoto. Isso não é coisa de amador, não se aprende na esquina.
Menores no crime
É uma situação que nos preocupa, o menor que não tem perspectiva. Ele não tem colégio em tempo integral, uma boa orientação e o que circunda a área onde mora, muitas vezes, não é positivo. Há ainda a família desagregada... Então ele acaba sendo uma presa fácil para o tráfico. Se ele ficar numa laje recebendo R$ 20, no fim do mês vai ganhar mais do que o pai ou a mãe. Esta falta de perspectiva é um problema crucial.
Violência sem fim
Acho que sem dúvida nenhuma a polícia acaba fazendo um trabalho de ‘enxugar gelo’. Ela transparece esta sensação, mas é preciso entender que hoje estamos procurando evitar que isto se alastre. Se pararmos de ‘enxugar gelo’, isto vai crescer muito. Tenho convicção de que a violência não vai terminar na minha gestão nem na do próximo secretário. É um processo de recuperação de cultura, de geração de emprego, de renda.
PAC contra o crime
Acho que o Rio tem historicamente uma grande possibilidade, que é o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania). Podem dizer ‘não, são planos audaciosos, não vai dar certo‘, mas o caminho é este porque recuperam a cidadania. Isto é para, no mínimo, 10 anos. Não há solução a curto prazo.
Política de segurança
Temos informações de que o tráfico hoje passa por dificuldade financeira e de articulação. Os soldados do tráfico já estão pensando duas vezes antes de se exporem guardando um paiol ou fazendo a segurança da droga. Antes, o fuzil era uma arma difícil de aparecer como apreendida. A metralhadora .30, por exemplo: em seis meses pegamos 12, enquanto nos últimos quatro anos foram só duas, se não me engano.
O uso da Inteligência
Não vamos entrar nas favelas sem objetivo, tipo pegar 100 policiais e entrar lá, porque pode acontecer o banho de sangue. Então, depois das ações de inteligência, vamos em busca das pessoas já sabendo onde elas estão e o que têm. Isto aconteceu no Leme. Muitos perguntam: porque o senhor não faz uma operação em tal lugar? Eu digo: não faço nada sem informação concreta porque ela permite que eu planeje, que diminuia a possibilidade de um fato ruim acontecer. O trabalho de inteligência estava desarticulado quando chegamos e hoje estamos muito afinados. A PF nos dá um apoio bom também. Posso dizer que a integração entre as polícias começa com a inteligência.
Inércia do Estado
Este problema da violência, hoje, está complexo porque existia uma inércia do Estado por 30 anos. Por isto o tráfico adquiriu esta gordura criminosa, por inépcia e inércia do Estado. Chegamos numa encruzilhada. Temos de decidir isto.
Liberação das drogas
No campo das idéias não vejo problema algum nas pessoas discutirem isto. Agora, para mim, isto é crime e como tal tenho como obrigação de atuar. Acho que temos de fazer a seguinte reflexão: qualquer atividade econômica humana tem fases, isto é estatística. Para comer arroz nós temos a plantação, a distribuição...A droga é a mesma coisa. Eu te pergunto o seguinte: se eu tirar o consumidor desta cadeia, estou mexendo neste mercado, contribuindo para terminar? Isso é lógico. Sou contra a descriminalização.
Marcha da Maconha
Acho que como manifestação, sim, mas tem de saber discernir entre apologia e manifestação. Liberar sem saber como vai ser a manifestação...Apologia não dá para se liberar. Agora discutir, isto é outra coisa. É temerária a caminhada porque em Recife, onde foi liberado, por exemplo, apareceu gente até fumando. Então, por prevenção, é melhor que não se faça.
Dependência química
Se o Estado quiser descriminalizar a droga, tem de preparar seu sistema de saúde para recuperar o drogado, porque ele mesmo diz que o drogado é um doente. Vamos descriminalizar a droga? Vamos, mas e depois? Não podemos nos iludir: a mesma pessoa que clama por segurança nas ruas pode ser a mesma que vai para dentro da delegacia ou que faz passeata pela descriminalização. Temos menores que cheiram cola, que fumam maconha porque não aguentam mais ver os pais batendo nas mães, o pai estuprar a irmãzinha, não aguentam mais apanhar. Têm pessoas que cheiram cola e fumam maconha porque têm de dormir ali perto da Rodoviária, debaixo do viaduto, assim como há pessoas que vão fumar maconha numa situação muito mais privilegiada social e economicamente do que eles. Quem vai levar a pior? Entre uma pessoa de classe alta que fuma maconha e uma pessoa dessa, quem está sujeito a virar um trapo humano? Falam da descriminalização da droga mas eu quero ver alguém acender um cigarro de maconha diante do centro financeiro de Amsterdam. Quem fuma maconha lá é discriminado. Tem muita água para passar debaixo desta ponte para se chegar a um entendimento, mas acho que uma reflexão no campo das idéias prolifera a discussão. Porém, hoje, no mínimo, é temerário descriminalizar a droga em função deste disparate que temos na sociedade brasileira.
Perícia técnica
Estamos indo muito bem neste caminho. Os pilares na transição eram polícia científica, inteligência, gestão e corregedoria. Com relação à polícia técnica estamos muito bem. Dentro de dois meses teremos um Instituto Médico Legal (IML) novo, com equipamentos importados. E estamos reestruturando o Instituto Carlos Éboli em termos de equipamentos e vidraria. Estou licitando e comprando um equipamento novo e promovendo a visita dos nossos peritos que trabalham no IML e no ICCE aos respectivos institutos em São Paulo. Gastamos em torno de R$ 3 milhões no IML. Já no ICCE o valor é bem menor. São coisas mais leves e por isso com um custo bem mais barato para nós.
Máfia no IML
Conheço o senhor Daniel Ponte (vice-diretor do IML do Rio que denunciou no Congresso a existência de uma máfia no instituto). Já o atendi e o recomendei que procurasse o serviço de proteção à testemunha. Uma coisa é saber sobre fatos e outra é ter provas. Eu não posso trabalhar com "me disseram, me extorquiram". A minha visão aqui não é mais prender. Precisamos fazer provas porque é a Justiça que extirpará estas pessoas.
Novo IML
O IML vai funcionar 24 horas com controle de entrada e saída de pessoas, material e cadáveres. Vai ser um controle eletrônico e muito bem feito. E teremos ainda câmeras filmando o movimento.
Legado do Pan
O material de inteligência está funcionando a 100%. São softwares de cruzamento de dados e informações, um banco de dados de inquérito e processos judiciais. As grande operações que se vê por aí vêm desta inteligência. Planejamos antes do Pan que este equipamento viesse de acordo com a nossa necessidade para depois dos Jogos. Temos uma sala de centro de crise onde herdamos todo o equipamento para ainda montar no terceiro andar.
Burocracia
Ganhar, nós ganhamos os equipamentos, o problema é que ficou uma comissão para fazer a passagem, mas mudou o secretário Nacional de Segurança e mudou a comissão. Já estamos no terceiro desde que assumi! Agora é que nós começamos a nos reunir. Dia 14 teremos a segunda reunião. Temos um número substancial de câmeras para espalhar pela cidade e ligar com os batalhões de suas respectivas áreas. São em torno de 300 que vão se espalhar. Mas não sei ainda quando teremos elas funcionando, pois aí vem o serviço público. Vou recebê-las e depois licitar a instalação delas. Aí vem uma empresa que se sente prejudicada, entra na Justiça, consegue uma liminar. É complicado.
Salários da PM
O policial militar ganha pouco, muito pouco. O governo vai acenar com um aumento mas enquanto isto não acontece, estamos dando salário indireto. O RioCard, a construção dos ambulatórios para a PM na Zona Oeste, a bolsa Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, ação conjunta para capacitar a força policial). Com ela o policial pode se habilitar num curso pela internet e auferir mais R$ 400 mensais. E a Faetec vai fazer cursos de computação nos batalhões.
Corrupção
A corrupção existe e é inegável, mas estamos trabalhando incessantemente no sentido de provar. Temos uma gama grande de denúncias, mas a denúncia é aquela: "fulano me pediu x, me pediu y". Isso só serve para acenar de que a gente vá em cima. Para você ter uma idéia já ultrapassamos aqui, só em 2007, o número de 200 policiais excluídos da PM sumariamente. Agora, o que a gente precisa é de prova.
Milícias
Eu sei onde tem a milícia, mas não adianta ir lá e encontrar um policial armado a paisana. Ele está lá, e daí? Está na folga, está lá, a mãe mora ali, a namorada, um parente. Não posso bater na porta da comunidade e perguntar: ’você paga 10 reais para este pessoa?‘ Se tivesse isto no papel, tudo bem. Então é ônus nosso produzir as provas e agir como fizemos para desarticular aquela milícia (do vereador Jerominho e do deputado estadual Natalino Guimarães), que eu entendo como a mais bem estruturada. É complicado, mas lutamos muito para construir provas com qualidade. E o que tem qualidade demanda tempo.
O Estado de São Paulo Rios amazônicos: naufrágios e uma infinidade de armadilhas flutuantes
Barcos superlotados contribuem para tragédias como a do Comandante Salles, que matou mais de 50 pessoas
José Maria Tomazela
Tragédias como o naufrágio do Comandante Salles 2008, que deixou há uma semana mais de 50 mortos - 46 corpos haviam sido resgatados e pelo menos 10 continuavam desaparecidos até anteontem -, podem voltar a acontecer. Parte da frota que transporta de 30 milhões a 50 milhões de passageiros por ano é composta por verdadeiras armadilhas flutuantes.
São barcos de madeira malconservados e sem equipamentos básicos de navegação, como rádio, que levam cargas e pessoas em excesso. Calcula-se que pelo menos 5 mil sejam piratas, sem registro nas capitanias fluviais da Marinha. Construídos de forma artesanal, muitos não têm estrutura para enfrentar turbulências dos rios e clima amazônicos, sujeitos a tempestades tropicais e mudanças repentinas de vazão. “São como caixas de fósforo numa enxurrada”, resume o comandante do Pelotão de Policiamento Fluvial da Polícia Militar, subtenente Fonseca Paes. É o caso do Comandante Salles, posto para navegar sem ter passado por inspeção. O Estado percorreu, entre quinta e sexta-feira, mais de 100 quilômetros dos Rios Solimões, Negro e Amazonas, a maior parte em barcos dos bombeiros e da PM de Manaus.
Já na partida, no porto da Manaus Moderna, irregularidades eram flagrantes. O navio Ana Maria V estava com tanto peso que a linha d’água ultrapassava o limite de segurança para navegação. Era um barco alto, de madeira, pronto para seguir viagem de sete horas até Orimixá. Empilhada, a carga de bebidas, sacaria e caixas de papelão tomava todo o porão e o convés inferior. Passageiros viajariam na parte superior. “Com uma carga dessas, há risco potencial de tombamento”, disse o subtenente. A carga estava desamarrada e só foi presa na presença do policial. “Veja só, foram comprar o rolo de corda agora.” O conferente Manoel Pinto de Azevedo garantiu que estava “tudo dentro do limite”. Ele mostrou a relação de passageiros que seria entregue à Capitania Fluvial da Marinha. Apesar do fluxo intenso de cargas e passageiros lotando dezenas de barcos, não havia ninguém para conferir planilhas. Em outro barco, a aposentada Maria José Machado, de 56 anos, ajeitava-se nas redes com seis netos pequenos para encarar 15 horas até Urucará. Ela tinha feito a viagem duas vezes e a achava segura, mas ficou assustada com o naufrágio. “A gente entrega na mão de Deus.”
O dono Tito Nogueira de Souza mostrou bóias e coletes salva-vidas “até de sobra”. O problema é a lona plástica que protege as laterais do barco e, em caso de naufrágio, funciona como parede intransponível a quem tenta se salvar. “É para proteger do vento e da chuva”, afirmou.
Outro problema: portas dos camarotes abrem para fora e, em caso de naufrágio, passageiros não conseguem abri-las pela pressão da água. Segundo o comandante, muitos barcos saem com lotação completa do porto, mas param no caminho para pegar mais passageiros. “O pessoal acena do barranco e o barco ou encosta ou reduz a velocidade para ser alcançado pela rabeta (pequena embarcação a motor).” Ele apontou dezenas de pontos de parada entre Manaus e Manacapuru.
No Rio Solimões, outro flagrante de abuso: o barco Suely Gomes transportava pessoas no convés superior. “É totalmente proibido. Um balanço mais forte joga as pessoas para fora e ali não tem bóias e coletes.” Outro barco menor, o Silas, passou com 12 a bordo, todos sem salva-vidas. Uma rabeta com duas crianças era conduzida por um garoto de, no máximo, 15 anos. Havia lanchas da Marinha patrulhando a região, mas os barcos usam furos e paranás, braços de rio, como rotas alternativas para escapar da vigilância. Num deles, o movimento intenso de embarcações incomoda as 50 famílias da Vila Nova, município de Iranduba. O pescador Manoel Veríssimo Rodrigues, de 53 anos, conta que o “banzeiro” - ondas provocadas pelos barcos - balança e estraga o telhado da casa flutuante que divide com a mulher Isabel, seis filhos e uma netinha. “Das 3 às 5 da manhã é muito barco e a casa não pára de balançar.” O movimento se repete das 15 às 22 horas, engrossado pelas balsas boiadeiras que retiram gado das margens alagadas do rio para levar à terra firme. “Os barcos que trazem as crianças da escola quase viram.” Segundo o subtenente, embarcações maiores são obrigadas a reduzir a marcha ao passar em áreas de tráfego de barcos menores, como vilas de pesca. “Ninguém obedece.”
Na noite de quinta-feira, a lancha dos bombeiros cruzou com barcos que trafegavam sem iluminação. Piloto experiente, Paes conta que o Solimões é perigoso: águas avançam sobre as margens e arrancam, além de porções de terra que a tornam barrentas, troncos e capim. Nas partes mais profundas, que chegam a 60 metros, são comuns redemoinhos como o que teria contribuído para o naufrágio do Comandante Salles 2008. Ventos repentinos e tempestades ajudam a desestabilizar as embarcações. A lancha da PM foi uma das vítimas: a manobra rápida do subtenente não conseguiu evitar um tronco que partiu a ponta da hélice, próximo do encontro com as águas do Rio Negro. O tenente Andrey Barbosa Costa, mergulhador dos bombeiros, que participou das buscas dos náufragos, disse que o Solimões é perigoso até para bons nadadores. “Não se vê nada e a corrente pode arrastar para fora do ponto de busca.”
A presidente da Associação dos Armadores do Transporte de Cargas e Passageiros (Atrac), Alessandra Martins, disse que o naufrágio foi uma tragédia anunciada. Segundo ela, há tempos a entidade denuncia as precárias condições do setor por falta de legislação e investimentos públicos. A Atrac anunciou uma greve para a próxima quarta-feira em razão de falta de segurança e do alto custo de combustível. “Nenhum barco vai sair de Manaus”, prometeu.
O Estado de São Paulo Em três anos, mais de 150 mortos em acidentes na região
Dono do barco costuma viajar com a tripulação: “Se reclama do excesso de passageiro, perde o serviço”
José Maria Tomazela
Em pouco mais de três anos, desde 2005, foram registrados 133 acidentes nos rios da Amazônia Ocidental, com um número de mortes superior a 150, incluído o naufrágio do Comandante Salles 2008, no domingo passado. Foram 158 abalroamentos - colisões laterais entre barcos grandes e menores -, 21 colisões frontais e 59 naufrágios. Mortes em naufrágios podem chegar a 130, se somados os desaparecidos no Solimões.
Essa região da Amazônia compreende Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre. Este ano já registra o recorde de 83 mortes, segundo números da Capitania Fluvial de Manaus. Em janeiro, o barco Almirante Monteiro afundou, após colidir com uma barcaça petrolífera, matando 16 pessoas. Em 2007, morreram 18 pessoas, 12 em naufrágios; em 2006, foram 17, 9 em naufrágios, e em 2005, 35 mortes.
O naufrágio do Comandante Salles, com 46 mortes confirmadas e 10 pessoas desaparecidas, pode superar o número de vítimas fatais desde 1999, quando o Ana Maria VIII naufragou, matando 52.
O capitão Paulo Brito da Silva, da Capitania, lembra que a malha fluvial de 22 mil quilômetros são as rodovias da Amazônia, usadas por 35 mil embarcações - 40 mil se consideradas as clandestinas. “A dificuldade é a mesma de controlar a frota de veículos em outras regiões, como no Sudeste”, comparou.
A Capitania dispõe de 550 homens para fiscalizar os rios, o que dá uma área de quase 10 mil km² por militar. Para Silva, o problema não está na falta de pessoal ou equipamentos, mas em aspectos culturais. “O passageiro e alguns donos de barcos, gente que convive com o rio desde o berço, não se dão conta dos riscos.” Ele disse que o piloto é obrigado, sob pena de multa e cassação do registro, a respeitar limites de carga e passageiros. O dono do barco fica sujeito a multa de R$ 40 a R$ 3,2 mil. “Não tem como fiscalizar todos os barcos.” Muitas embarcações carregam e partem sem utilizar as balsas de embarque e desembarque da Capitania para escapar de taxas e fiscalização. “Aqui, cada barranco vira um porto”, diz.
Sobre as condições dos barcos, o capitão lembra que os projetos de construção precisam ser assinados por um engenheiro naval e acompanhados pela Capitania. “Normalmente, o processo é inverso: fazem o barco e querem que seja aprovado.” Como o serviço de transporte fluvial não é regulamentado, as empresas têm pouco interesse em investir no setor.
Silva conta que geralmente o dono do barco viaja com a tripulação, o que tira a autonomia do comandante. “Se reclama do excesso de passageiro, perde o serviço.” A Capitania iniciou programa de segurança com distribuição de livretos e campanha em rádio e televisão. Também criou um telefone para receber denúncias.
O inquérito que apura as causas do naufrágio do Comandante Salles 2008 não foi concluído. Silva diz que entre as causas podem estar excesso de carga, tripulação não habilitada e condições da embarcação, sem registro.
O Globo UMA EXPANSÃO SILENCIOSA PELO CONTINENTE
Acossada em seu país, guerrilha colombiana monta rede de organizações de apoio no resto da América
BOGOTÁ. Bernardo é um economista argentino, de não mais que 50 anos, e, entre 1990 e 1996, foi assessor externo da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Depois de fazer uma pequena fortuna, acaba de enviar seu filho mais velho aos Estados Unidos para fazer um curso de piloto.
Já o colombiano Héctor Orlando Martínez Quinto chegou em 2000 à Costa Rica e se casou com uma jovem, o que lhe permitiu obter o visto de residência e ingressar no mundo das frotas pesqueiras, em associação com outro colombiano, Huberth González Rivas, também casado com uma costa-riquenha.
Essas poderiam ser histórias ordinárias de emigrantes latino-americanos, a não ser pelo fato de Bernardo e Héctor Orlando serem dois dos agentes usados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para levar adiante uma nova e silenciosa batalha: expandir-se ideológica, logística e financeiramente pela América Latina.
Membros das Farc se passam por refugiados
Bernardo, dizem fontes do Exército colombiano e das próprias Farc que hoje colaboram com a Justiça, foi o encarregado de penetrar em países do Cone Sul, enquanto Héctor Orlando - autor do massacre de Bojayá (Chocó), em maio de 2002 - se meteu no negócio da pesca na Costa Rica para utilizá-lo como base de troca de cocaína por armas. É a conclusão a que chegou o Ministério de Segurança da Costa Rica.
- A estratégia consiste em enviar a esses países quadros com o disfarce de refugiados, que, uma vez instalados, tornam-se intocáveis e iniciam a ofensiva - assegura um oficial colombiano.
Na Argentina, foram recebidos nos últimos cinco anos 80 refugiados políticos colombianos. Mas quando se indaga sobre seu passado e suas atividades, a resposta oficial do governo é que, ainda que entre eles haja vários membros das Farc, trata-se unicamente de perseguidos ou desmobilizados.
O mesmo padrão se repetiria no Equador, no México e no Brasil. Essa estratégia internacional da guerrilha começou a se gestar em 2002, quando Alvaro Uribe chegou ao poder na Colômbia, com um duro discurso contra as Farc e com as Forças Armadas fortalecidas.
- Por causa da pressão militar, as Farc se viram obrigadas a renunciar à campanha de seqüestros e às grandes ações, com que chegaram a penetrar inclusive em Cali, a terceira cidade mais importante da Colômbia - diz um membro da inteligência militar colombiana.
Naquela época, o Secretariado das Farc optou por iniciar a penetração no resto do continente, que já tivera duas fases, embora pouco produtivas. A primeira, nos anos 80, fracassou por inexperiência. E a segunda foi detida pelo retrocesso do socialismo a nível mundial.
Mas essa terceira fase, coordenada pelos membros do Secretariado Raúl Reyes e Iván Márquez, rendeu frutos. As Farc conseguiram armar uma rede de mais de 400 organizações legais, clandestinas e semiclandestinas que respaldam sua causa, da Argentina até os EUA. Sua ponta de lança foi a Coordenadora Continental Bolivariana (CCB). Não é gratuito que, três dias antes da morte de Reyes, o Segundo Congresso da CCB, reunido em Quito (Equador), tenha aprovado uma resolução de apoio à batalha internacional das Farc para serem tiradas da lista de organizações terroristas e reconhecidas como grupo beligerante.
Na rede de organizações articulada pelas Farc há desde movimentos de revolucionários puros até ONGs defensoras dos direitos humanos, passando por partidos políticos legalmente estabelecidos. A inclusão na categoria de legal ou ilegal decorre do tipo de atividades que desempenham. Se o apoio é apenas ideológico, não há laços. Mas se passa a ser, transformam-se imediatamente em alvo das autoridades. E isso é o que começou a ocorrer com muitas organizações em toda a América Latina. Por exemplo, o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), no Peru, dá respaldo aberto ao discurso das Farc, por ter como coincidência ideológica um acirrado antiimperialismo. Mas, desde 2006, também há indícios de que membros do grupo peruano tenham recebido treinamento militar da guerrilha. A polícia local tem evidências de que as Farc usam a cidade de Iquitos para recrutamento de milicianos e recuperação de feridos, obtenção de armas e tráfico de drogas.
Próximo objetivo é penetrar nos Estados Unidos
Esse limite entre o apoio ideológico e logístico (incluindo-se o tráfico de drogas e armas) e a condição de refugiados por parte daqueles que promovem essas organizações é o que preocupa as autoridades da Colômbia e de outros países da região. Na Cidade do México, por exemplo, chama a atenção que alguns membros das redes bolivarianas têm interesses numa casa de câmbio e em duas empresas.
E no Equador há agentes de ligação, além de o país abrigar acampamentos da guerrilha. Também na Venezuela e na Colômbia, grupos de jovens aglutinados na Cruzada Latino-americana e no Grupo Anarquista foram treinados para manejar explosivos e armas. No Chile, a liderança do trabalho pró-Farc cabe a um refugiado conhecido como Roque, que conseguiu que o Partido Comunista enviasse membros à Colômbia para receberem instrução militar.
No entanto, tudo indica que o principal esforço das Farc esteja encaminhado a estabelecer algum tipo de conexão nos EUA. A inteligência colombiana assegura que as Farc já abriram ali duas bases de trabalho ideológico: uma ONG ambientalista e um centro de estudos. Com todo esse panorama, funcionários da inteligência do governo colombiano admitem que, embora as Farc estejam encurraladas na Colômbia, podem reclamar seu fortalecimento no exterior como seu grande triunfo nos últimos cinco anos.
O Globo UMA EXPANSÃO SILENCIOSA PELO CONTINENTE
Membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)
A maioria sob a condição de refugiados - estão formando desde 2002 núcleos ideológicos, logísticos e financeiros fortes em pelo menos sete países. O Peru serve como provedor de milicianos, armas e drogas; o Equador é um bastião financeiro e refúgio; já Venezuela, Costa Rica e México são locais de lavagem de dinheiro do narcotráfico e apoio ideológico; o Brasil entra na rota das drogas e do fornecimento de armas e a Argentina, como alvo de penetração; os Estados Unidos são o próximo objetivo.
O Grupo de Diários América (GDA), que reúne alguns dos principais jornais do continente e do qual o GLOBO faz parte, juntou esforços para traçar o mapa dessa expansão.
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